Login do usuário

Aramis

Acordeonistas

No momento em que Claude Nobbs, o todo poderoso diretor artístico do Festival de Jazz de Montreaux, Suíça, entusiasmou-se com a apresentação de Oswaldinho, filho de lendário Pedro Sertanejo - veterano compositor, produtor e acordeonista da área rural, e o convidou para atuar em Montreaux, em julho último, houve mais um reconhecimento do acordeão. Antes de Oswaldinho que fez há 2 anos um belo lp na Copacabana ("Natureza"), outros executantes deste instrumento marginalizado por faltas elites, já haviam sido reconhecidos. Afinal até os Beatles, no auge da fama se interessaram por Luiz Gonzaga, Hermeto Paschoal múltiplo instrumentistas é adorado por alguns círculos musicais nos EUA e Sivuca passou mais de 15 anos nos EUA, tocando tanto acordeão como piano. João Donato, tecladista refinado, começou tocando acordeão e inúmeros outros exemplos poderiam ser citados. O acordeão, em suas variadas matrizes e gêneros está a merecer uma revisão critica, trabalho de fôlego que uma apaixonada por acordeonistas como a jovem e bela Maria da Gloria se propõe a fazer - e que esperamos realize. O acordeon pode ser tanto o melancólico instrumento na mão de um musico francês, ou o incendiário condutor de um pelejante forró. E a música não urbana, tão necessária de uma revaliação crítica, o tem ao lado do violão/viola caipira, como instrumento básico. Que o diga uma série de acordeonistas populares, que sem alcançar o status de Oswaldinho e Dominguinhos (o chamado "acordeonista pop") em reconhecimento pelas "elites" urbanas, desenvolvem, entretanto, um excelente trabalho. Ainda agora, a WEA entrando na área rural, ofereceu o nostálgico lp de Zé Maringá interpretando valsa, conforme aqui registramos na semana passada. Outra multinacional, a CBS, em seu selo Uirapuru, dá destaque a acordeonistas como Genário ("Na Penumbra do Fifó"), executando composições próprias ou de Dominguinhos, puxado para um estilo romântico, enquanto que Abdias, veterano produtor e acordeonista, a exemplo de Pedro Sertanejo, em seu "Do Jeito que Meu Pai Tocava" apresenta Marquinhos, seu filho, num elepe onde a musica titulo é uma composição de Dominguinhos, homenagem a estas duas gerações de fieis executantes de instrumento. Mas é a Continental/Chantecler, com seu nacionalismo repousado, em termos econômicos, na música não urbana, que dispõe de um amplo elenco de acordeonistas. Só este ano, Gerson Filho, comemorando 25 anos de atividades artísticas, teve dois elepes editados, com um repertório basicamente de forró, composições quentes, de fácil comunicabilidade - e que encantam as faixas mais humildes. O gaúcho Nardeli ("Arrastando a Espora") procura um repertório mais sulino, considerando a penetração deste estilo de música instrumental no Cone Sul. Em contrapartida Nhôzinho ("Feira de Mangaio") procura a linha mais nordestina, abrindo com a musica-titulo do grande Sivuca e prosseguindo com uma série de composições próprias. O estilo sulino volta a ser percebido em "Baile no Ranchão" com Voninho, que inclui gêneros até um tanto estranhos como "chamanés" (Barrio Calderon), mas centrando sua intervenção especialmente em xotes, polcas e arrasta-pé Manoel de Elias e seus 9 baixos, contratado pela K-Tel atua de forró em "A Gafieira do Mané", enquanto "Pagodão do Perigoso", com um acordeonista-compositor denominado Perigoso - também contratado da K-Tel, tenta um pouco de humor nas 12 faixas deste elepe. São vários e múltiplos os estilos - e, sem preconceito, é importante observar as sutilezas e as diferenças dos acordeonistas de cada região. Instrumentistas populares, de público fixo e que oferecem uma contribuição interessante ao nosso mapa musical. LEGENDA FOTO 1-Gerson Filho LEGENDA FOTO 2 - ABDIAS. LEGENDA FOTO 3 - ZÉ MARINGÁ.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
26
26/10/1980

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br