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Aramis

Antigos sucessos na voz gostosa de Maria Creusa

Uma das maiores preocupações das cantoras(es) está em conseguir repertórios para suas gravações e, em conseqüência, shows. Até os anos 60, raros compositores atreviam-se a gravar suas músicas - entregues aos intérpretes - que disputavam exclusividade. A partir da liberdade que levou os autores a também se transformarem em intérpretes, conseguir músicas novas, inéditas - e de qualidade - passou a ser uma disputa violenta. Nossos melhores compositores são assediados por superstars, numa disputa de Prestígio & Poder para conseguir ter ao menos duas ou três canções de autores como Chico, Milton Nascimento, Djavan etc., em seus discos. Maria Creusa (Silva Lima), baiana de Salvador, 47 anos, durante anos não teve este problema: esposa por muito tempo de Antônio Carlos - que formava dupla com Jocafi - tinha sempre preferência na escolha das músicas da dupla e assim é que desde sua estréia, no excelente "Lunik 9" - gravado em 1968, pela JS, em Salvador tinha canções especiais que a fizeram participar com destaque na fase dos festivais e ganhar projeção nacional. O tempo passou. A dupla Antônio Carlos & Jocafi praticamente acabou e seu casamento com Antônio Carlos também. Enquanto eles ficaram esquecidos no meio do caminho (há anos que não gravam), Maria Creusa conseguiu segurar a peteca e tem um circuito especial para apresentações - clubes, festas sofisticadas, viajando pelo Brasil com relativo sucesso. Fonograficamente, porém, lhe faltava um novo disco o que ganhou há dois meses na Sigla/Som Livre, em produção do competente Roberto Menescal, também responsável por arranjos e regências. O repertório deste "Todo Sentimento", entretanto, ficou nos standards - inclusive alguns desgastados de seu início de carreira, como "Você Abusou" (que foi o grande êxito de Antônio Carlos e Jocafi), acoplado a êxitos de Ary Barroso ("Na Baixa do Sapateiro", "Folha Morta") João Bosco/Aldir Blanc ("Dois Pra Lá, Dois Pra Cá", "O Mestre Sala dos Mares"), Lupiscínio Rodrigues ("Vingança") e Dolores Duran ("A Noite do Meu Bem") além de um dos grande êxitos dos anos de ouro de Doris Monteiro - "Chuvas de Verão" (Fernando Lobo) ou o ufanista "Rio Antigo" (Nonato Buzar/Chico Anísio) e, naturalmente a belíssima parceria Cristóvão Bastos/Chico Buarque que dá título ao elepê (*). Mesmo com este repertório conhecido (***), Maria Creusa não deixa de ser uma intérprete agradável de ouvir. Suave, amparada em bons instrumentistas - o próprio Menescal no violão e guitarra, Fernando Merlino nos teclados, Jacaré no baixo, Rubinho na bateria, Barney e Reginaldo na percussão e o coral formado por Gabriela, Tatiana, Josie e Cristiane. Como o público gosta de músicas conhecidas, somando-se a força promocional da Rede Globo para divulgar este disco, "Todo Sentimento" deve emplacar algumas milhares de cópias vendidas. Bom para Maria Creusa e bom para a MPB. Nota (*) Originalmente, "Todo Sentimento" foi criado em homenagem a Elizeth Cardoso (1920-1990), que a gravou em seu último álbum, acompanhada ao violão por Raphael Rabello, gravado em 1989 e que só este ano foi lançado pela Sony Music, em produção de Hermínio Bello de Carvalho. (***) O repertório é completado com "Casinha Branca" (Gilson-Joran), "Doa a Quem Doer" (Gilson/Paulo César Valle), "Doce Safadeza" (Gilson Carlos Cola), "Dia Branco" (Geraldo Azevedo-Renato Rocha), "Dona de Minha Cabeça" (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo) e "Moça Bonita" (Geraldo Azevedo/Capinam).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
25/08/1991

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