Amazônia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de maio de 1980
Entre saldos positivos da ascensão da cantora Fafá de Belém - hoje num lamentável declínio artístico, em conseqüência dos problemas criados por seu empresário Roberto Livi (o mesmo << inventor >> do mito Sidney Magal) foi a revelação da dupla Paulo-Ruy Barata, como compositor. Paranaense, esta dupla, formada por pai - o jornalista e poeta Ruy Barata e seu filho. Paulo André, compositor, e cantor, tem uma obra que, após lançada nos discos da Fafá, passa agora a ser gravada pelo próprio Paulo André, cujo segundo elepe (<< amazon Rive >>, Continental), com arranjos e regências de João Donato, foi lançado há poucas semanas.
Nos expressivo release-enca te que acompanha o disco, Paulo André é definido como um violonista que, aos 9 anos, já começava a sofrer influências do Carimbó, marambiré, marujada e o merengue, e do outro, por diversos gêneros que variam dos clássicos de Ravel e Debussy às músicas de Cole Porter, << Muito ouvidas nos circos da época >>. Aos 15 anos, compõe sua primeira música, << Rosa Rubra >>, que o transformou no mais jovem compositor censura do País: apresentado num programa de televisão, quase levou o produtor a cadeia. Com << Pra que Chorar, se essa noite vai passar, Rosa Rubra, liberdade vai chegar... >>, Paulo conquistou os 3 primeiros lugares num festival realizado em Belém, em 67, que tinha entre os jurados, outros paraense famoso nacionalmente, Billy Blanco, e Chico Buarque.
<< Amazon River >>, seu segundo lp como compositor-intérprete, é um disco marcante, vigoroso, pelas letras e músicas. São 10 músicas com fortes raízes amazônicas, levando adiante o que já antecipava em seu disco anterior. << Nativo >>, << Amazon River >>, faixa-título, procura retratar uma situação muito comum da Amazônia de hoje: a invasão << por um verdadeiro exército de elegantes cavalheiros-nacionais e estrangeiros-portadores de ilimitado crédito bancário, versadíssimos nas mumunhas da vida social e política, impecáveis ao pronunciar os verbos da língua inglesa e que, um belo dia, sob os mais variados pretextos, tentam nos subornar, querendo nosso apoio ou nosso silêncio para projetos impatrióticos, como o de Jari. Contra este tipo de gente achamos válidas todas as formas de luta, inclusive as da sátira e as do palavrão, muito ao gosto de nosso povo >>, como diz Paulo André, que como seu pai, Ruy Guilherme Barata, é um artísta consciente de sua responsabilidade social. Assim, suas canções não ficam apenas na estréia e emoção, mas provocam a reflexão. Lucidamente, diz: << A minha linha melódica é essencialmente uma tentativa de procurar um caminho amazônico. Não radicalmente, pois minhas inspirações musicais, muitas vezes se voltam para o meio urbano e delas nascem composições que variam desde o bolero a marchas-ranchos >>. Assim, sem viseiras estéticas, mas com bom gosto, Paulo André >>. Assim, sem viseiras estéticas, mas com bom gosto, Paulo André oferece um repertório integro e honesto, com musicas como << Ana Ortiz Y Castellar >>, << Ítaca >> (memórias do exílio), << Noite de Patricá >>, << Paranatingá >> (que dedica a sua avó, Maria José e ao jornalista Fernando Pessoa Ferreira, editor de << Status >> e ex-superintendente do Teatro Guaíra, em Curitiba). Excelentes músicos - a começar por João Donato, nos teclados (e também arranjos), Zé Roberto Bertrani no Obenheim e Minimoog, Chiquito Braga na guitarra e viola, Nivaldo Ornellas no sax soprano e flauta e G e Jamil Joanes e Moacyr Albuquerque nos baixos. Um coral de 8 vozes, ampara, as interpretações de Paulo André. Um belo disco, brasileiríssimo e atual.
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