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Aramis

40 anos sem Noel

Hoje à noite, o grupo de choros que faz do Marito`s (Rua Emiliano Perneta, 1111), atualmente o mais saudável dos ambientes musicais da cidade, vai modificar um pouco o seu repertório. Ao invés dos temas de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Anacleto de Medeiros, Alaor de Oliveira (a melhor flauta do Sul), Arlindo Santos (o único violão de sete cordas da cidade), Janguito do Rosário (cavaquinho) e Bento(bandolim), estarão apresentando uma seleção das melhores músicas de Noel Medeiro Rosa (1910-1937), cujo 40.º aniversário de morte transcorre hoje. Mário Trevor Júnior, seresteiro e proprietário da casa, homem que sabe muitas histórias da MPB, aproveitará para contar algumas estórias sobre o Poeta da Vila - que não conheceu pessoalmente, mas que em compensação é um de seus ídolos. *** É uma pena que o Noel Rosa Futebol e Melodias, original agremiação fundada há 5 anos, por um grupo de saudáveis boêmios musicais freqüentadores de um bar na Rua Voluntários da Pátria, não tenha sobrevivido a distensões internas. Entre 1972/73, o clube chegou a ter uma estrutura e até uma etílica sede, nos fundos de uma pizzaria na Rua Comendador Araújo. Mas se a rapazida era boa de ritmo não tentava em termos administrativos e o clube acabou gorando, apesar dos esforços do jornalista Milton Ivan Heller, fá maior de Noel Rosa e que assessorava a entidade. Uma tentativa de reagrupar o clube, para um show no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (em 1972, a rapaziada chegou a fazer uma temporada no Paiol) também foi frustada. *** Desde domingo que, a propósito da data, Noel Rosa vem sendo lembrado, pois afinal é ainda um compositor atualíssimo, cujas músicas dizem muitas verdades. Noel teve muitos parceiros - Ismael Silva, Custódio Mesquita, Henrique Brito, Lamartine Babo, Ary Barroso. Renê Bittencourt. Francisco Matoso, Orestes Barbosa, João de Barro e tanto outros. Mas foi com o pianista paulista Vadico (Osvaldo Gogliano, 1910-1962), que faria alguns de seus maiores clássicos, entre os quais "Feito de Oração" , "Feitiço da Vila", "Conversa de Botequim" e "Pra Que Mentir". Curiosamente, há alguns meses, apareceu em Curitiba um cidadão que se identificando com o apelido de Vadico e dizendo-se compositor, enganou incautos, que acreditaram como o parceiro de Noel, ao ser apresentado a uma pessoa que sabia ter o verdadeiro Vadico morrido há 15 anos passados, ouviu essa afirmação: - "Muito prazer! Afinal sintome-me emocionado em ver a materialização de um grande compositor". Depois disso, o falso Vadico não falou mais em Noel Rosa. Mas continua dizendo que é compositor, "autor' de músicas (de outros autores) como "Pirata da Perna de Pau" e "Chiquita Bacana" (João de Barro/Alberto Ribeiro) e "Aurora" (Mário Lago/Roberto Roberti). *** Hoje, no Rio de Janeiro, a Editora Francisco Alves está lançando a 2.ª edição de "No Tempo de Noel Rosa", de Almirante (Henrique Foreis Domingues, 69 anos), editado originalmente em 1961). Agora em edição de luxo, fartamente ilustrado, contém as letras de todas as músicas de Noel. Por tudo o que realizou na MPB, Almirante é uma figura histórica: cantor, compositor e, sobretudo, o primeiro pesquisador de nossa história musical, reunindo um acervo preciso, hoje no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, mas que continua a ser por ele dirigido. A bibliografia sobre Noel é ainda pequena - pois afora o depoimento de Almirante, existem apenas dois livros de seu primo, o poeta Jaci Pacheco ("Noel Rosa e sua Época", 1955; "O Cantor da Vila", 1958, ambos esgotados).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
04/05/1977

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