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Aramis

Alto astral para mostrar o que fazem os videastas

A maior dificuldade do júri do I Festival Nacional de Vídeo de Vitória foi estabelecer uma premiação justa inexistindo divisão de gêneros entre os trabalhos concorrentes. O jornalista Amilton Almeida, crítico do jornal "A Gazeta", e um dos idealizadores do evento, integrando também o júri, justificou a concessão de apenas um prêmio maior - Cr$ 3 milhões - para que "o maior número possível de videastas, independentes de divisões estanques, participassem desta primeira edição", já que, em sua esperada continuidade, o regulamento sofrerá necessários ajustamentos. Os demais premiados receberam Cr$ 300 mil cada. Durante três dias, mais de mil pessoas - entre a população, nos cinco auditórios em que houveram projeções dos concorrentes e na sede do Festival, o confortável Hotel Vitória Palace, acompanharam diferentes linguagens nesta nova forma de criação audiovisual, que, especialmente na forma VHS/SVHS, por sua praticabilidade e economia, abre as portas para todas as pessoas, especialmente jovens, que se interessam em chegar a realizações de projetos maiores. Tanto "Cenas de um Sonho Selvagem", de Tiomkim - que já havia sido premiado no Salão Curitiba Arte VII - como "Morte", do mineiro Bruno Viana, foram propostas de ficção, com linguagens oníricas, repletas de imagens e símbolos. "Morte", interpretado por uma única atriz (Kênia Rocha), é definido por seu realizador como "um vídeo de forte influência estética do cinema primordial, quando música e imagem bastam para impressionar e passar uma idéia ao público". "Cenas de um Sonho Selvagem", interpretado também por um único ator - Silvio Stravinski - também tem uma proposta de unir o mundo dos sonhos, com imagens muito bem construídas - o que motivou a que pelo menos a metade do júri defendesse sua premiação máxima - o que só não foi possível devido ao desempate da diretora de "Parahyba, Mulher Macho", em favor do concorrente mineiro. Para o júri popular, representado por membros da comunidade indicados por sindicatos, associações, clubes, etc., que acompanharam toda a mostra, o trabalho mais importante foi um bonito documentário sobre uma vila ferroviária no interior de São Paulo, construída por ingleses no início do século, focalizada por Ana Maria Escalada em "Paranapiaçaba". A mesma cineasta mereceu também uma das três menções honrosas por outro sincero documentário, "Olaria" (as outras duas menções honrosas foram para "Cintas Largas", de Sérgio Moriconi, de Brasília, e "Veritates", do mineiro Sérgio Mollica). "Pintolho", do gaúcho Paulo Kieking Franco - utilizando pintinhos como atores, de extrema comunicação e muito votado no júri popular - ganhou o prêmio especial do júri, que decidiu criar esta distinção em substituição ao prêmio de iluminação. Os cariocas Leonardo Guelmar e Neimyr Guaycurus, com "Fabiana, Eu te Amo" - emocionante documentário sobre a loucura urbana, mereceram a premiação de melhor direção. Pelo requinte, bom gosto e estética das imagens, "Trilhas", das mineiras Mariana Tavares e Paula Pessoa (que concorreram também com o igualmente belo "Vivenda"), recebeu o prêmio de fotografia. Os capixabas tiveram duas premiações: melhor roteiro para "O Assalto", de Tetê Brito e César Chaia - semi-documentário com conotações sociais sobre a infância abandonada - e trilha sonora para "Um Dia de Baixo", de Clóvis Mendes, com uma ótima utilização de vários temas incidentais - em que os solos de baixo acoplados a "Adios Nonino" (Piazzolla) e se integrar no desenvolvimento da estória. Um prêmio especial foi entregue a Distribuidora Tocantins, dos irmãos Edvaldo e Darlene Alves França, únicos a atuarem fora do eixo Rio-São Paulo e que estão editando vídeos de alta qualidade, inclusive três clássicos de Akira Kurosawa ("Os Sete Samurais", na versão integral, "Yojimbo" e "O Trono Manchado de Sangue"), e que, possivelmente, distribuirão nacionalmente o vídeo com os 7 trabalhos premiados no Fenavi.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
26/11/1991

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