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Aramis

Afinal, está chegando a boa música instrumental

Não se deve exagerar o otimismo, mas parece que após invernos (e verões) com a falta de boa música, algum som aparece no final do túnel: a reabertura do Paiol com um espetáculo fino, que se pode até classificar de camerístico - com Olívia Bynghton, cantora personalíssima cuja voz pode ser definida como de punhais de cristal em nuvens de algodão e os teclados perfeitos de João Carlos Brasil, foi um programa emocionante no último fim de semana. E, dentro de uma programação que, promete Gilmara Samways, da Movimento Sonoro Produções Artísticas, com todo o carinho cuida do Projeto Esquina, tem amanhã, em apenas uma sessão (18h30, Teatro do Sesc, Rua Visconde do Rio Branco, 969), um espetáculo imperdível: o recital instrumental de quarteto formado por Mauro Senise (sax/flautas), Marinho Boffa (teclados), Luís Alves (contrabaixo) e Pascoal Meireles (bateria). xxx A qualidade do espetáculo de Olívia Bynghton e João Carlos - mesmo com as goteiras do Paiol - foi maior que a chuva torrencial que caiu na sexta-feira e no sábado - e assim, um bom público pôde aplaudir, em pé com maior entusiasmo, a melhor música. De Egberto Gismonti a Assis Valente, com direito a meddley de Villa-Lobos, Olívia e João Carlos mostraram a perfeição da voz-teclados num recital visto até agora apenas por pequenas platéias no Rio Jazz (Rio de Janeiro) e em São Paulo - e que com entusiasmo de Mário Aratanha, da Kuarup, deve ganhar forma de disco - embora a Continental (na qual Olívia fez seu último lp, 1987, um dos melhores daquele ano), também esteja interessada em editá-lo. João Carlos Assis Brasil, 43 anos, irmão gêmeo do inesquecível jazzista Victor (1945-1981), formação clássica na Europa, acaba de gravar para a Kuarup, o primeiro de uma série de álbuns com peças inéditas deixadas por seu irmão - que morreu jovem demais, deixando mais de 500 obras para as mais diferentes formações (orquestra, conjuntos de cordas e metais, solistas etc.). A temporada de Olívia e João Carlos no Paiol marca também a estréia de Júlia Peregrino, ex-assessora da divisão de música Popular da Funarte e ex-Embrafilmes, na área de agenciamento artístico: ela é quem trará bons nomes da MPB que, quinzenalmente, estarão tentando fazer com que o Paiol volte aos seus bons tempos: nos dias 14 a 16, o duo formado por Clara Sverner (piano) e Paulo Moura (clarinete/saxofone) e, duas semanas depois, Nara Leão/Roberto Menescal. Que a programação tenha sucesso! xxx Espécie de "Pixinguinha" em que intercala música erudita e popular, o Projeto Esquina, patrocinado pelo Sesc e, localmente, organizado pela Idealiza e Movimento Sonoro, tem um calendário ativo - deslanchado a partir de março. Amanhã, uma apresentação da melhor música instrumental brasileira: Mauro Senise e seu colega do grupo Cama de Gato, o baterista Pascoal Meirelles - mais o excelente baixista Luís Alves e um tecladista-revelação em 1987 (quando fez seu primeiro lp, pela 3M) - Marinho Boffe, formam o grupo que estará apresentando um espetáculo de músicas inéditas, de autoria dos próprios músicos, Mauro Senise, 39 anos, 19 no caminho musical, tem trabalhado com os melhores nomes da MPB e, no Cama de Gato, fez o grupo deslanchar - hoje internacionalmente, após a bem sucedida apresentação no Town Hall, em Nova Iorque, no dia 11 de março. Versátil, Senise não fica apenas com aquela formação e a prova é esta apresentação no qual embora com Pascoal (também do Cama), se integra a Boffa e Luís Alves, baixista habitualmente trabalhando com o pianista Luisinho Eça. Um programa musical indispensável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/04/1989

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