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Aramis

Alvorecer Nativista (X)

O movimento nativista gaúcho consolida-se de forma espontânea e autonôma. Embora haja uma natural (e necessária) participação das Prefeituras, basicamente os festivais que se multiplicaram, no Estado, nos últimos seis anos, são resultado de esforços da comunidade. Assim, raros são os que recebem auxílios oficiais do Estado, embora haja um bem organizado Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, até há pouco dirigido por Paixão Cortês, nome maior do tradicionalismo gaúcho, agora trabalhando apenas em seu programa de rádio e preparando novos livros (acaba de lançar um sobre o pioneirismo gaúcho na fonografia). O Musicanto (10 a 14 de outubro, Santa Rosa), de todos os festivais realizados, até agora, no Rio Grande do Sul, nasceu com uma sólida estrutura não só financeira, garantida pelo forte empresariado agroindustrial local, mas também em termos de Know-how. Para isso, contou a experiência de Luiz Carlos Borges. Gaúcho de Santo Angelo, 31 anos, começou com um grupo familiar (ele e dois irmãos), que chegou a gravar dois elepês na Argentina, vendidos apenas na região missioneira. Estudou em Santa Maria, integrou o Grupo Horizonte e, com "Tropa de Osso", destacou-se na 9a Califórnia - e essa canção deu título ao seu primeiro elepê, produzido em 1981 por Ayrton dos Anjos. Em dezembro de 1982, Borges gravou outro elepê, "Noites, Penas e Guitarras", já pela Polygran, que agora lança "Charqueada". Suas atividades como animador cultural o fizeram passar por Santa Maria e São Borja, até aceitar, em 1983, o convite do prefeito Erni Friderichs, de Santa Rosa, para organizar o Musicanto. Concebido para ser um encontro sul-americano de nativismo, o Musicanto já nasceu forte, no ano passado e consolidou-se agora, com a segundaedição, encerrada dia 14 último. Para Borges, a Latino-América é limite: "Queremos fazer do Musicanto um grande congraçamento internacional da música das Américas. Para tanto, em 1985 já esperamos contar com a participação de concorrentes de vários países". Uma organizada estrutura, na qual Borges teve o apoio do vice-prefeito Alcides Vicini e tarefas distribuídas entre uma grande comissão permitiu que Santa Rosa, uma cidade de apenas 50 mil habitantes, pudesse abrigar mais de 10 mil pessoas que chegaram nos dias do festival. Hospedados em residências particulares, clubes, entidades comunitárias etc, além do "Acampamento", no Parque de Exposições, os concorrentes, convidados especiais e jornalistas tiveram uma integração perfeita. Nair Heimerdinger, uma jovem e elegante senhora, de profundas ligações com Curitiba (aqui nasceu sua filha), única mulher na comissão organizadora, dedicou-se tanto ao evento que durante mais de uma semana manteve fechada a boutique que possui na cidade. Ao final, cansada, mas satisfeita, comentava: -"Se é para que a nossa música nativista seja mais conhecida, valeu a pena". XXX Em Uruguaiana, onde a 14a edição da Califórnia da Canção Nativa se realizará de 5 a 9 de dezembro, a organização do festival é do Centro de Tradições Gaúchas Sinuelo do Pago. Lá, a Prefeitura e o Estado não têm a mínima interferência e hoje há uma comissão que trabalha todo o ano para organizar o evento. Possui sede própria e um museu reúne todo o material das 13 Califórnias realizadas: músicas inscritas, fitas de todas as noites do festival, recortes de jornais etc. Aliás, todas as edições da Califórnia da Canção foram editadas em disco. A partir de 1982, a Polygran passou a lançar os álbuns praticamente uma semana após o festival, vendendo mais de 70 mil cópias em um mês. XXX A Califórnia da Canção Nativa nasceu, há 14 anos, da rebeldia de um compositor com relação à não-aceitação de uma música nativista. Colmar Duarte, ao participar do I Festival da Música Popular da Fronteira, viu sua composição "Abichornado" ser desclassificada "por falar muito em temas regionais". Em primeiro lugar, ganhou um bolero e em segundo uma música que falava da fome no Nordeste, "feita por um autor que nunca havia passado de Santa Catarina". Revoltado, decidiu criar um festival nativista e, assumindo a presidência do CTG Sinuelo do Pago, conseguiu "tirar" a primeira edição. Poucas participações e pequeno público. Mas a semente cresceu e deu frutos maiores do que esperados. Ricardo Duarte, irmão de Colmar e que há três anos organiza o festival, diz: - Na primeira Califórnia já apareciam acalantos, lamentos e exaltações. Hoje queremos ter a chimarrita, a rancheira, o tatu e tantos outros ritmos, vestindo roupagem nova e não apenas catalogadas, rotuladas e postas numa redoma na sombra de culto das coisas ultrapassadas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
30/10/1984

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