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Aramis

Afinal, vamos provar o Sonho de Valsa da Ana

O cinema brasileiro ocupa espaço privilegiado dentro da amplíssima programação do IV FestRio (19 a 28 de fevereiro) não só através de dois filmes em competição - "Sonho de Valsa", de Ana Carolina (que será exibido no sábado, 21) e o documentário "Memória Viva", de Octavio Bezerra (programado para sexta-feira, 27) - mas também do "Panorama do Cinema Brasileiro" com longas metragens recentes, além de filmes nas mostras paralelas e três curtas em competição: "A mulher Fatal Encontra o Homem Ideal", de Carla Camurati, "Cidadão Jatobá", de Maria Luísa Aboim e "O Bebê", de Ana Maria Magalhães (os três, já premiados no XX Festival de Cinema Brasileiro de Brasília). xxx A grande expectativa é em torno de "Sonho de Valsa", que completa uma trilogia intimista e feminista da bela Ana Carolina - iniciada com "Mar de Rosas" (1978) e que prosseguiu com "Das Tripas Coração" ( 1982). Já em abri, quando do XV Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, anunciava-se a participação deste filme. Na hora final das inscrições, houve o cancelamento sob alegação de que o mesmo não estava ainda completamente sonorizado. Para o II Festival do Cinema Brasileiro de Fortaleza (agosto), "Sonho de Valsa" foi oficialmente anunciado pelo diretor da mostra, Pedro Jorge de Castro. Não sendo competitivo, aquele festival reuniu os melhores filmes nacionais do ano e a grande expectativa era o filme de Ana Carolina. Só que 12 horas antes de sua apresentação, por telefone, de Los Angeles, Ana disse que o filme não teria condições de ser exibido - tendo sido substituído por "A Cor do Seu Destino", de Jorge Duran. "Sonho de Valsa" também deveria ter representado o Brasil no Festival de Veneza, em setembro. Só que neste caso, foi a Embrafilmes [Embrafilme] que boicotou a cineasta, não enviando a tempo a cópia. Além desta grosseria, a diretoria da empresa ainda a agrediu verbalmente, provocando revolta da comunidade cinematográfica. Para a I Mostra do Cinema Latino-Americano do Paraná (Curitiba, 4 a 10 de outubro) também se tentou trazer o filme de Ana Carolina. Mas nestas alturas, ela já tinha decidido, aconselhada por expertes em promoção (especialmente Rose Carvalho, sua assessora de imprensa) a reservar seu tão aguardado filme para o FestRio: caso não fosse selecionado para representar o Brasil, ao menos teria uma sessão especial. Experiente profissional na promoção cinematográfica, Rose impediu qualquer sessão prévia de "Sonho de Valsa", vetando inclusive a divulgação de cenas do filme. Só agora, confirmado o filme para o FestRio, as fotos foram liberadas e quem conhece a organização e o bom relacionamento de Rose, sabe que a cobertura que o filme terá será grande - independente de sua classificação. xxx Paulista de família tradicional, Ana Carolina (Teixeira Soares), 41 anos, 20 de cinema (começou fazendo a co-direção do curta-metragem "Lavra-Dor, em 1967) é uma personalidade fortíssima. Depois de dirigir 4 curta-metragens, ter sido assistente de Cacá Diegues no documentário "A Construção de Brasília", dirigiu o episódio "Salada Paulista", em 1973. Fez documentários sobre Getúlio Vargas e Nelson Pereira dos Santos, estreando na ficção em longa-metragem com "Mar de Rosas" - que participou de inúmeros festivais e colecionou importantes prêmios. A partir dos próprios títulos de seus filmes, Ana Carolina é uma cineasta de imaginação e que não deixa de transmitir uma feminina ironia. Em "Sonho de Valsa" (a Lacta, fabricante do chocolate com este nome, chegou a tentar proibir o uso do título), há poucos intérpretes: Xuxa Lopes, vinda de atuações teatrais e que já havia participado em "Das Tripas Coração", Arduino Calossanti, um dos atores de maior atividade nos anos 60/70 - mas ausente das telas nos últimos anos e Ney MatoGrosso, o cantor em sua estréia como ator dramático. Dois jovens atores, ambos vindos do grupo Asdrubal Trouxe o Trombone e do Teatro do Despertar, também ganharam papel de destaque em "Sonho de Valsa": Daniel Dantas, 33 anos e Paulo Reis, 28. A fotografia é de um mestre: Rodolfo Sanchez, 43 anos, consagrado com as imagens de "O Beijo da Mulher Aranha" de Hector Babenco e "Vera", de Sérgio Toledo. A música é de Milton Nascimento, mas também utilizando trechos de peças de Ravel, Strauss e Mendelsson. Ana Carolina é definida como uma mulher que está para o cinema brasileiro como Clarice Lispector para a literatura e Adélia Prado para a poesia. Portanto, "Sonho de Valsa" é o filme-expectativa neste FestRio, em termos de cinema nacional. O outro concorrente, em longa-metragem, do Brasil, "Memória Viva" é um documentário sobre Aloysio Magalhães, que ocupava a Secretaria de Assuntos Culturais do MEC, quando morreu, em Veneza, há 5 anos. Dirigido por Octavio Bezerra, este filme procura discutir a memória cultural brasileira e foi muito elogiado nas sessões especiais em que foi apresentado até agora. LEGENDA FOTO: Ana carolina ao lado do fotógrafo Sanches dirige uma cena de "Sonho de Valsa", o filme que representa o Brasil no FestRio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/11/1987

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