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Aramis

Alecir levou fandango ao I Canto das Águas

"Louvação à Chimarrita", um fandango de Alecir de Antonina - de todos os compositores-intépretes paranaenses, o que mais se preocupa com a preservação e divulgação do folclore paranaense - foi a canção representativa de nosso Estado no I Canto das Águas do Mel, realizado no último fim-de-semana na cidade de Iraí (479 km de Porto Alegre). Idealizado por Hermes Garcia dos Santos, há três anos - quando da realização do I Acorde Brasileiro, ocorrido na praia de Tramandaí, também no Rio Grande do Sul, o evento não teve caráter competitivo mas, basicamente, uma amostragem dos ritmos das diferentes regiões brasileiras. Para tanto, Hermes Santos percorreu todo o Brasil, num esforço tão grande que, há três semanas, sofreu um enfarte - o que o impossibilitou de ver de perto sua realização. xxx A exemplo do Acorde Brasileiro, que teve organização do pesquisador, cantor e compositor Edson Otto, ex-diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, o I Canto das Águas do Mel proporcionou também um encontro de vários integrantes da Associação dos Pesquisadores de Música Popular Brasileira. Reunidos durante três dias, pesquisadores como Paulo Tapajós e Roberto Moura do Rio de Janeiro; Leonardo Dantas Silva, de Recife; Maria Augusta Calado, de Goiás, João Carlos Botezelli, Inezita Barroso e José Wanderlei Corsini, de São Paulo, e os gaúchos Glênio Fagundes, Paixão Côrtes, Gilberto Carvalho e Edson Otto - entre outros, expuseram e discutiram teses como o Arquipélago Cultural Brasileiro: o Colonialismo Cultural; Recuperação e fortalecimento dos valores culturais como preservação da memória cultural brasileira e a importância dos meios de comunicação como força motivadora e difusora da autenticidade cultural. Também participante ativo, levando, inclusive, uma comunicação sobre o desenvolvimento da cultura nativista no Paraná, o radialista e pesquisador César Setti, editor da página Galpão da Estância (edições dominicais de O Estado do Paraná), teve destacada atuação. Além de sua presença nas exposições e debates, César transmitiu pela Rádio Clube Paranaense o show de encerramento - com a participação de Paixão Côrtes, grupo Os Farrapos e o cantor Adauto Santos, de São Paulo. xxx Aliás, dentro da preocupação de mostrar um painel musical brasileiro, foram selecionados 12 composições regionalistas que fazem parte de um elepê, produzido por Gilberto Carvalho, da etiqueta Quero-Quero, já prensado mas que ainda não circulou devido a capa não ter ficado pronta a tempo. Alecir de Antonina participa desta gravação com sua "Louvação à Chimarrita". As demais faixas, mostrando diferentes ritmos brasileiros, são as seguintes: "O Ver-o-peso", carimbó de Nazaré e João Ribeiro, interpretado pelo grupo Vaianga, de Belém do Pará; "Nas Caatingas do Sertão", xaxado de Amazam e Marco Antônio, interpretado pelo grupo Tropeiros da Borburema, de Campina Grande, Paraíba; "Coisa Pernambucana", frevo de Nascimento do Passado, interpretado pela Orquestra de Frevo da cidade de Recife e grupo de passistas da Escola de Frevo Nascimento Passo, de Olinda, Pernambuco; "Morrendo de Saudade", forró de Genésio Tocantins e José Medeiros, de Maceió, Alagoas; "O Luar, o amor e uma viola", seresta de André Castro e Jaime Hasse, interpretado pelo grupo de seresta musical Terra Verde, de Belo Horizonte, MG; "Fazenda Bebedouro", catira de Marreco e Tião Aleixo, interpretada pelo grupo Catireiros e Americano do Brasil, de Goiás; "Coração Cuiabano", rasqueado de Zuleika Arruda e Vera Baggeti, interpretado pelo grupo Sarã, de Cuiabá, MT; "Arrebento de um Príncipe", indígena/sacro de Moacir, Chico Lacerda e Jairo Lacerda, interpretado pelo grupo Acaba, de Campo Grande, Museu da Imagem e do Som; "Sinherê", samba/partido/alto de Nei Lopes, interpretado pelo autor e grupo do Rio de Janeiro e "Chasque para Dom Munhoz", milonga de Airton Pimentel e Gasper Machado, interpretado por José Cláudio Machado, de Porto Alegre. xxx Reunida informalmente, a diretoria da Associação de Pesquisadores da MPB, aprovou uma revisão dos estatutos, adequação a lei Sarney e criou um prêmio especial a ser concedido em eventos de finalidades culturais como a realização em Iraí. Assim, entre os grupos que ali se apresentaram, o distinguido foi o Acaba, de Campo Grande, já com elepê gravado - e que traduz em suas músicas as raízes daquele Estado, conforme destacou o pesquisador José Octávio Guizzo. Autor de um livro sobre a música popular em Mato Grosso, Guizzo, 51 anos, advogado da turma de 1962 da Universidade Federal do Paraná - o que o faz ter profundos vínculos com Curitiba (onde esteve, de passagem, nesta semana), apresentou robusto estudo sobre a música de Mato Grosso, que tem uma nova geração de compositores-intérpretes como Almir Sater, Geraldo Espíndola, Paulinho Simões, Carlos Coman, Celito e Tetê Espíndola, Guilherme Rondon e grupo Acabba que "vem marcando a história de nossa recente MPB e o som que produzem começa a adquirir contornos próprios, fisionomia própria, enfim uma linguagem regional emergente".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/10/1989

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