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Aramis

Aqui, Jazz (V)

desde que o alemão Antoine Joseph Sax (Diant, 1814-Paris, 1894), o saxofone há mais de 130 anos - exatamente em 1845, que este instrumento vem sofrendo adaptações e alterações mas evidentemente mantendo as mesmas concepções básicas idealizadas pelo velho Joseph. E no jazz, o saxofone é um dos instrumentos que tem possibilitado maiores mostras de criatividade. No passado e no presente, em diferentes estilos - o sax (o alto, o tenor ou o baixo), cumpre uma função básica - aliás, marcante também em outras formações, como na fase das "big-bands". Ao lado dos nomes consagrados e conhecidos do saxofone, pode-se conhecer agora alguns novos talentos, em diferentes estilos. O primeiro deles, Ira Sullivan, não é um estreante: nascido em Washington, D.C., a 1.º de maio de 1931, estudou música com seus pais também, músicos. De 1952 a 1955integrou o "Bec Hive", de Chicago e, posteriormente, integrou as orquestras de Benny Green, Paul Quinchette, Sony Stit, Haword MacGhee, Wardwll Gray, Lester Young, Roy Edridge, Charlie Parker, Bill e Art Blakey. Fixado em Chicago a partir de 1956, Sullivan fez nome e, em 1961, mudou-se para Miami, afastando-se pouco a pouco de uma atividade mais intensa - mas continuando a estudar sax soprano e flauta. Por isso é que o seu nome é pouco conhecido no Brasil, mas agora com a edição de um elepe gravado em 12 de dezembro de 75 (Horizon/Odeon, XHOL 39008, 1976) pode-se ouvir o som perfeito de Sullivan, de que, já disse Joe Segal: "Ele é um gênio. Poderia escolher qualquer instrumento e aprender à tocá-lo em um dia: seria excelente em todos eles". Acompanhado por Joe Diorio (guitarra), Tony Castellano (piano), Steve Bagby (tambor), Alex Darqui (piano), Jaco Pastorious (baixo) e Don Aliás (congas), e Ira alternando-se no sax, flauta e pistão, mostra uma série de temas belíssimos, como "Dove", "Portrait of Sal" e "My Roverie". Também David Newman "Fathead", saxofonista (alto e tenor), não é nenhum jovem, embora ainda muito pouco conhecido no Brasil. Nascido em Dallas, Texas, a 23 de fevereiro de 1933, começou a tocar sax em orquestras locais e mais tarde integrou os grupos de Buster Smith (1925), Lowel Fulson, T. Bone Walker (1955) e, finalmente a orquestra de Ray Charles, com quem esteve até 1961. Com "Mr. Fathead (Warner/-WEA do Brasil, 36010, dezembro/76), podemos conhecer o som recente de Newmann, acompanhado de instrumentistas extraordinários - como Ron Carter no baixo, Jerry Friedman, na guitarra, numa seleção de temas de diferentes autores - já que David não pretende acumular também a autoria das músicas que grava. Também Ronnie Laws é um multiplo músico, que executa sax tenor e soprano e flauta, revelando-se para o público brasileiro no lp "Pressure Sensitive" (Blue Note/-Copacabana, 12103, fevereiro/77). Irmão caçula do já consagrado Hubart Laws (Houston, Texas, 1939), Ronnie começou tocando em grupos estudantis e depois, ao lado do mano, integrou o famoso grupo The Crusaders , além de trabalhar com Quincy Jones, Doug Cam, Walter Bishop e Kenny Burell. Passou um ano com o grupo Earth, Wind and Fire e desta experiência pop saiu ainda maior criatividade, que demonstra agora, ao longo de 8 temas, neste seu lp solo, onde mostra 4 composições próprias, ao lado de um "standard" de stevie Wonder: "Tell Me Something Good". Assim como certos músicos pop já desenvolvem um trabalho que se aproxima do pop há certos instrumentistas que mesmo trabalhando convencionalmente, resultam em elepes que se pode incluir na hoje ampla liberal categoria jazzistica. É o caso do saxofonista Júnior Walter, cujo lp "Sax Appeal" (Motowr Record/Top Tap, S-6-647, setembro/76), traz agradáveis temas como "All In Love Is Fair" (Steve Wonder) e "I Feed So Good"(Leonard Caston), com solos de sax, num estilo que lembra o brasileiro Moacyr Silva. Também um elepe que pode ser assim apreciado é o da Marty Ford Orchestra ("Smoovin", Vertigo/Phonogram, 6370415, 1976), onde Ford, ex-aluno do Roayl Academy o Music, em Londres, que estreou em concerto no Royal Albert Hall, mostra as potencialidades de uma orquestra jovem, valorizando mesmo temas conhecidissimos, como os "maintitles" dos filmes"... E o Vento Levou" e "A Summer Place". Uma das mais agradáveis surpresas deste semestre é o aparecimento de um elepê com o pistonista Chet Baker (Yale, Oklahoma, 23 de dezembro de 1939), que iniciou seu aprendizado musical aos 13 anos em Los Angeles, para onde sua família mudou-se. Ganhou experiência em conjunto de danças mas foi ao prestar serviço militar em San Francisco que realmente teve o seu aprendizado, no clube "Bop City", tocando ao lado de músicas de categoria. Ao dar baixo em 1952, conheceu Mulligan atuando em seu quarteto na área Los Angeles e arredores. O sucesso foi retumbante e um ano depois Chet organizou seu próprio quarteto. Em 1955 partiu para uma excursão na Europa só retornando aos EUA em 1956. A partir de 1957 teve problemas com narcóticos e praticamente eclipsou do cenário musical, embora tenha várias vezes retorna. Além do estilo suave e romântico como pistonista, Baker gravou também elepês como cantor num estilo de voz totalmente nova e que, comprovadamente, foram os que influenciaram João Gilberto. "Chet Baker - Sextet & Quartet" (Imagem/Joker, 5069, abril/77), gravado em Milão, com a participação de Grauco Masetti (sax alto), (Gianni Basco (sax tenor), Renato Sellani (piano), Franco Cerri (baixo) e Gene Victory (bateria) é uma oportunidade de se ouvir novamente este extraordinário Chet Baker, tão precocemente desaparecido do meio musical, com um repertório dos melhores: "Look For The Silver Lining" (De Sylva-Kem), "Lady Bird" (Dameron-Paeker), "My Old Flame (Johnson- Coslow), "Tume Up" ( Miles Davis), "Cheryl Blues" (Charlie Parker), "Indian Summer" (Herbert) e "Pent Up House" (Sonny Rollins). Como escreveu o exporte José Domingos Raffaelli, "Fancy Dancer" (Blue Note 12102, Copacabana, fevereiro/77), não é um disco de Jazz, embora incluído no suplemento jazzistico da Blue Note: é isto sim, um disco de música pop de muito bom gosto, com "poucos pontos em comum com o jazz, "Fancy Dancer" é o disco de lançamento no Brasil de Bobbi Humpherey, uma espécie de menina dos olhos da Blue Note: uma figura juvenil de 23 anos, com metro e meio de altura. É uma flautista e cantora das mais talentosas, como comprovar neste disco, gravado em agosto e setembro de 1975, interpretando músicas do instrumentistas Larry Mizell, que a acompanha e responsável pelos arranjos - como "Uno Está", "You Make Me Feel So Good", "Mestizo Eyes" e "Please Set Me At. Ease". Isaac Haysen (Memphis, Tennessee, 1942), cantor, compositor e instrumentista (órgão) negro conhecido como "Black Moses", é outro exemplo de músico criativo, que não limita seu trabalho a fronteiras rígidas. Premiado com o Grammy Award e o Oscar, de melhor canção, em 1972, pelo tema do filme "Shaft", Isaac Hayes tem já uma dezena de elepês editados no Brasil, onde seu público é crescente. Aos quais acrescenta-se "jucy Fruit"( Phonodisc/Continental, 624-404-038, dezembro/76), que é apresentado como "Disco Freak". As sete composições são de Hayes, acompanhado por mais de 30 diferentes músicos. Finalmente, vamos a um registro muito especial: a edição de um álbum que The Modern Jazz Quartet gravou em 1957, no mais famoso clube de jazz do mundo, o sempre lembrando Birdland, na época em que o MJQ encontrava-se em sua melhor fase (lp Joker SM 3785, edição no Brasil da Imagem, 5066, abril/77). Ao encerrar suas atividades em 1974, após um período de 22 anos de atuação, o Modern Jazz Quartet tornou-se recordista de todos os pequenos conjuntos de jazz: nenhum outro tocou tanto tempo ininterruptamente, e se consideramos que durante esses anos apenas um dos músicos foi substituído, certamente o quarteto poderá reinvidicar outro recorde, como afirma o experte José Domingos Raffaelli no texto de contracapa de "The Modern Jazz Quartet at Birdland". O MJQ utilizou de forma sutil alguns artificios estruturais ligados à música erudita como a fuga e o rondó. Reativou em sua forma mais delicada, dois antigos elementos do jazz: a improvisação coletiva e os blues. Incorporou ao seu estilo um refinamento e sofisticação dos mais expressivos. O MJQ nasceu em 1951, formado por JohnLewis (piano), Percy Heath (baixo), Kenny Clark (bateria, depois substituído por Connie Kay) e Milt Jackson (vibrafone) - e ao longo de toda sua existência, teve uma das mais dignas carreiras. Apesar de divergência internas, manteve-se profissionalmente unido até 74 e mesmo seprado, decidiram, no ano passado, reagruparem-se a cada ano, por 3 meses, a fim de cumprirem vantajosos contratos (inclusive, fala-se em sua vinda ao Brasil, passando, possivelmente, por Curitiba, para uma única apresentação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto). "The MJQ At Birdland", que faz parte da "The King Jazz Story/Collector`s Edition", da Joker Records, cuja representação o bravo Jonas Silva conseguiu para a Imagem, gravada há 20 anos, é um disco perfeito, com clássicos como "Wat`s New" , "L`II Remember April", "Concord", "Yesterday" , "One Bass Hit", "Bag`s Groove", além de uma homenagem de Lewis a Django Reinhardt (1910-1953), o maior guitarrista da história do jazz. FOTO LEGENDA- Chet Baker (") FOTO LEGENDA1- Isaac Hayes Juicy Fruit Disco Freak FOTO LEGENDA2- Sullivan FOTO LEGENDA3- David Newman Mr. Fathea
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
15/05/1977

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