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Adalice denuncia mais um escândalo cultural

A polêmica entre duas professoras das áreas de artes plásticas - Adalice Araújo e Mara José Justino, ambas da Universidade Federal do Paraná, em torno da exposição "Tradição/Contradição", veio mostrar mais alguns aspectos da infelicidade que caracteriza o "trabalho" do Museu de Arte Contemporânea, uma das unidades vítimas do desgoverno na área cultural. Adalice Araújo, respeitada crítica de artes plásticas, professora, cursos no Exterior e que há anos desenvolve um trabalho regular no Paraná, levantou justas considerações em relação a omissões na lamentável mostra organizada no MAC, apontando falhas e fazendo lúcidas restrições a um dos textos de José Justino, pernambucano, há alguns anos em Curitiba, publicado no catálogo da mostra. xxx Independente da copiosa argumentação de parte a parte, envolvendo escolas e artistas plásticos do Paraná, a polêmica mostrou o vigor com que Adalice Araujo defende seus pontos de vista. Ao mesmo tempo, Adalice fez denúncia a Associação Profissional de Artistas Plásticos do Paraná com relação a desmandos cometidos pela sra. Elisabeth Titton, diretora do Museu de Arte Contemporânea - que não só procurou boicotar e prejudicar seu trabalho de pesquisa, como tornou insustentável o relacionamento com aquela unidade. Adalice argumenta, estribada em seu passado de pesquisadora de quem há 20 anos estuda as artes plásticas não só no Paraná mas também em Santa Catarina (tema aliás de uma tese de mestrado) as omissões imperdoáveis cometidas na mostra "Tradição/Contradição", num verdadeiro desrespeito a artistas contemporâneos e do passado - incluindo a João Pedro, o Mulato - o primeiro artista paranaense que tem notícia; Heronio, discípulo de Mariano de Lima; Jakuski; Egio Tonti; josé Daros; os Woiski; os Seagesser; os Kirchgasner; Franz Hochnloe; Ben Ami, Amaury Brandt, entre inúmeros outros. Também artistas representativos do Interior foram ignorados na montagem da exposição, num desrespeito da Secretaria da Cultura e Esportes (diretamente responsável pela exposição) com importantes comunidades do Estado. Assim, como denuncia Adalice, "houve total ausência de representantes de Guarapuava que conta com Sonia Kopp e Alba Condessa; de Foz do Iguaçu que tem entre outros Alvarenga, um escultor de grandes qualidades; de Rolândia, que conta com a magnífica e esquecida escultora Edith Stremlow; de Ibiporã com um escultor muito representativo que é Henrique Aragão". nomes e cidades que devem serem anotados, especialmente porque demagógica a infeliz Secretaria da Cultura e Esportes - cancro da administração peemedebista - vive alardeando a interiorização (sic) de seus projetos. xxx Na carta de 6 páginas encaminhada a Associação Profissional de Artistas Plásticos do Paraná, Adalice aponta inúmeras incoerências em relação a exposição "Tradição/Contradição", bem como denuncia a falta de educação com que foi tratada junto ao MAC, indesculpável para uma pesquisadora atenta a nossas artes plásticas, há mais de duas décadas desenvolvendo um trabalho honesto e regular - reconhecido inclusive em plano nacional. Assim, no ítem 19 de sua carta denúncia, Adalice lembra que "na medida em que pesquisadores sérios que colocam o melhor de si para serem porta vozes dos artistas plásticos transformam-se em motivo de chacota pública por parte de uma entidade oficial, está se repetindo no dia a dia, após tantos anos, a mesma autofagia que foi imposta a um Mariano de Lima ou a um Bakum. De mais a mais esta safra de pesquisadores tipo Maria José Justino, mais preocupadas com política universitária do que com pesquisa de campo não reúnem as mínimas condições de levarem adiante a pesquisa sobre Arte Paranaense com o objetivo de publicar uma História de Arte no Paraná (caso eu não possa concluí-la), salvo, evidentemente se, no futuro, colocarem a pesquisa em primeiro plano". xxx No tópico final de sua corajosa carta, Adalice Araujo diz: "Dada a gravidade dos fatos que estão ocorrendo com o órgão que dirige a política oficial de artes plásticas no Estado do Paraná, venho solicitar a Associação de Artistas Plásticos do Paraná que tome uma posição junto a Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, porque é inadmissível que às vésperas do ano 2.000 tenhamos de suportar atitudes ditatoriais, injustiças e perseguições como acontece neste momento. Para qualquer pessoa de bom senso, preocupada em analisar fatos em vez de rotular pessoas indiscriminadamente, salta aos olhos a vergonha do que está ocorrendo em nossa cultura. Até quando teremos que usar camisa de força e sermos amordaçados? Até quando ficaremos indefesos, tendo que enfrentar manipulações de todo tipo? Até quando teremos que ficar sem o apoio de um órgão que lute pela classe? Que futuro nos espera? Será que em futuro próximo as obras dos artistas que trabalham com linguagem experimental irão para "Exposições Dearte Degenerada" como na época do Nazismo ou terão o destino dos artistas russos como Malevitch, que nas suas aulas era proibido de falar e cujo fim-real ninguém conhece? "
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
13/07/1986

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