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Aramis

Afinal, chance de ver o "MacBeth" de Welles

Na vida de Orson Welles (1915-1985), repleta de fatos notáveis, curiosos e dramáticos, cada um dos filmes que realizou - a partir de "Cidadão Kane" (1941), ainda a imbatível obra-prima do cinema (permanece há cinco décadas no consenso de melhor e mais inovador filme já produzido no cinema americano) - merece um livro à parte. Não é à toa que Welles tem um bibliografia a seu respeito que ultrapassa em muito sua filmografia (12 longa-metragens) - toda sofrida, calejada, difícil e, relativamente, desconhecida. Apesar de alçado às alturas pela crítica aos 26 anos de idade por "Cidadão Kane", teve que lutar sempre para fazer seus próprios projetos - e para a sobrevivência atuou em dezenas de filmes menores, muitas mediocridades e chegando, melancolicamente, ao final da vida, transformado até em garoto propaganda de um vinho californiano em comerciais de televisão. Hoje, "Cidadão Kane" tem seguidas reapresentações e até uma edição nacional em vídeo foi feita deste clássico - infelizmente tão mal copiada que a distribuidora (Aragão Filmes) parece ter se retirado do mercado. Em compensação, uma das mais ativas distribuidoras do país, a Herbert Richers, atendendo à sugestão feita por 40 jornalistas especializados na área de cinema programou seu "MacBeth" como o primeiro lançamento de um pacote de tesouros esquecidos da subestimada Republic, do produtor Herbert B. Yates, que com sua linha de Farwests classe "c", seriados, propiciou, entretanto, que alguns diretores ali realizassem grandes obras, recusadas pelos grandes estúdios. Foi o caso de "MacBeth" - que agora sai em vídeo selado, com o subtítulo de "Reinado de Sangue", que Welles aceitou dirigir em 1948, dentro de um orçamento e prazo mínimos. Uma produção que lhe trouxe muitas dores-de-cabeça. "MacBeth" não foi tão difícil quanto outra tentativa shakespeareana - "Othelo", rodado no Marrocos, numa produção arrastadíssima e tão difícil que iniciada em 1949 só ficaria concluída em 1952, quando entusiasmou críticos mas - destino da maioria de sua obra - ficou esquecida pelo público. A paixão de Welles por Shakespeare - autor que já recitava em sua infância - levou a empenhar-se até o final da vida para desenvolver outros projetos como "Crimes da Meia-Noite" (Falsfatt), rodada em etapas, transformado num filme que mesmo com o toque de sua genialidade permanece, até hoje, praticamente desconhecido. Tema para uma longa reportagem - que a imprensa nacional vem dando atenção - a edição de "MacBeth" em vídeo (em Curitiba, uma das poucas locadoras que já tem a cópia é a Disc-Tape, de Luís Renato Ribas) se constitui no mais importante fato cultural em vídeo do ano - formando assim, ao lado de lançamentos e filmes de Frederico Fellini de início de carreira ("A Trapaça", 1955, "As Noites de Cabiria", 1956) e do clássico dos clássicos em termos de westerns - "Os Brutos Também Amam" (Shane), 53, de George Stevens (1904-1974), o que de melhor saiu nos últimos meses. LEGENDA FOTO - Orson Welles, 1949: "MacBeth - Reinado de Sangue", um filme-cult, desconhecido no Brasil, finalmente agora ao alcance de todos em lançamento pela Herbert Richers Vídeo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
3
04/11/1990

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