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Aramis

Apesar de tudo, há gente otimista com nosso cinema

Na entrada do Salão de Convenções do Hotel Serrano, um painel anuncia, com fotos coloridas, quatro novas produções nacionais co-produzidas pela Embrafilme mas que não estão concorrendo nesta 17ª edição do Festival: "Forever", de Walter Hugo Khouri (esta realizada com fartos recursos internacionais); "Lua Cheia", de Alain Fresnot (que terá uma mostra hors concours, na tarde de hoje, quarta-feira), "Sonhei com Você", de Ney Sant'Anna (filho de Nelson Pereira dos Santos), com a dupla Milionário e Zé Rico (com quem Nelson Pereira dos Santos já havia feito "Na Estrada da Vida", sucesso até na China) e "Escorpião Escarlate", novo exercício de terrir (mistura de terror e comédia) de Ivan Cardoso. O anúncio destes filmes é uma tentativa de mostrar um pouco de otimismo numa época em que a crise na produção na indústria cinematográfica brasileira caiu aos seus pontos máximos, menos de uma dezena de produções novas foram iniciadas nos últimos 18 meses. Entretanto, o Festival de Gramado, o mais respeitado nacionalmente, teve inscritas produções que permitiram uma seleção rigorosa, eliminando mesmo uma produção paulista, na qual muitos apostam: "Lua Cheia", de Alain Fresnot, experiente montador e que integra a chamada geração Vila Matilde - responsável por um ciclo recente do cinema paulista ("Marvada Carne", de André Klotz, "Vera", de Sérgio Toledo, "Feliz Ano Velho", de Roberto Gerwitz, "Janete", de Chico Botelho, entre outros). Mas como "Lua Cheia" ficou de fora dos concorrentes, há apenas um exemplo do cinema paulista: "Festa", exibido ontem à noite e que chegou precedido com elogios como um dos chamados filmes de autor, já que Ugo Giorgetti, experiente realizador de filmes publicitários, tem uma linha muito especial como mostrou em "Jogo Duro", aqui mostrado há dois anos. Ney Sroulevich, diretor comercial da Embrafilme e Paulo Sérgio Almeida, superintendente de comercialização, mostram-se otimistas apesar do clima de sinistróide que parte da imprensa destaca na reduzida produção cinematográfica. Sérgio Almeida, em editorial no jornalzinho "O Dezessete", house organ que circula aqui em Gramado durante o festival - escreveu que "o cinema brasileiro mostra mais uma vez que é uma erva daninha à prova de qualquer agrotóxico ou crise". Melhor do que dizer isto, é ver os filmes de Gramado-89. São vários estilos para todos os gostos, em todas as escalas de produção. Seu otimismo é grande. "A atividade cinematográfica começa a mostrar sinais evidentes de recuperação. Cerca de 30 novas salas foram inauguradas este ano nas regiões Norte e Nordeste com sucesso total. A freqüência nos cinemas de todo o país cresceu 40% neste primeiro trimestre de 1989". Ney Sroulevich, o homem que vem conseguindo realizar o milagre de fazer um Festival Internacional de Cinema no Brasil (este ano em Fortaleza, confirmadíssimo entre os dias 22 de novembro a 3 de dezembro), mostra-se eufórico com a promoção "Vá ao Festival de Gramado sem sair de sua cidade", que está possibilitando que os seis longas em competição sejam vistos em nove capitais brasileiras. - "No Recife, haverá um júri popular que dará uma premiação ao filme que mais agradar ao público. Em cinco capitais - Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, estamos promovendo reuniões, debates com os espectadores, após as sessões, para termos opiniões diversificadas em torno desta safra de filmes". Os números dos borderôs dos nove cinemas que estão, simultaneamente, mostrando os filmes em competição, são aguardados com expectativa: afinal, além de ser uma iniciativa inédita mundialmente (colocar os filmes de um Festival em várias cidades), não deixa de ser uma corajosa política de marketing. Afinal, a má repercussão de um filme - como, infelizmente aconteceu com "Jardim de Alah", que abriu a mostra no domingo - pode prejudicar sua posterior comercialização. O que não impede, entretanto, que os executivos da Embrafilme vejam com otimismo esta proposta nova de aproveitar a promoção nacional que está se dando ao cinema brasileiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/06/1989

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