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Aramis

Angela Ro-Ro volta cantando a paixão.

Com um repertório diversificado e, sobretudo, bom marketing, Simone tem seu habitual disco de final de ano disputando o ranking dos mais vendidos, enquanto Beth Carvalho, num brasileiríssimo álbum com os melhores sambas marca sua estréia pela Polygram - após anos na antiga RCA (hoje BMG/Ariola). Outra vozes femininas também estão na praça procurando espaços específicos. A começar por Angela Ro Ro, que após um interrupção de três anos volta ao disco (Estúdio Eldorado), com sua voz marcante, sofrida, blusística (se não existe, aqui fica o neologismo), como sempre num trabalho apaixonado. Mulher de grandes paixões - não é à toa a comparação a Maysa (em sua fase mais dramática) - Angela Ro Ro é visceralmente emotiva, que se dá em cada interpretação, em cada momento - mas que, por esta entrega tem sofrido muito o que se reflete em sua carreira de altos e baixos. Agora com produção do guitarrista Ari Mendes, que confessa que a acompanha há três anos, Angela selecionou um repertório inédito, com um blues de Tavinho Paes/Arnaldo Brandão com título em inglês - "How Green Was Your Monkey", que, em seu deboche, define ter interpretado "como se estivesse em um bar classe A, arrotando champagne na cara dos caretas". Já "Sempre uma dose a mais" (Lobão/Vernardo Vilhena) é um rock lento e pesado, enquanto "Karma Secular", foi por ela composta em 1986 ("num momento de honestidade desconcertante"). Outra de suas composições é "Viciado em Regras", "um rock swingado com a didática de um aluno rebelde", parceria com Dinho. Outra parceria de Angela é com o guitarrista Ari ("Funk do Negrão"), e a seleção prossegue com um country rock ("Photo Kirlian") e outras composições, nos quais há ironia e poesia "Meu Benzinho", "Rockaby" e "Prova de Amor". Interessante ouvir e sentir Angela, uma mulher tão intensa que marca a compositora/intérprete. xxx Uma das melhores intérpretes de jazz no Brasil é Rosa Maria. Cantora identificada à tradição das blues singers, Rosa até hoje não aconteceu como se costuma falar - e por isto ainda é uma vocalista para pequenos públicos. Agora, Rosa começa a deslanchar com um mix lançado pela Eldorado no qual, dois hits marcantes: o conhedido "California Dreaming" (Jonh Philips / Michelle Gillian) e com Tony Osanah divide a interpretação de uma nova canção de Zé Rodrix, muito bem intitulada de "Summertime II". Como este mix antecipa um futuro elepê, vale como ótimo aperitivo. xxx Mais uma baiana para a MPB: Margareth Menezes, 25 anos, chega em seu primeiro LP (Polydor/Polygram) mostrando-se intérprete de personalidade e garra - méritos que a fizeram destacar-se no show "Banho de Luz" (Projeto Caymmi, 1985). Em 1986 era considerada a revelação do ano em promoção da Rádio Itaparica e neste final de ano sua voz alcança dimensão nacional com um elepê no qual interpreta um repertório diversificado, iniciado com "Uma História de Ifá " e prossegue com "Planeta Africa Brasil" (da dupla Paulo Debétio/ Paulinho Rezende), "Corrente do Amor" (definido com um frevo baiano de Cardan Dantas) e uma balada romântica, "Janela das Viagens", além de contar com a participação de outro baiano em ascensão - Luiz Caldas, em "Devastação", uma espécie de hino ecológico com um refrão para ser ecampado pelo pessoal do Partido Verde: "Quem tem o poder na mão / Deveria dizer não há devastação / Ser um atol / Ser um rol de uma Nação / Ficar ilhado não é solução ! A preocupação ecológica está também em Natureza mãe, de Djalma Oliveira / Tonho Matéria - "Natureza mãe / é natureza mão / Dai-me paz e amor". xxx Com um esquema de mídia, buscando um repertório inteligente e inovador, Dulce Quental em seu novo LP (EMI/Odeon) dá um passo a frente em relação a trabalhos anteriores. Começa com a dupla Arnaldo Antunes/Frejat ("Onde Mora o Amor"), traz novos autores - como Humberto Gessinger ("Terra de Gigantes"), divide duas parcerias com Dino Vicente ("Passional" e "Dias de Amor"), mas tem seus momentos melhores ao gravar "Mulher Dividida" de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé ("Numa Praia do Brasil"). São apenas algumas das faixas mais interessantes que buscam o novo, amparados em arranjos avançados. Não chega a segurança de Eliete Negreiros, por exemplo - para nós a grande revelação de 1987 - ou mesmo a Ná Ozetti (a revelação de 88, em termos fonográficos), mas tem garra e presença. LEGENDA FOTO - Dulce Quental: moderninha.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
25/12/1988

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