Login do usuário

Aramis

Artigo em 22.04.1975

Apesar do cansaço da viagem - veio de Caxias do Sul, onde sábado fez um show em clube daquela cidade gaúcha - e de ter dormido muito pouco, Vinicius de Moraes, 62 anos, não poderia estar de melhor aspecto no domingo que passou em Curitiba. Alegre, bem disposto, o quequerido Vaninha não recusou nenhum autógrafo e atendeu com boa vontade mesmo os mais inconvenientes e insistentes admiradores. Com o Bucanna's ao lado da mesinha, no palco do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, conduziu um show informal, despojado e muito comunicativo da melhor música brasileira - a sua lírica e as harmonias de parceiros queridos - de Antonio Carlos Jobim a Toquinho, que com ele dividiu os aplausos de mais de 3 mil pessoas que pagaram Cr$ 40,00 para assisti-los. Além de suas músicas mais conhecidas, duas inéditas - devidamente gravadas em fita pela Rádio Iguaçu, que nos próximos dias as estará apresentando aos seus ouvintes. O samba brejeiro "Se Ela Quisesse" - feito na última temporada da dupla em Punta Del Leste, e o samba "abolerado" em que ele dispensou o parceiro Toquinho, cuidando também da harmonia: "Onde Anda Você". Os dois excelentes instrumentistas que o acompanharam também mostraram seus talentos vocais. O baixista Azeitona (Arnaldo Alves de Lima, 40 anos, 1,40 m de altura e simpatia), com sua voz ao melhor estilo de João Gilberto, cantou "O Samba da Minha Terra" (Caimmy) e "Garota de Ipanema" (esta apenas no show das 18 horas). Já o baterista [Mutinho] (Lupiscinio Rodrigues Sobrinho, 33 anos) homenageou seu inesquecível tio e padrinho, falecido há pouco, com a belíssima "Acalanto Para Adormecer Lupi-scinio", que ganhou letra de Vinicius e possivelmente será gravada, em breve, pelo próprio Mutinho. Toquinho (Afonso Pecci Filho, 28 anos) cada vez melhor violonista - sustentou instrumentalmente o espetáculo de 100 minutos, com alguns solos marcantes, em especial com um extraordinário arranjo para "Asa Branca" (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira). Mas o ponto alto, nas duas sessões, foi "O Filho Que Eu Quero Ter", a melhor composição da dupla e uma das mais sensíveis músicas de toda a obra de Vinicius. Uma obra-prima que até hoje não foi ainda devidamente descoberta em sua única gravação (Chico Buarque de Holanda, lp "Sinal Fechado", Philips, novembro/74). Pela terceira vez em Curitiba - a primeira foi na inauguração do Teatro do Paiol (27/12/71) e a segunda naquela mesma casa em abril/73 - Vinicius e Toquinho mostraram sua música feliz, alegre e profundamente significativa dentro de nosso cancioneiro. Iluminada música que o normalmente tímido público curitibano, cantou entusiasticamente com o poeta e o violonista - não negando aplausos merecidos ao final com o "Samba da Benção", encerrado com as palavras de Amor, Paz & Liberdade - que Vinicius, um homem que tanto sabe compreender o ser humano - pronunciou, como sempre com um pouco de emoção. Volte logo poeta!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
22/04/1975

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br