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Almino, autor de boas idéias e seu romance

Há algumas semanas registramos que a coincidência de seu primeiro romance - "Idéias para onde Passar o Fim do Mundo" (Brasiliense, 208 páginas), ter sido lançado em fins de outubro do ano passado, quando sua esposa, a artista plástica Bia Wouk encontrava-se em Curitiba, dando a luz a sua primeira filha, impediu que o diplomata e escritor João Almino pudesse cuidar de uma noite de autógrafos por aqui. Agora, quatro meses depois do livro ter saído já existem mais de trinta textos publicados em jornais e revistas, não só no Brasil mas também no México, enaltecendo o livro de João Almino como uma das mais importantes obras da ficção brasileira dos anos 80. Diplomata de carreira, atualmente em Brasília mas com breve transferência para cargo de grande importância em algum país do primeiro mundo (afinal já deu sua quota de sacrifício, morando dois anos no Líbano), João Almino por certo verá este seu romance lançado em inglês, francês e outras línguas, recebendo críticas internacionais. xxx Riograndense do Norte de Mossoró, 37 anos, João Almino é autor de um clássico da literatura política, "Democratas Autoritários", análise atualíssima sobre os constituintes de 1945. Publicou mais quatro livros, entre os quais "O Segredo e a Informação" e "A Idade do Presente", é colaborador regular dos mais importantes suplementos literários (como o "Folhetim"), mas é com este "Idéias Para Onde Passar o Fim do Mundo" que obtém uma repercussão nacional. Professor de Ciência Política na Universidade de Brasília, onde mora atualmente, após ter passado por Paris (1977/80), Beirute (1980/82) e México (82/85). Este seu romance foi iniciado há 10 anos, quando ainda morava, pela primeira vez em Brasília e a idéia foi desenvolvida, pouco a pouco, em cada uma destas cidades, como diz em sua própria nota biográfica: "Ali, em Paris, começou a atual versão deste romance, que sobreviveu às bombas de 1981 em Beirute. Dois anos de guerra, de 1980/82, o ajudaram a dar o molho apocalíptico. O México (1982-85) acresceu a magia. E o ponto final ocorreu em Brasília, onde moro há três anos." Ficção científica? Um roteiro cinematográfico? Uma nostálgica visão de Brasília? A própria ensaísta e professora, Walcine Nogueira Galvão, no prefácio, levantou a questão: a que gênero pertence o livro. E ele chega a falar em "des-romance". Isso porque, como ela mesma diz, o texto dedica-se a reconstruir a história das relações entre as personagens que a compõe. Deonísio da Silva, escritor e professor universitário, que já viveu em Curitiba e hoje reside em Campinas, em sua análise (O Estado de São Paulo", 18/10/87) foi mais simples: "O romance é uma doideira muito bem construída. Há conflitos e lutas, incluindo brigas pela tomada de poder... de narrar". Régis Bovicino, da "Isto É" (18/10/87) foi dos mais entusiastas: "Apoiado numa trama imaginosa e um tanto apocalíptica, como já antecipa o próprio título da obra, Almiro produz, na verdade, um ensaio crítico e criativo sobre a cidade de Brasília. Mais do que cenário desta narrativa, que em muitos momentos lembra um roteiro incompleto de um filme, a capital da República acaba transformando-se na sua personagem principal, a falar através da voz da vida e do desespero das personagens". Assumidamente lembrando "Braz Cubas", de Machado de Assis - o personagem morto volta para contar a história, dando várias reviravoltas na trama com um approach político - em torno de um primeiro presidente negro do Brasil - o romance de João Almino é livro para múltiplas interpretações. O embaixador Raymundo Souza Dantas foi um dos que se entusiasmou com esta proposta inovadora de ficção de João Almino: "é sem dúvida, um dos melhores livros de autor brasileiro, nesta safra muito pobre de bons livros nacionais. Exige várias leituras, inclusive de caráter político". Na "Veja", uma frase que o define muito bem: "uma reflexão bem-humorada sobre os limites entre a realidade e a fantasia". xxx Pela afinidade com Curitiba - afinal sua esposa, Bia Wouk é um bicho do Paraná que há muito já tem projeção nacional - João Almino ainda quer fazer o lançamento do livro por aqui. O que pode atrapalhar será sua nomeação para um novo cargo, no Exterior, a qualquer momento. LEGENDA FOTO - Bia Wouk
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/03/1988

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