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Aramis

Antologia francesa na voz de Mireille

A música francesa não tem um mercado regular no Brasil. Raros os intérpretes que têm seus discos aqui editados - e mesmo dos nomes mais famosos - um Yves Montand, um Charles Aznavour ou, no passado, um Maurice Chevalier - são praticamente inéditos no melhor de sua produção. A cantora Mireille Mathieu (Avignon, 1947), filha de uma família humilde, ex-operária e que começou sua carreira há 21 anos, em programa de calouros ("Telé-Dimanche"), organizado em memória a Edith Piaf (outra deusa da canção francesa, insuficientemente editada entre nós) tem tido, eventualmente, seus discos aqui lançados. Mas sem regularidade, desconhecendo-se a sua obra mais recente. É o caso deste "Les Grandes Chansons Françaises" (RCA/Ariola), uma verdadeira antologia com 16 das mais populares canções, desde Edith Piaf ("Hymne a L'Amour", "La Vie En Rose") a Jacques Brel ("Ne Me Quitte Pas"), passando por Villard ("Le Trois Cloches"), Kosama/Prévert ("Les Feuilles Mortes"), entre outros. Boas orquestrações e direção musical do maestro Jean Claudric, a voz suave de Mireille, fazem deste um álbum-colagem da música francesa tradicional. E a nova música da França? Quando a conheceremos? xxx Enquanto a carreira de Michael Jackson parece ter estacionado em termos promocionais, seu irmão Jermaine surge com um novo lp ("Precious Moments", Arista/RCA), dedicado a Marvin Gaye (assinado pelo seu pai, em 1º/4/1984) e incluindo músicas próprias como "I Think It's Love" (em parceria com Stevie Wonder) ou "If You Say My Eyes Are Beautiful" em dueto com Whitney Houston. Um dos Jackson Five, Jermaine começou sua carreira em 1969 mas só há 10 anos fez seu primeiro lp solo ("My Name is Jermaine"), ao qual se seguiram dois outros álbuns ("Feel The Free" e "Frontier"), mas só com "Let's Get Serious", cuja faixa-título foi escrita e produzida por Stevie Wonder que Jermaine explodiu, vendendo mais de um milhão de cópias. Após a superpromoção da temporada-álbum com "Victory", marcando a reunião da família Jackson, um novo sucesso ("When The Rain Begins To Fall", em duo com Pia Zadora) e a participação na trilha de "Perfeição" (com a canção "Shock Me", outro dueto com Whitney Huston); Jermaine agora em "Precious Moments" desfila com uma nova coleção de composições próprias, no estilo agradável para o seu público. xxx Até julho, um novo marketing vai funcionar no comércio fonográfico: as músicas ufanistas para a Copa. Se "Pra Frente Brasil" (Miguel Gustavo) permanece ainda como um clássico no gênero, isto não impede que novas composições sejam lançadas. Por exemplo, após um primeiro disco mix com "Se Liga Brasil" e "Jota Jr.", interpretado por Jô Soares (aproveitando o personagem que criou na televisão) a Polygram/Polydor colocou agora outro mix na mesma linha: a Turma do Pagode - grupo vocal/instrumental de estúdio - interpretando "Tá Chegando a Hora" (Walter Queiroz/Vevê Calazans); acoplada a "Gueri-Gueri" (Naval). A canção futebolística dos baianos Queiroz/Calazans, infelizmente, pode funcionar como animação de torcida, mas em termos musicais nos faz ficar com saudades de Miguel Gustavo... xxx Surpresas sempre acontecem. Por exemplo, quem será Fernando Girão, de quem a CBS lança um disco, sem qualquer promoção especial - sequer mesmo informações biográficas? Trata-se, entretanto, de um compositor interessante, com letras bem construídas, buscando desde uma simplicidade temática até um certo humor - especialmente nas duas parcerias com Bernardo Fuster: "Amor de Ministério" e "Divórcio". xxx Dentro do pacote "Música dos Anos 90", a WEA lançou um álbum, com o grupo Echo And The Bunnymen - formado em novembro de 1978 - reunindo em 11 faixas, sucessos consagrados como "The Cutter", "The Killing Moon", "Seven Seas" e "Bring On The Dancing Horses", além de uma versão ao vivo de "Do It Clean" e da raríssima "The Puppet". O grupo Echo And The Bunnymen é formado por Will Sergeant (guitarra), Ian MaCulloch (vocal/guitarra), Les Pattinson (baixo) e Pete de Freitas. xxx Mais uma demonstração da busca de ascensão social das duplas rurbanas/rurais, abandonando a imagem sertaneja e procurando um novo status: o "Grand Prix do Amor" do duo Cezar e Paulino (Continental). Mesmo como estilo choramingas que identificam o estilo brega, estes dois rapazes - boas pintas, trajes de jeans, etc. - preferem comparar as desventuras amorosas a uma corrida automobilística. Em todo o repertório - assinado pela dupla, com parceiros variados - o tripé amor - dor-de-cotovelo - busca de um novo encontro amoroso, em arranjos com mexicanos e estridentes solos de metais. Já um certo Carlos Barros busca nas imagens sonoras e até na capa de seu lp ("Mulher que faz sabão", Polygram), aquela linha de músicas-piadas de duplo sentido, capazes de dar alguma popularidade junto às platéias mais simples. Produzido especialmente para os Estados do Nordeste, nada impede porém, que alguma das canções maliciosas de Carlos Barros ("Serviço de Som", "Tome Remédio", "Minha Eliza", etc.), possa acabar caindo no agrado do público das AMs mais popularescas - tipo Atalaia ou Independência. xxx A montagem de discos com sucessos do passado, para promoção e distribuição junto a redes de televisão sempre funciona como reciclagem de material estocado. Por exemplo, Manoel Barenbein e M.A. Galvão escolheram do acervo da EMI/Odeon, 14 faixas que nestes últimos 20 anos conseguiram alguma projeção e o resultado é "14 Discos de Ouro", lançamento em colaboração com a SBT - que vai desde Wallace Collection (quem se lembra?) até Johnny Rivers, passando por Herman's Hermits, Hollies, Lulu, Trio Galleta, Hurricane Smith e Glen Campbell - entre outros que apareceram nos anos 60. xxx Domingo passado, falamos do maravilhoso encontro de dois dos melhores violonistas do Brasil - João de Aquino e Maurício Carrilho. Dentro da democracia informativa, registre-se aqui também o primeiro lp de um guitarrista jovem e que busca um público totalmente diverso: Celso Fonseca, estreando no minielepê "Minha Cara" (WEA). O garoto já tocou com Márcio Montarroyos, Gil e Caetano e define sua música como a que "procura captar e relacionar as diversas influências dentro do contexto atual e muito particular" (sic). Márcio participa da faixa "Diluir", um dos poucos momentos românticos deste disco, no qual Celso, audaciosamente, toca vários instrumentos na faixa "Sozinhos de Novo". Em "Não Vai Passar", escolhida para ser trabalhada junto às FMs, ele utiliza uma fusão do SKA com elementos de jazz nos solos de guitarra e arranjos de saxofone.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
04/05/1986

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