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Aramis

Artigo em 02.12.1981

Excelente ator, indicado ao Oscar há alguns anos por sua atuação em "Os Russos Estão Chegando" de Norman Jewison, Alan Alda vem tentando já há algum tempo a carreira de diretor-roteirista. Com este "As Quatro Estações do Ano" (Cine Condor, hoje último dia em exibição) tenta o mergulho num [gênero] difícil mas atual - os conflitos conjugais e a crise da meia-idade. A exemplo de outro ator-diretor, John Cassavetes, em "[Os] Maridos", este "The Four Seasons" coloca um grupo de amigos numa análise de seus relacionamentos afetivos. Só que ao invés de ser apenas o encontro de três homens frustados - dois casados e um solteiro, reencontrando-se devido a morte de um quarto amigo, após anos de separação, e que de repente, decidem empreender uma busca do tempo (prazeres) perdidos. Alan Alda condicionou a ação de seus personagens ao longo de quatro períodos de férias, coincidindo com as estações do ano e embaladas pela música perfeita de Vivaldi. Não há grandes momentos de explosão, a emoção dos personagens não chega a provocar uma empatia com o espectador, mas nem por isto "The Four Seasons" é um filme frustado. Ao contrário, um elenco harmonioso - o próprio Alan Alda, mais Carol Burnett, Sandy Dennis, Rita Moreno e os ainda desconhecidos Len Cariou e Bess Armstrong, compõe tipos marcantes, envolvidos nos encontros/desencontros de cada um. Do material que dispunha, Alan Alda poderia ter realizado um filme antológico e emocionante. Não chegou a tanto, mas assim mesmo propôs a exorcização de alguns demônios familiares - comuns tanto nos Estados Unidos, entre a classe alta, como em qualquer outro país, na classe média. xxx Com a estréia de "Tributo" (Cine Plaza, a partir de amanhã), mais um importante filme chega a tempo de possivelmente entrar na lista dos melhores do ano. Levado ao cinema por Bob Clarck, a peça de Bernard Slade que permaneceu meses na Broadway é mais uma oportunidade a Jack Lemmon provar que é um dos melhores atores do cinema contemporâneo - e a indicação ao Oscar por este filme foi mais do que merecida. Emocionante, sentimental, piegas para muitos, a idéia de "Tribute" não deixa de ser das mais enternecedoras: a história de um pai e um filho que lutam para recuperar o tempo perdido, principalmente no tocante ao relacionamento, estremecido do divórcio que se abateu sobre a família. Scottie Templeton (Jack Lemmon) é um ativo e simpático agente da imprensa da Broadway, que possui como característica uma aparente alegria. Mas Scottie, de repente, sabe que tem seus dias contados e decide recuperar a amizade do filho, Jud (Robby Benson), o que o obriga a rever os seus valores, "Tributo" volta-se [às] relações humanas, aos conflitos pessoais que, nos últimos anos, caracterizaram o que de melhor foi produzido nos Estados Unidos. Um filme sério e importante, indispensável de ser visto a partir de amanhã. xxx O Grêmio Recreativo Escola de Samba Cacique de Ramos vai mostrar o maior jingle promocional do Paraná já divulgado em toda a sua história durante 75 minutos, na Avenida [Marquês] de Sapucaí, no Carnaval de 1982, estará apresentando o enredo "Yara, Ouro e Pinhão na terra da Gralha Azul", sobre a colonização e desenvolvimento de [nosso] Estado. O samba-enredo, de Jorge Melodia, vai começar a ser catituado e é, na opinião de quem o ouviu, um dos mais belos do próximo Carnaval. No ano passado, também com uma temática do Paraná - sobre a lenda das Cataratas do Iguaçu, a Império da Tijuca conseguiu pular do segundo para o primeiro grupo. Organizada, com o presidente Natal Imbrosio comandando a escola com energia e tendo o esperto Mario Barcelos como o "carnavalesco" oficial, a Cacique de Ramos desenvolveu todo o enredo com base em material fornecido pela Paranatur e, naturalmente, terá apoio do governo do Estado - mas que é insignificante em face do que representa, em termos [promocionais]~, a divulgação que fará numa festa vista por milhões de pessoas e com cobertura dos mais importantes veículos de divulgação. xxx Se alguém guardou os primeiros posters-programas editados ainda pelo Departamento de Relações Públicas e Promoções da Prefeitura de Curitiba, em 1972/73, anunciando as atrações que o Teatro do Paiol apresentava há 8 ou 9 anos, terá, por certo, uma obra se não valiosa, ao menos documental. Pois quem criava os desenhos dos miniposters promocionais do Teatro do Paiol - cujo 10o aniversário de fundação transcorre no próximo dia 27 de dezembro, era Rones Thadeu Dumke, hoje um dos mais valorizados artistas plásticos do Paraná. Integrante da mesma geração de Carlos Eduardo Zimmermann e Bia Wouk, Rones sempre caracterizou seus desenhos e óleos por um extremo capricho. Filho de um relojoeiro, parece ter herdado a paciência e a habilidade do pai, ao qual se somou uma extraordinária sensibilidade. Rones sempre trabalhou lentamente, o que obriga os colecionadores a permanecerem meses, às vezes até anos, para conseguir um de seus trabalhos. Sua produção é tão reduzida que, constantemente, o bom Rones tem que recorrer a particular e pedir emprestado obras vendidas para completar novas exposições. Assim, uma individual de Rones tem tudo para ser um sucesso e ter os trabalhos esgotados na própria vernissage. Dia 30, segunda-feira, Rones inaugurou sua mostra na Momento Arte (Rua Brigadeiro Franco, 2113), que se constitui no último grande evento artístico deste final de 81. Afinal, poucos artistas se comparam a ele em matéria de criação. Com toda razão, a crítica Adalice Araújo, que acompanha sua carreira há mais de dez anos, afirmou no catálogo convite: "Num mundo invadido pelos pré-fabricados, pela agiotagem institucionalizada e negação de valores que decretaram a morte do ser humano e da arte, a obra de Rones Dumke impõe-se como uma profissão de fé e como uma oração à capacidade do ser humano de sonhar e criar, apesar de tudo ...". LEGENDA FOTO: Rones, a arte demorada
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
02/12/1981

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