Login do usuário

Aramis

"Alice", a nova jóia de Woody Allen

Woody Allen em cartaz é sempre prova de que a inteligência existe. Seu antepenúltimo filme - já tem uma longa inédito pronto e outro em produção, como sempre - chega com todo o vigor: "Simplesmente Alice"(Cine Ritz) é a melhor estréia nesta semana, que traz também outro filme de visão indispensável: "Jesus de Montreal", (Luz), de Denis Arcand, que valeu o Grande Prêmio Especial do Júri, em Cannes em 1989. Há ainda a reprise - quase com sabor de estréia para uma nova geração - do explêndido "As Aventuras de Tom Jones", (Groff) que há 28 anos levava os Oscars de melhor filme, direção (Tony Richardson), roteiro adaptado (John Osborne, baseado no romance de Henry Fielding), e música original (John Addison). Naquele ano, concorriam filmes como "Terra do Sonho Distante" (Elia Kazan), "Como O Oeste foi Conquistado" (que acaba de sair em vídeo-selado) e até "Cleópatra". Alice no mundo de Allen - Depois de transformar "Crime e Castigo" de Dostoieweski numa obra antológica - "Crimes e Pecados" - o sempre genial Woody Allen foi buscar no inglês Lewis Carrol (Charles Lotwidge Dogson, 1832-1898), em sua obra mais conhecida - "Alice no país das Maravilhas" (1865) a idéia central para as sua nova-iorquina "Simplesmente Alice. Voltando ao mundo mágico que lhe permite unir sonhos, fantasias e poesia - nos céus (e terra) da Big Apple - como já havia feito em "A Rosa Purpura do Cairo", Woody Allen faz de uma simples dona de casa, solitária e frustada, uma personagem que ganha nova dimensão em seus sonhos de uma paixão proibida. Décimo primeiro trabalho com seu marido Woody Allen, Mia está, mais uma vez, maravilhosa numa personagem construída com a ternura, empatia e simplicidade como o diretor de "A Era do Rádio" tão bem sabe fazer. Seja ao mergulhar em águas profundas - como no denso "Crimes and Misdemeanors" ou nos bergmanianos "Interiores", "Setembro" e "A Outra" - ou permitindo-se a leveza inteligentíssima do humor em que coloca os temas mais importantes de nossa época (a solidão humana, a busca do encontro, o receio da morte etc.) "Alice" insere-se ao lado de "Hannah e suas Irmãs" e, especialmente, "Purple Rose of Cairo" como uma jóia magnífica - de visão indispensável. Como em "Zelig" ou no episódio "Oedipus Wrecks" de "Contos de Nova York", o surrealismo adquire momentos de magia - como o vôo que Alice faz sob os céus de Nova York nos braços de um amante da juventude, já morto - mas que como em "Ghost - O Outro Lado da Vida" volta a Terra pelo amor. Só esta seqüência já vale múltiplas revisões de "Simplesmente Alice", que, como sempre, tem uma trilha sonora perfeita com os mais belos temas dos anos 30 a 50 selecionados por Allen -, e um elenco ótimo (Alec Baldwin, William [Hurt], Joe Mantegna, [Cybill] Sheperd, Bernadette Peters etc.) e a fotografia inspiradíssima de Carlo Di Plama. Melhor estréia da semana e, seguramente, um dos dez melhores filmes do ano. Com "O Declínio do Império Americano", o cinema canadense mostrava o seu vigor no festival de Cannes em 1896 - ali obtendo o prêmio da crítica. Dois anos depois, o júri oficial reconhecia o talento de Denis Arcand, lhe dando o Grande Prêmio [pelo] sua humana e inovadora revisão da maior história de todos os tempos - em "Jesus de Montreal". Numa parábola em que cristo é recrucificado (e morto) numa encenação da Via Crucis ao ar livre - "Jesus de Montreal" é emocionante, com profundo apelo religioso - embora possa provocar polêmicas - e que traz imagens de uma cidade pouco usada (até agora) como cenário - na magnífica fotografia de Guy Dufaux. O elenco é desconhecido no Brasil - Lothaire Bluteau, Cathetine Wilkening, Remy Girard (que esteve em Fortaleza, no FestRio-89, quando o entrevistamos) e Johanne Marie Tremblay. Também um filme de visão obrigatória nesta semana. xxx Atenção com os horários de cinema: a Fucucu modifica o horário de exibição e com isto o público do Luz, Groff, Ritz e Guarani é prejudicado. LEGENDA FOTO - "Jesus de Montreal", uma revisão inteligente da maior história de todos os tempos: a morte de Cristo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
17
12/07/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br