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Aramis

Alice no país das abelinhas

Há 20 anos, quando seu campo de interesse se concentrava basicamente no folclore - época em que participou ao lado da professora e musicóloga curitibana Rosely Velloso Roderjan de vários congressos e seminários - Ignez de Oliveira e Silva publicou um interessante livro de 90 páginas sobre crendices ligadas a condições climáticas: "Sol e Chuva, Casamento de Viúva". Há alguns anos, desenvolveu outro trabalho interessantíssimo - de certa forma o ponto de partida para sua tese de mestrado e, agora, doutorado: uma pesquisa intitulada "Abelinhas numa Diligente Colmeia: Domesticidade e Imaginário Feminino na Década de Cinqüenta", que resultou num dos capítulos do livro "Rebeldia e Submissão: Estudos sobre a Condição Feminina", organizado por Albertina Oliveira Costa e Cristina Bruschini (Editora Vértice / Fundação Carlos Chagas, 1983, 250 páginas). xxx É interessante - especialmente para as atuantes feministas de nossos dias - conhecerem esta pesquisa desenvolvida por Alice Ignez, que aliás se diz "feminista ponto final, e nesse sentido subscrevo lutas, bandeiras, reivindicações". Mas faz, porém, um reparo: - "Há uma diferença entre a militante feminina e as feministas que se dedicam principalmente à pesquisa e reflexão sobre a condição feminina. Acredito que o papel dessas é problematizar, redefinir as questões que são colocadas pelas militantes. A finalidade não é retroceder, dar um passo atrás; ao contrário, a preocupação deve ser sempre no sentido de avançar as discussões". xxx Como pesquisadora da condição da mulher, Alice Ignez soube entender a importância do suplemento dominical que um "Clube das Leitoras", do suplemento feminino "O Jornal", publicação dos "Diários Associados", no Rio de Janeiro, criou no início dos anos 50. O clube, que surgira como um espaço para fomentar o intercâmbio de riscos, receitas, moldes entre as leitoras, ocupando menos de uma página, não tardou a crescer. Cresceu tanto que em 1957 um novo suplemento foi lançado, circulando às quintas-feiras, destinado exclusivamente aos assuntos do clube. As sócias criaram um jargão próprio - se autodenominavam "abelinhas" e se referiam ao clube como "a nossa colmeia" e veneravam a jornalista Elza Marzullo, criadora e editora e que Alice Ignez está tentando contatar para gravar um depoimento a respeito. As reportagens ou relatos enviados ao clube contando das reuniões que promovia nos bairros, nas dependências, nos salões paroquiais, etc., tinham uma linguagem peculiar. Diziam, por exemplo, "as abelinhas juntas logo começaram a zumbir, fabricando o nosso precioso mel", referindo-se aos maridos como "abelinhas" e ameaçavam lançar mão de seu "ferrão", quando alguma coisa as desagradava. As abelinhas se espalhavam por todo o Brasil, caravanas eram organizadas em visitas às sócias das cidades vizinhas e até mesmo a outros estados. "E para as comemorações do clube, o Maracanazinho era o espaço possível de dar conta do grande número de sócias", informa Alice Ignez, acrescentando: - "O que torna o clube notável é o fato de tudo isso ser construído em torno da identidade de donas de casa, dos saberes e competências domésticas. O clube era um fórum que ampliava o discurso de uma categoria que tem sido pensada como isolada, inarticulada, invisível. O clube das abelinhas veio também permitir a construção de uma nova identidade para as sócias, além de seu status social e familiar, já que elas eram conhecidas por pseudônimos e se individualizavam e até se estabilizavam a partir de suas especialidades e competências (a que fazia bolos confeitados; a artesã dos bichinhos). Quanto a sua visão deste aspecto singelo sobre a mulher brasileira, diz a professora Ignez: - "Parti da certeza de que as contribuições enviadas pelas sócias podem ser vistas como uma forma de discurso - eloqüente do ponto de vista histórico, social, ainda que pareça hermético por falta de metodologia ou de um instrumento adequado para analisá-lo. E é nisso que quero continuar trabalhando, ou melhor, estou fazendo tentativas, aprendendo a analisá-lo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/05/1990
Gostaria de saber se tem alguem que foi leitora deste jornal e principalmente o suplemento feminino quisesse fazer contato pois eu tenho alguns exeplares desta parte artesanato e receitas.
Olá, Estou respondendo com quase um ano de defasagem, pois só agora tive conhecimento da tese sobre o Clube das Leitores. Eu fui sócia mirim e me correspondi com várias meninas da minha idade e até mais mocinhas. Hoje tenho 60 anos e ainda lembro com saudade desta época. Temos de cumprimentar Elza Marzullo por sua iniciativa de conectar tantas mulheres de todo o Brasil, para tratar de assuntos de seu interesse, como um perfeito ORKUT dos anos 50. Ana Maria Alves Leandro Rua dos Franceses, 391 - 3o. andar - cep 01329-010 - São Paulo - SP
Eu também fui sócia desse saudoso jornal me parece que usava o nome de Lenice-Riodades, minhas irmães também eram sócias assíduas contribuiram muito na parte de artesanato, uma usava o nome de Piscina Azul e a outra não me recordo já falecida se chamava Luza. Que bom recordar esse tempo.

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