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Aramis

Afinal a Schaffer renasce. Renasce?

Depois de marchas e contramarchas, problemas técnicos e financeiros - e com um atraso de mais de um ano, finalmente as obras de reconstrução do antigo prédio da Confeitaria Schaffer, no número 420 da Rua 15 de Novembro, se aproximam do final. Dentro de dois meses, as lojas deverão estar em condições. A reconstrução do prédio, onde por décadas existe uma das mais tradicionais confeitarias da cidade, deveu-se à soma de esforços de um grupo de pessoas entusiastas, que conseguiu sensibilizar alguns setores e levantar recursos, que mesmo insuficientes para cobrir todas as obras, não deixa de ser significativo como exemplo. Poucos dias após o incêndio da Schaffer, em outubro de 1978, o Clube de Criação de Curitiba, então presidiu pelo publicitário Sérgio Mercer, iniciava uma campanha em favor da reconstrução do prédio. Três idealistas (e competentes) arquitetos - Rafael Dely (hoje presidente da Cohab-Ct), Zenon Pesch e Ricardo Pereira, fizeram, gratuitamente, o projeto e, com auxilio de 3 bancos e uma rede de televisão, levantou-se os recursos que deveriam cobrir a construção de um novo prédio, de 1.500 metros quadrados, três pavimentos. Entretanto surgiram problemas técnicos: as fundações começaram abalar os velhos prédios vizinhos, a infra-estrutura teve que ser redimensionado e a empreiteira (Guilherme Mendes Pereira) acabou desistindo da obra, sendo somente há pouco o seu contrato revogado. A Urbs, que bancou empresarialmente a administração, contratou então Irmãos Thá S/A, que, com experiência no ramo, promete concluir a obra em 60 dias. O irônico aconteceu há alguns dias: Bube, o proprietário da Confeitaria Schaffer (que funciona já há mais de um ano nas proximidades da antiga Rodoviária) não estaria mais interessado em retornar ao antigo ponto, fazendo uma série de alegações. Ou seja, a principal motivação da reconstrução do prédio não teria estimulado sequer aquele que deveria ser o seu maior interessado. A locação dos espaços paralelos (apenas 200 metros quadrados foram reservados à confeitaria) exigirá especial cuidado da Fundação Cultural de Curitiba, que, de mão beijada, ganhará os alugueis dos espaços comerciais. O projeto previu espaços para um minicinema de arte(120 lugares),galeria de arte, piano-bar e algumas lojas sofisticadas, além de um << sebo >>, espalhados pelos três pavimentos. Teoricamente, tudo perfeito, mas na prática espera-se que os erros acumulados nas experiências anteriores não se repitam agora. Afinal, o bar que ocupa uma área vizinha a Casa Romário Martins (<< Bebedouro >>) paga um aluguel quase simbólico, embora seja uma das casas que até há pouco mais faturavam (e só perdeu a freguesia devido a interdição da praça da Ordem aos automóveis). Na Praça Rui Barbosa, a reconstrução do Teatro de Bolso, em dimensões lilipulianas, é um caso de se perguntar << e o contribuinte, onde fica? >> (aliás, até agora ninguém explicou qual a solução que se dará para aquele teatro, sem condições de funcionar devido a forma com que foi construído). xxx A intenção de devolver à Rua XV de Novembro um prédio capaz de abrir centros de animação- confeitaria, piano-bar, um minicinema, << sendo >> de livros etc. - não poderia ser das mais felizes. Afinal, aquela que foi a Rua das Flôres e da Imperatriz, hoje está cada vez mais desvirtuada disvirtuada da filosofia de << ponto de encontro >> (nunca é demais lembrar o exemplo da << Cinelândia >>, hoje totalmente descaracterizada). A iniciativa que Mercer e seus companheiros da diretoria do Clube de Criação tiveram há 2 anos, o apoio entusiástico de Rafael, Pereira e Zenon, mais de Lídia Dely e de Ennio Marques Ferreira (na época presidente da Fundação Cultural) devem ser lembrados. Mas também se deve ater que simplesmente entregar um espaço que custou alguns milhões de cruzeiros a atividades que podem ser descaracterizadas, pela falta de competência de quem de direito, é um risco muito grande. E como diz a sabedoria popular, de boas intenções o caminho do inferno está repleto.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
08/06/1980

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