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Aramis

Alguns homens grandes que escrevem para os pequenos

Na literatura infantil ocorre, aparentemente, uma espécie de matriarcado. Da informação especializada, através do sério trabalho desenvolvido por jornalistas que se dedicam ao setor (Ana Maria Machado, Fanny Abramovich, Paula Saldanha, Laura Sandroni, entre outras) às autoras, só homens perdem em número. Entretanto, isto não significa que os escritores também não se voltem, vez por outra, ao fértil território das crianças. Eis alguns positivos exemplos de autores de livros infantis. FERNANDO LOBO, 70 anos - a serem completados no próximo dia 26 de julho, veterano jornalista e letrista de clássicos da MPB ("Zum-Zum", "Chuvas de Verão", "Saudade", "Nega Maluca" etc), tem também escrito estórias infantis. Uma delas, "O Menino e o Trem", foi inclusive adaptada para um disco de sucesso, já lançado duas vezes pela Polygram. No ano passado, um novo livro infantil de Fernando - "Peixinho, O Menino do Frevo" (55 páginas, capa de Augusto Rodrigues, Cr$ 6.900) mostrou sua nordestina sensibilidade. Dedicado a todos os meninos pobres das ruas de Recife, que encontram no frevo sua alegria, "Peixinho" conta a estória de um menino vendedor de ilusões, que realiza seu próprio sonho no final feliz. Suave e musical como devem ser os livros infantis, traz uma mensagem de esperança para os nossos jovens de agora: aos que trabalham e sonham. LUIZ (INÁCIO DE MIRANDA) JARDIM, 84 anos, é outro pernambucano (de Garanhuns) que tem dedicado parte de sua obra as crianças. Consagrado artista plástico - seus desenhos são famosos internacionalmente - tem uma representativa obra infantil. Em 1937 já obtinha o primeiro e o segundo prêmios no concurso de Literatura Infantil do MEC, respectivamente pelo "O Boi Aruá" e "O Tatu e o Macaco". Autor de um romance ("As Confissões de meu tio Gonzaga", 1949), tradutor de Arthur Miller ("A Morte do Caixeiro Viajante"), em 1958 voltou a receber uma premiação - no caso o Monteiro Lobato, da Academia Brasileira de Letras, por "Proezas do Menino Jesus", obra que já se encontra em 18ª edição pela José Olympio (120 páginas, Cr$ 3.260). o volume tem capa e belíssimas ilustrações do próprio autor e uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, em que o grande poeta diz que "Jardim escreveu o mais azul, o mais cantante e dançarino livro de estórias para toda sorte de crianças, inclusive as enrugadas e calvas". Outro belíssimo livro de jardim é "Aventuras do Menino Chico de Assis" (inspirado na vida de São Francisco de Assis), agora em 112ª edição pela José Olympio, mesma editora de seus outros livros infantis. WALMIR AYALA, crítico de artes plásticas, poeta, romancista, jornalista, dramaturgo é também um apaixonado pela literatura infantil. Gaúcho de Porto Alegre mas morando há mais de 30 anos no Rio de Janeiro, Walmir é incansável escritor. Há pouco foi reeditado seu deliciosos "A Toca da Coruja" (Editorial Nórdica, 80 páginas, Cr$ 4.900), com ilustrações de Emílio Canosa. A criatividade é grande nesse livro que numa linguagem informal oferece ao leitor muita ação alternada com momentos de lirismo. SIDÔNIO MURALHA, poeta e intelectual português residiu muitos anos em Curitiba, sendo hoje nome de uma biblioteca da Fundação Cultural. Em boa hora, a Nórdica lançou a 5ª edição de "TV da Bicharada" e a 7ª edição de "A Dança dos Pica-Paus", dois primorosos livros de poesias que Sidônio dedicou ao público infantil. Sidônio era um mestre em se comunicar com as crianças e "TV da Bicharada" recebeu o primeiro prêmio da 2ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo. SÉRGIO FONTA é autor de "Passageiro da Estrela" (Livraria José Olympio, 73 páginas) - que recebeu o prêmio leitura no 10º Concurso Nacional de Dramaturgia Infantil. Sérgio Fonta, ator dos mais conhecidos, assim justifica sua opção pela literatura infantil: - "Escrever para criança é tarefa difícil e delicada. Vou criando em minha máquina de escrever, companheira de todas as horas as pessoinhas que caminham, mais tarde, pelos livros e peças que crio. Como os personagens de "Passageiros da Estrela". SHIYOZO TUKUTAKE é um nissei natural de Bastos, 51 anos. Faz cinema de animação e efeitos especiais para comerciais de tevê, além de histórias em quadrinhos e charges. Agora entra na área infantil com uma fascinante fábula moderna em defesa do homem e de seu planeta - "A História de Nicolau Matoso da Selva" (iluminações de Rogério W. S., 96 páginas, Cr$ 4.900, Nórdica). Um livro de profunda mensagem ecológica, que tem um esperto macaco herói/anti-herói. Delicioso livro, que mereceu da atriz Cacilda lanuza, coordenadora do grupo Seiva, entusiástico elogio: "Um canto sensível de amor a natureza". LEO BUSCAGLIA é autor de "A História de uma Folha" que, pelo título, parece um livro para crianças. Mas na verdade, trata-se de uma verdadeira lição de humanidade dedicada "a todas as crianças que já sofreram uma perda permanente e a todos os adultos que não encontraram uma maneira de explicá-la" como diz no prefácio. Ilustrado com belíssimas fotografias coloridas. "A História de uma Folha" (tradução de Pinheiro de Lemos, 32 páginas, Cr$ 9.500, Record) conta todo o ciclo de vida pelo qual passa uma folha, desde seu surgimento na primavera, passando pelo outono até sua morte no inverno. A linguagem utilizada pelo autor é simples, porém de rara sensibilidade e extremo lirismo, chegando a ser comovente em muitos diálogos. É o quarto livro de Buscaglia, cujos livros anteriores, "Amor", "Assumindo a sua Personalidade" e "Vivendo/Amando e Aprendendo" também foram editados no Brasil pela Record.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
22
03/03/1985

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