Amador encanta com a morte de Buck Jones
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de março de 1985
Com toda razão, os mineiros podem estar prosas. Não bastassem os êxitos políticos, na literatura os escritores das Alterosas continuam a aparecer com força total. Um novo exemplo do talento que vem daquele Estado é Paulo Amador com o romance "Quem Matou Buck Jones" (353 páginas, Civilização Brasileira, 1984).
Um parênteses inicial: este romance é o volume 353 da Coleção Vera Cruz, sem favor uma das bibliotecas mais respeitadas da literatura brasileira. Iniciada nos anos 50, quando a Civilização Brasileira pertencia ao editor Enio Silveira, a coleção reúne dezenas, talvez até centenas, dos melhores títulos da língua portuguesa. Autores de diferentes estilos e que passando pela Civilização, tiveram seus romances incluídos nesta coleção - que, felizmente, continua a abrigar bons escritores - do que Paulo Amador é um novo exemplo.
Como fez o argentino Miguel Puig ou o também mineiro Roberto Drummond, Paulo Amador foi buscar num personagem tão caro de nossas infâncias - o herói dos quadrinhos e cinema Buck Jones, o nome título para este livro de clima mágico e envolvente. Uma leitura das mais agradáveis, no qual, com simbolismo, Amador constrói um romance alegórico em que não afirma nem questiona, mas que compromete o leitor nessa perpétua, difícil e obstinada luta contra a opressão.
Mineiro de Diamantina, Paulo Amador situa a ação de sua história numa imaginária localidade da Serra do Espinhaço, Miosótis, onde um povo tranquilo vive sua cultura antiga: vacas pastando, homens tomando pinga e amando mulheres de zonas, meninos se divertindo com dragões de sombra e moças casadoiras tecendo camisolas de renda à sombra de bambuzais. Mas neste ambiente aparentemente paradisíaco, Paulo constrói uma história fascinante, com personagens bem estruturados e de uma leitura que segura desde a primeira página.
Enviar novo comentário