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Arthur Miller não vem porque não há dinheiro para convite

Se o orçamento da Fundação Teatro Guaíra não tivesse sofrido cortes e as montagens de várias óperas e dos últimos espetáculos teatrais ("Mistérios de Curitiba e "New York Segundo Will Eisner") não tivessem exaurido as finanças, uma idéia surgida há alguns meses poderia ter sido levada adiante: convidar Arthur Miller a vir ao Brasil para assistir à montagem de "As Feiticeiras de Salém". Aos 75 anos, completados 17 de outubro último, Miller esteve em várias partes do mundo nas estréias de sua peça. Assim foi a Xangai em 1980; em Londres em 1965 - na montagem de Laurence Olivier - e mesmo em Buenos Aires. No Brasil, a única encenação profissional foi em 1960, no Teatro Della Costa, direção de Antunes Filho, com Glória Menezes, Miriam Mehler, Etty Frazer, Chico Martins e Mauro Mendonça nos papéis principais. O convite para Miller vir ao Brasil nem foi feito: afinal, para garantir os Cr$ 5 milhões da produção, o superintendente da Fundação Teatro Guaíra teve que usar toda sua competência de bom administrador e cortou os gastos extras. xxx A encenação de "The Crucible" no Guaíra, marca, pela primeira vez, o trabalho de uma nova categoria profissional: o dramaturgista. No caso, a dramaturgista - a jornalista, pesquisadora e professora Celina Alvetti, 33 anos -, que desde dezembro vem estudando tudo que se relaciona à bruxaria, inquisição, macarthismo etc., para subsidiar a produção - e especialmente transmitir ao elenco - de informações sobre a época, os costumes, o comportamento, as implantações sociais-filosóficas-religiosas que fazem parte de seu contexto. Surgido na Alemanha, a figura do dramaturgo, vem sendo absorvida pelas grandes produções teatrais. Trata-se de uma pessoa de sólida base intelectual, identificada às artes, especialmente ao teatro, capaz de funcionar como uma espécie de consultor intelectual ao diretor. Marchioro, caprichoso em suas montagens - e que para cada peça que dirige faz profundo estudos (motivo pelos bons resultados obtidos) -, insistiu, desta vez, em ter a colaboração de Celina Alvetti, que escreve bissextamente sobre teatro e defendeu no ano passado uma tese sobre exibições cinematográficas em Curitiba até os anos 30. Reforçando o trabalho de dramaturgista, o elenco teve reservadas algumas das 400 horas de ensaios - a maior parte no salão da Sociedade Ucraniana (a partir de amanhã, passam para o auditório Salvador de Ferrante) para palestras com temas ligados aos temas de que a peça trata. Assim, o psiquiatra Edival Perrini falou sobre histeria; o pastor Elias Abrahão (ex-secretário do Meio Ambiente, candidato a deputado pelo PMDB) sobre protestantismo; o professor João Féder abordou a inquisição, o especialista Joel Samways falou de bruxaria e o jurista René Dotti fez uma análise do macarthismo. xxx A penúria financeira da produção não vetou somente a possibilidade de convidar Arthur Miller para vir a Curitiba. A primeira idéia de Marchioro era trazer dois nomes nacionais, populares através da televisão mas bons intérpretes para encabeçar o elenco - o que poderia viabilizar inclusive futuras temporadas da peça em outras capitais. Paulo Gorgulho, o novo galã catapultado na novela "Pantanal", que chegou a se entusiasmar com a possibilidade de mostrar seu talento num espetáculo digno, aceitou reduzido cachê, mas o contrato não se formalizou. Assim, para o papel central foi escolhido um ator bastante categorizado, Mário Schoenberger, 39 anos, que após ter feito o papel central de "Mistérios de Curitiba", foi maldosamente descartado na produção que Ademar Guerra levou ao Rio de Janeiro: seu personagem está sendo feito por Armando Bógus. Há atores veteranos na peça - como Sansores França, Florisval Gomes, Tupaceretan Matheus, Evanira dos Santos, cantora-atriz de belíssima voz, fará a negra Tituba, Regina Bastos é Ann Putnam e várias caras novas (e bonitas) aparecem em papéis de destaque, como Christiane de Macedo e Silvia Natureza. No elenco estão ainda Regina Vogue, Leonilda Chesa, Onivaldo Dutra, Fernando Klug, Carlos Bastos, Érica Migon, Gô Kuster, Dhris Gomes, Giovana Soar, Vanusa Ferlim, Alejandra Sampaio, Cláudia Toledo, Eliane Campelle, Guiomar Knofolz, Kariam Russel, Kelly Viana, Marijane Durli e Sônia Fonseca. xxx Felizmente, desta vez os cenários e figurinos serão criados por talentos locais (afinal nem só de Rosa Maria Magalhães pode se fazer teatro entre nós): Raul Cruz criou e executa os cenários, Tom Silveira os figurinos e a bela Sandra Zugman faz um belo trabalho de expressão corporal. Marcelo fez uma nova tradução do texto (por achar as existentes "um lixo"), montou a sonoplastia e é o diretor geral.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/11/1990

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