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Aramis

A arte de Teca e Tião

Sebastião Tapajós é o exemplo de como um artista pode se tornar querido numa cidade. Até dez anos passados, raros eram os que tinham ouvido falar neste violonista paraense que vinha se apresentando mais na Argentina do que no Brasil. Mas bastou o bom Tião descobrir Curitiba para aqui fazer uma espécie de ponto de apoio para suas andanças internacionais. Simples, cordial e, sobretudo amigo dedicado, Sebastião vem dando uma das maiores contribuições artísticas a muitos músicos da terra. Pelo menos meia dúzia de violonistas - entre eles Gio Amaral, Gerson Fisbein, Gersinho Badep, entre outros - encontraram em Sebastião o mestre, o parceiro e, por que não (afinal ninguém é de ferro!), também o companheiro para saudáveis boemias - saudáveis mesmo, pois Sebastião é incapaz de colocar na boca uma gota de álcool. Para ele, a embriaguez só vem do encanto das músicas. xxx Sebastião, mais uma vez, apresenta-se em Curitiba. Desta vez traz a cantora e compositora Teca Calazans, capixaba de muita decisão e que permaneceu anos em Paris, fiel companheira de Ricardo Villas, ex-"Momento "4"atro" (com "4" mesmo), e que teve que deixar o Brasil nos anos mais duros da repressão. Cantriz de muita quilometragem - afinal começou sua carreira como integrante do grupo Construção, participando de um festival de teatro de estudantes promovido por Paschoal Carlos Magno, Teca é da mesma geração de Geraldinho Azevedo e Marcello Mello (fundador e integrante do Quinteto Violado), com quem fazia uma adaptação cênica de "O Rio", um dos mais belos poemas do pernambucano João Cabral de Mello Neto. Depois, Teca passou para o Teatro Opinião, dirigida por João das Neves em "Jornada de um imbecil até o entendimento", de Plínio Marcos. Em 1970 viajou para a Europa e acabou ficando na França por dez anos. Lá conheceu Ricardo Villas, com quem fez seis elepês - o último dos quais em 1980, no Brasil, quando voltaram e, logo depois, se separaram. O curriculum de Teca tem muitos destaques - festivais de música e teatro, andanças com gente famosa e três discos solo. Seu trabalho mais recente foi uma letra em homenagem à cidade de Caruaru - "Caruaru, azul palavra", musicada por Carlos Fernando (autor de muitos sucessos) que em gravações em disco e teipe terá até lançamento internacional. Há três anos, Teca participou de um projeto culturalmente da maior importância: dividiu com Lenita Bruno (uma das mais belas, embora esquecidas, vozes do Brasil) do álbum "Mário 300, 350", idealizado por Hermínio Bello de Carvalho através da Funarte. xxx Toda a dimensão do violão de Sebastião Tapajós somada à bela voz de Teca Calazans resultam num espetáculo especial, com uma única apresentação, na noite de amanhã, no auditório da Reitoria. Imperdível, repetindo uma palavra-chavão mas que se ajusta neste caso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
03/07/1986

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