Login do usuário

Aramis

A arte de Orthof, o pioneiro do out-door

Dono do maior arquivo sobre a história da publicidade no Brasil, Ney Alves de Souza, 45 anos, braço-direito de Eloy Zanetti na Umuarama, poderá acrescentar ao seu acervo um importante depoimento: o do pioneiro do out-door no Brasil, Geraldo Orthof, fundador da primeira agência especializada em propaganda externa em nosso país. Orthof, austríaco de Viena, enteado de um famoso libretista de óperas, Bodanzky e sobrinho de Arnold Schoenberg (Viena, 1874 - Los Ângeles, 1951) - o grande revolucionário da música do início deste século, com suas composições atonais no caminho do dodecafonismo, estará em Curitiba, a partir do dia 15. Vem a convite das marchands-de-tablaux Ida Axelrud e Anita Guelmann, para a exposição de seus óleos, em mostra conjunta as esculturas de encaixe de Hélio Rodrigues, programados para a mesma noite - 17 de setembro. xxx Aos 83 anos, forte e rijo, Geraldo Orhof é um homem de muitas estórias e marcante currículum profissional, embora, até agora, desconhecido totalmente no Paraná, mas reconhecido no Rio de Janeiro - onde se fixou há mais de 60 anos, ali ganhando inclusive a cidadania honorária. Crescendo no meio da I Guerra Mundial começou a estudar pintura aos 14 anos e, em 1922 foi para Berlim, onde dois mestres tiveram uma influência marcante em sua arte: Fernando Spiegel e Karl Hofer. Era uma época difícil, de muita miséria e o jovem vienense sobrevivia vendendo a estrangeiros pequenas paisagens ou retratos. Durante dois anos participou da Feira Internacional de Amostras em Viena, onde dirigiu a parte de cartazes e stands, aprendendo com Gaertner e Kloss a usar os mais variados materiais para obter efeitos visuais a serviço da propaganda. Hofer Klint, o arquiteto Loos, e mais Spiegel, Kubin, Slevogt - formavam um grupo ousado, criativo, desenvolvendo aquilo que, poucos anos depois, os nazistas chamariam de "arte degenerada". A tensa situação na Europa e o espírito de aventura, animaram Geraldo Orthof a vir para o Brasil e, em 1926, já participava de uma coletiva do Museu Nacional de Belas Artes. Ganhou o primeiro prêmio de desenho publicitário, mas aqui os tempos também eram duros. Morando numa pensão en Niterói, tentando aprender o português com amigos como o pintor Goeldi, em 1928 foi admitido no departamento artístico de anúncios da então nascente revista "O Cruzeiro". Pouco depois o cartazista dos bondes da Light, o Barão Puttkamer, recebia uma herança e abandonava o emprego. Geraldo Orthof foi chamado para substituí-lo, com um excelente ordenado e um contrato de 5 anos. Não esqueceu, entretanto, a pintura: em 1932 expôs na Pró-Arte, junto com os melhores pintores da época, a alguns dos quais se ligou por grandes laços de amizade. Em 1937 fundou a Publicidade Época, pioneira do anúncio out-door no Brasil e na qual criou o sistema quinzenal de trocas, padronizando o tipo dos cartazes, começando com quatro folhas e indo até 32. A prosperidade permitiu voltar à Europa, em visitas, e lá educar sua filha - Silvia, hoje uma consagrada autora de peças infantis (várias delas, já encenadas em Curitiba). Mas só em 1959, aos 56 anos, fez sua primeira individual como pintor, na galeria Malura, em Munique. Seguiram-se várias outras e, desiludido com as pressões de multinacionais na publicidade, deixou a "Época" e, aos 70 anos, passou a se dar ao luxo de voltar-se inteiramente para a sua pintura. Seu amigo, Rubem Braga, em texto no livro sobre sua obra (ArtLivre, 64 páginas), diz que na pintura do Orthof de hoje há várias maneiras; ele gosta de variar de técnicas e de temas. Isto é raro em um artista maduro. "Não será uma forma de reação contra a longa disciplina obrigatória da arte final publicitária? Claro, ele tem o domínio técnico do desenho, da composição, do uso das cores e dos tons. A longa faina de cartazista foi muito útil, mas nem sempre. Ninguém peca em vão, e desenhar (ou escrever) anúncios é um pecado do artista ou do escritor; é como fazer amor sem amor, feio pecado, embora também possa ser instrutivo." Ida & Anita foram felizes em convidar Orthof a expor em sua galeria no Batel. Trazem peças de um artista que tem muito a contar e que transmite fortes cores e imagens em seus trabalhos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
05/09/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br