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Aramis

Atenção, afinal temos a nossa Orquestra Brasileira de Música

Graças ao generoso patrocínio do Bamerindus, o Som da Gente, etiqueta que há oito anos se dedica a valorizar a música instrumental brasileira pôde realizar, nos dias 10 e 11 de março, no Town Hall, em Nova Iorque, a maior promoção já feita para a divulgação da música instrumental brasileira nos Estados Unidos. Com uma organização que consumiu 10 meses de trabalho de Tereza Souza e sua equipe - especialmente de sua filha, Rifka, a presença do Som da Gente na Big Apple, que tivemos a felicidade de acompanhar e registrar em nossas colunas, merecerá ainda muitos comentários, pela importância de instrumentistas como Hermeto Paschoal, Adylson Godoy, o guitarrista Alemão, o grupo Cama de Gato (Pascoal Meireles, Rique Pantoja, Mauro Senise e Paulo Maia) e os guitarristas Ulisses Rocha, André Gereissati e Marco Pereira (trio D'Alma) terem mostrado ao público americano o melhor de nossa MPB, reconhecidos em crítica do "The New York Times" - entre outras publicações - que abriu amplos espaços à promoção. A alegria de ver a nossa melhor música instrumental alcançar o espaço que merece completa-se em se encontrar álbuns excelentes, embora produzidos de forma independente, como amostragens do talento de músicos da maior competência. É o caso da Orquestra de Música Brasileira, criada, regida e liderada por Roberto Gnattali, que, pouco a pouco, está tendo seus espaços ampliados. No ano passado, por sugestão de Zuza Homem de Mello, a OMB participou, com destaque, do Free Jazz - sendo um dos pontos altos daquele evento. Agora, num disco independente (patrocinado pela Coca-Cola e com apoio da UNIRIO, República-Produção & Comunicação e realizado pela Toodas-Produções), temos algo que há muito fazia falta: uma orquestra de 40 figuras apresentando onze belíssimos temas, com arranjos distribuídos por Roberto Gnattali, Luiz Otávio Braga e Henrique Cazes. O lp inicia com "Meu Amigo Tom Jobim", composição de Radamés Gnatalli - tio de Roberto - baseada no tema "Domingo azul do mar". Segue-se "Quebra-Pedra", baião-bossa de Tom Jobim, com um arranjo de Roberto Gnatalli que possui as características de um pequeno poema sinfônico, do gênero épico, onde são louvadas as propriedades da planta quebra-pedra - tão integrada à tradição popular brasileira. Violonista e revelando-se como arranjador, Luiz Otávio Braga fez um belíssimo tratamento para uma releitura de "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso). Um trio composto de piano - sax tenor - contrabaixo apresenta a primeira parte do tema, de forma sintética, como se houvesse incorporado um Brasil essencial em sua simplicidade. Depois, entra a orquestra, com toda a força para este samba-exaltação. "Jura" (José Barbosa da Silva, o Sinhô) e "Ou Vai ou Racha" (anônimo), dois maxixes, completam o lado A - sendo que "Ou Vai ou Racha", como vinheta de 38 segundos, abre o lado dois, preparando o espírito para um clássico de Anacleto de Medeiros (1866-1907), dobrado composto em homenagem à inauguração da Avenida Rio Branco que o prefeito Paulo Frontim implantou no Rio de Janeiro da belle époque. Tema esquecido, foi resgatado por Henrique Cazes, um incansável pesquisador da MPB. "Marimbanda", do baixista Adriano Giffoni, integrante da Orquestra de Música Brasileira, é definida como uma obra "fusion" - só que brasileiríssima em sua concepção. Do cellista Roberto Victorio, também da OMB, é "Castos Silvestres", obra de vanguarda. Giffoni mostra "Afoxé", de inspiração africana e, finalmente, "Frevereiro" (Roberto Gnattali/Marcos Leite), "condensa os vários carnavais brasileiros em uma só obra, e como tal, seu lugar só poderia ser este mesmo: o final do disco" - conforme a nota do encarte. Um álbum como o da Orquestra de Música Brasileira é tão importante que merece espaço especial neste domingo - e faz que os registros de outros discos instrumentais fiquem transferidos para a próxima edição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
02/04/1989

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