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Aramis

Adeus, Arnaldo

O assassinato frio, brutal, incompreensível à luz da razão, do industrial Arnaldo Fontana parece vir, de uma forma trágica, confirmar o velho adágio de que os bons morrem cedo. Ou, como disse Ernest Hemingway (1898-1961) " aos que trazem muita coragem neste mundo, o mundo quebra a cada um deles e eles ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo mata-os. Mata os muitos bons, os muitos meigos, os muitos bravos - imparcialmente. Se não pertenceis a nenhuma desta categoria, morrereis da mesma maneira, mas não haverá pressa nenhuma em matar-vos". xxx Mais do que a tristeza e o vazio que a morte de Arnaldo Fontana trouxe aos seus amigos - após uma semana de preocupações, desde o seu desaparecimento, na tarde de quinta-feira, dia 6, e a brutalidade do crime. Jovem, inteligente, amigo legal e integrando aquele grupo de pessoas que parecem ter sido privilegiadas pela tranqüilidade que cercava sua vida, a morte de Arnaldo faz refletir na efemeridade de nossos dias, na estupidez da nossa luta diária. Porque Arnaldo, um moço sincero, sem inimigos declarados, foi o escolhido para enfrentar esta "aventura horrível e suja", que é a morte, nas palavras de Albert Camus? Arnaldo, o bom e terno, que a morte não podendo quebrar, levou com terrível pressa, no ano 29 de sua vida. Uma vida de trabalho, de estudo, de amizades leais. Perguntas doídas que não encontram respostas. xxx Há pouco mais de duas semanas jantando conosco, Arnaldo falava com entusiasmo dos musicais - uma de suas paixões no cinema. E dizia que Hollywood através da tela do cine Opera criou um mundo mágico para as crianças dos anos 50. Ele que, todas as quartas-feiras, com sua mãe e irmãos, vinha assistir aos musicais da MGM nas coloridas vesperais, numa época em que a cidade não tinha assassinos brutais como os que, há uma semana o tiraram deste nosso pequeno mundo. Muito se poderia falar de Arnaldo. Do industrial bem sucedido, do filho amoroso, do homem responsável, do intelectual brilhante, do critico cinematográfico inteligente e satírico, que apesar de uma colaboração bissexta, marcos seus (poucos, infelizmente) comentários em O ESTADO, fazendo aumentar mais a admiração que por ele seus amigos - que são muitos - tinham. A tristeza e a certeza de que as palavras pouco adiantam agora, só nos fazem sentir ainda mais a sua partida desta forma tão inesperada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
14/02/1975

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