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Aramis

Agora a vanguarda chama-se John Zorn

No ano passado, a moda foi curtir - com atraso de muitos anos - Tom Waitts, especialmente depois que apareceu como ator no "Daunbailô" de Jim Jamurschi. Este ano, parece que o modismo será a curtição em torno de John Zorn, 34 anos, saxofonista novaiorquino, que com seu lp "Spillane" (WEA) chega junto a um público urbano, de faixa entre 24/35 anos, que se interessa pelas inovações sonoras. Independente da veiculação (difícil) de algumas faixas em algumas FMs que tenham programação mais aberta ao novo, a grande mídia para fortalecer as propostas de vanguarda de Zorn é mesmo a imprensa. Já ganhou página inteira do "Caderno B" d' "O Estado de São Paulo" e destaques da "Veja" e "Isto É", entre outras publicações nacionais. Luís Antonio Giron, resumiu a questão: "Zorn não pode ser chamado de músico de jazz, nem mesmo de compositor de vanguarda. É um outsider dos generosos, aventureiro sonoro em pleno "pôr-do-século". Têm a competência de planejar suas composições comparável à de Edgard Varése - compositor franco-americano que descortinou a engenharia sonora pós-moderna, feita de citações em fragmentos irreconhecíveis a ouvidos conservatórios - e faz com que a música de Philip Glass pareça uma ladainha infantil tocada num realejo eletrônico". Exagero? Qual o quê! John Zorn, amparado em músicos que se identificam a suas propostas - e que vão desde o blues-man Albert Collins ao The Kronos Quartet (de cordas) - desenvolve verdadeiros projetos, em que todos os sons são válidos. O tema que dá nome ao disco é uma homenagem ao escritor policial Mickey Spillane (Brooklyn, Nova Iorque, 9/3/1918), criador do detetive Mike Hammer, que apesar de ter tido a sua época de sucesso, jamais chegou aos pés dos private eves desenvolvidos por Raymond Chandler (1888-1959) - Philip Marlowe, ou Dashiel Hammeth (1894-1961) - Sam Spade. Mas isto não importa, pois em 18 minutos e oito músicos-parceiros, homenageiam a Spillane, iniciando justamente com um grito de mulher - no melhor estilo de suas histórias. Já "Two-Lane Highway" é teoricamente uma proposta em torno do bluesman Albert Coline, com o próprio na guitarra e voz. Declarando-se ter uma formação eclética - ouvindo de Ornete Coleman e Varese, Ennio Morricone e Kurt Weill, saxofonista a partir de 1974, apaixonado por filmes B e quadrinhos, Zorn identificou-se também no Japão, que visita regularmente há três anos. Isto explica a longa faixa "Forbiden Fruti" - com a voz da japonesa Ohta Hiromi acrescida ao quarteto de cordas Kronos. John Zorn é, no mínimo, um toque de renovação dentro de um panorama musical que se desgasta com extrema maturidade. Se o minimalismo de Philipe Glass já está hoje absorvido - e chegando até a ser usado em trilhas da/classificada que se tem em "Spillane" é importante para se ouvir, curtir e discutir - deixando-se que a sensibilidade e a cabeça de cada um a receba como achar melhor. Mesmo correndo o risco de faturar como modismo, não se pode ignorá-la.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
24/07/1988

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