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Aramis

Adolfo, Suzana e Claudia, três mostras respeitáveis

Definitivamente, o mercado de artes plásticas no Paraná é uma conquista. Em menos de um década, as galerias se multiplicaram e com uma generosidade também dos espaços oficiais se há algo que não falta na cidade são os locais para exposições. Com isto, ao lado de talentos emergentes e consagrados, abre-se também as portas da promoção (e do aparecimento), para gente ainda despreparada e que, numa Capital na qual existisse maior rigor crítico e de seleção, jamais chegaria a discutíveis individuais e mesmo coletivas. Mas há a natural seleção e da quantidade sai a qualidade, de forma que o boom de exposições deve resultar os talentos reais, aqueles que realmente permanecerão. Só que até isto acontecer, assiste-se a um festival de vernissages, mais para o chaplineano do que para uma real importância plástica. Necessário, portanto, destacar as exposições que realmente são importantes - e que mesmo, muitas vezes, esquecidas dos esquemas badalativos da vida social/mundana (que passou a se apossar das anteriormente marginalizadas artes plásticas), surgem com vigor e criatividade. xxx Por exemplo, ontem, quinta-feira, houve a abertura de uma exposição original, instigante e de grande importância em termos de trazer informações ao público: as obras do artista chileno Adolfo Faundez (Bernardo e Bruni, Alameda Dom Pedro II, 390), cuja vinda a Curitiba deve-se, especialmente ao empenho da executiva Maria José Santos, mulher inteligente e sensível, que conhecendo seus trabalhos, está lhe abrindo as portas não só no Brasil mas mesmo no Exterior, em países nas quais tem grandes contatos. A exposição de Faundez se estenderá por um mês numa das mais sofisticadas lojas-galerias do bairro do Batel, apresentando dois aspectos de seu trabalho realizados nos últimos meses (em que tem residido em São Paulo), bem como uma retrospectiva de sua fase no Chile. Ligado a Arquitetura, influência importante de sua formação, Adolfo Faundez iniciou a estruturação de seu processo de expressão a partir de sua vivência na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade do Chile, na qual foi professor até 1973. Tanto as obras da visão retrospectiva que Faundez expõe agora em Curitiba como as desenvolvidas em São Paulo, a partir de 1983, se submetem ao marco referencial teórico que marcou seu trabalho plástico e tocam aspectos pontuais de um trabalho global - que pretende mostrar, ainda mais amplamente, numa nova exposição em Curitiba, dentro de quatro meses, com patrocínio da Fundação Cultural. Nessa oportunidade reunirá seu trabalho pictórico, do qual a exposição do Batel forma parte, em uma mostra que se intitulará Atmosferas combinadas. Adolfo Faundez vai mais além em seu projeto: em conjunto com o Curso de Arquitetura da Universidade Federal quer desenvolver um referencial da plástica arquitetônica de Curitiba. xxx Outra exposição importante: a de Suzana Lobo (Casabrannka, Rua Teixeira Coelho, 133), inaugurada na noite de terça-feira, com a presença de uma legião de amigos que tanto estimam a bela artista. Curitibana com larga temporada carioca - formou-se pelo Instituto de Belas Artes, onde foi aluna de Iberê Camargo, Clau Deveza e Manoel Santiago - Suzana vem fazendo individuais há 19 anos. Dirigindo o atelier livre do Museu Guido Viaro, tem estimulado muitos talentos, graças a sua didática inovadora e forma pessoal de despertar o talento natural de cada aluno. A obra de Suzana também é original, tendo há alguns anos, inovado na forma dos quadros - substituindo a rigidez da forma do quadrado pelo círculo numa libertação que hoje tem sido levada, por outros artistas a projetos audaciosos - como é o caso de Carlos Eduardo Zimmerman, que vem desenvolvendo telas gigantescas, nos mais estranhos formatos. xxx Uma terceira exposição que merece atenção é a da bela Claudia Guimarães (Bico de Pena-Espaço de Arte, Alameda Dom Pedro II, 24), inaugurada há 10 dias. Curitibana, 22 anos, concluindo agora a Escola de Música e Belas Artes, Claudia passou pela Escola Alfredo Andersen, atelier do Museu Guido Viaro (sendo, assim, também discípula de Suzana Lobo), praticou gravura no Solar do Barão e escultura com Alvo Benito Damo no Centro de Criatividade. Após uma dezena de coletivas, nas quais conseguiu bom destaque, faz agora sua primeira individual. Detalhe que merece destaque: seu curriculum muito bem montado, num portfolio esclarecedor, assim como o catálogo da mostra é um exemplo de bom gosto e acabamento gráfico. Ivens Fontoura, da Coordenadoria dos Museus da Secretaria da Cultura, diz que o seu trabalho é puro, "desde o planejamento e a organização de seu atelier até a produção de tudo o que faz: sempre estruturando e com elementos capazes de quebrar a rigidez da própria estrutura...". xxx De todos os artistas plásticos do Paraná, o mais bem sucedido continua sendo Érico da Silva, 57 anos, catarinense de Itajaí, ex-vitrinista e decorador, hoje um nome de conceito nacional. Érico produz tudo que vende e tendo conseguido reunir material para uma individual na Acaiaca, não deu outra: em poucos dias, todos os quadros foram vendidos. E as telas do bom Érico estão cada vez mais valorizadas. LEGENDA FOTO 1 - Suzana: inovando nas formas. LEGENDA FOTO 2 - Claudia Guimarães: organizada. LEGENDA FOTO 3 - Adolfo: plástica arquitetônica. LEGENDA FOTO 4 - Érico: bem sucedido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/10/1987

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