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Aramis

Arte Contemporânea ou arte infantil?

Já há até quem propões, com bom humor: em breve, o Museu de Arte Contemporânea deve mudar o nome para Museu da Recreação Infantil. O fato é que, ao lado do aspecto sarcástico, há uma natural preocupação por parte de quem vê aquela unidade como uma instituição criada com finalidades que estão sendo alteradas pela nova administração. Para mostrar serviço, a sra. Elisabeth Titon - guindada à direção do MAC após a injusta demissão da museóloga Marisa Bertoli - está preocupada em abrir o nobre espaço aos artistas jovens e promover eventos múltiplos. Assim já houve vernissages acompanhados de shows musicais, palestras nos quais os jovens se espalharam pelo chão da casa (na falta de um auditório apropriado) e um programa intitulado "Artistas Plásticos no Centro Juvenil" visa estimular a participação das crianças no MAC. xxx A sra. Elisabeth Sanson - ex-diretora administrativa de um hospital da cidade e que foi escolhida para a direção do MAC, em lista tríplice, após a frustrada tentativa feita em tentar impor naquele cargo uma marchand-de-tablaux, a elegante senhora Sandra Helena Larsen - tem, por certo, muitos argumentos teóricos (e políticos) para justificar as iniciativas que vem tomando. Inclusive é louvável estimular a frequência do público infantil nos museus. Através de trabalhos executados pelas crianças que frequentam o Centro Juvenil de Artes Plásticas (que funciona no porão da Biblioteca Pública do Paraná), com orientação de jovens artistas do círculo de amizades da sra. Titon, mensalmente são selecionados trabalhos expostos em salas do MAC. Uma abertura curiosa que o MAC - tradicionalmente reservado para exposições de artistas consagrados ou de movimentos culturais consolidados - está dando, dentro dos "ideais" da democracia participativa do governo José Richa. O que muitos educadores e, especialmente, artistas plásticos já profissionalmente reconheciods, indagam é se esta finalidade cabe ao MAC - ou se não ficaria mais bem colocada junto a um órgão ligado a Secretaria da Educação? xxx Consta que a sra. Titon, teria decidido "incorporar" o Centro Juvenil de Artes Plásticas - fundado pelo inesquecível pintor Guido Viaro há quase 30 anos - como uma unidade do MAC. Um fato que, em termos administrativos é, no mínimo, estranho - já que há uma diretora do CJAP (sra. Luciana Cavalim, pessoas das mais competentes) e o mesmo está sob responsabilidade da Biblioteca Pública do Paraná. Assim, o clima entre a diretora do Centro Juvenil, sra. Cavalim e a diretora do MAC, sra. Titon, estaria chegando a altas temperaturas. Entretanto mais grave e preocupante é a notícia - não confirmada oficialmente mas de fonte limpa e digna de crédito - de "experiências" que estariam sendo feitas pelas artistas convidadas para orientarem o projeto "Artistas Plásticos no Centro Juvenil". A pintora Leila Pugnaloni, responsável pelas atividades do mês de outubro (e cujos resultados visuais estarão em exibição a partir do dia 10, conforme o luxuoso e caro convite já distribuído), teria feito, inclusive, exercícios de expressão corporal, com as crianças que frequentam o CJAP. Como ela é uma pintora e não uma técnica em expressão corporal, houve excessos, com riscos, inclusive, para as crianças - o que preocupa os pais dos menores que costumam frequentar o Centro. xxx De boas intenções o caminho do inferno está repleto. A idéia de democratizar o MAC, abrindo-o para exposições de artistas jovens, estimular a participação infantil, integrar outros organismos (como o já citado CJAP) são válidos - desde que realizadas com critério. A propósito, algumas questões: quais as condições observadas para a seleção dos "artistas responsáveis" (?) mensalmente para o projeto? Há remuneração especial? Quanto? LEGENDA FOTO - Luxuosos (e caros) convites para as exposições de desenhos das crianças no MAC.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
09/11/1984

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