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Aramis

As bandas do rock tupiniquim

O sucesso que as bandas de rock estão alcançando em apresentações ao vivo, lotando grandes espaços (como o ginásio do círculo Militar, no caso dos Engenheiros do Hawai; fazendo a abertura do super show do Wallers no último domingo, na Pedreira/Espaço Cultural Paulo Leminski), confirma, como se preciso fosse, a existência de um público jovem, de grande facilidade de conquista e que absorve conjuntos que, a rigor, nos tempos de maior exigência musical não teriam tanta aprovação. Um som de muitos decibéis, letras raramente inspiradas - embora entre muito apoio, haja também alguns grãos de trigo de criatividade crítica (que junto ao bom humor se afigurou como uma das veredas para estes conjuntos) entra tudo na geléia geral desta música de penúltima década do século que se faz no Brasil. Entre discos da bandas de rock e assemelhados que pintaram no praça nos últimos tempos, eis algumas já devidamente sendo consumidas pelo público jovem. Engenheiros do Hawai, grupo gaúcho que com seu quinto lp ("O Papa é Pop", Barclay), com 50 mil cópias vendidas antecipadamente, foi desenterrar um sucesso de 1967, "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones..." que em plena época da escalada do conflito do Sudeste da Ásia fazia sucesso com Os Incríveis (e depois outros intérpretes) pela mensagem pacifista que seus autores, Magliaci e Lusini colocaram na sua letra (lançamento original na Itália, "Era un ragazzo..."). como Os Engenheiros constróem boas vendas - o lp "Ouça o que eu digo, não ouça ninguém" (88) vendeu 150 mil cópias - a Barclay investiu bastante neste novo disco do trio formado pelos gaúchos Humberto Gessinger (voz e baixo), Augusto Licks (guitarra e teclados) e Carlos Maltz (bateria). Nenhum de Nós é outro grupo de rock gaúcho, chegando ao seu terceiro lp ("Extraño", BMG/Ariola) e que por manter-se fiel ao título, apresenta variedade estilística e sonoridade estranha, contrapõe-se à regras convencionais dos canais de divulgação do pop-rock nacional. Como disse o crítico Antônio Mafra, da agência "Textos & Idéias" - contratado para reforçar a promoção do grupo - "Extraño" é um disco à moda antiga, mesmo com doses de modernidade. Anteriormente, o grupo já havia sido bastante promovido com hits como "Astronauta de Mármore" e "Camila, Camila". "O Nenhum de Nós tenta uma aproximação curiosa com a música gaúcha de origens, como convocar Luís Carlos Borges, gaiteiro, compositor e organizador do segundo mais importante festival nativista, o Musicanto, em Santa Rosa. Em outra faixa, propõe um novo ritmo, o tango-rock em "Algo que não se pode tocar", definido por Thedy Corrêa, 27 anos, o vocalista do grupo, como "nossa homenagem a Piazolla: o tango traz embutido o espírito de tragédia que é uma característica bem gaúcha". Para ganhar as paradas, o Nenhum de Nós conseguiu ter uma faixa do lp, "Sobre o Tempo", incluída na trilha da novela "Barriga de Aluguel", da Globo. Hanói Hanói chegou também ao terceiro lp, primeiro na EMI-Odeon, com título de pretensões intelectuais, lembrando uma das obras mais complexas do filósofo Jean-Paul Sartre: "O Ser e o Nada". Misturando ritmos e influências, o grupo formado por Arnaldo Brandão (voz, violão, baixo), Sérgio Vulcanis (guitarra), Ricardo Bacelar (teclados) e Marcelo da Costa (percussão), o conjunto traz apenas composições próprias - exceto - "Só" (Luiz Melodia/Perinho Santana) e a versão "Vi Shows" que Tavinho Paes fez para a música do Lou Reed. Uns e Outros também chegando ao terceiro lp ("A Terceira Onda", CBS). Betina Dowsley define este grupo como "um ponto de resistência do rock nacional, lutando contra as armadilhas do show business e o preconceito em relação às bandas novas". Grupo revelação-89 para os leitores da revista Bizz, catapultuados [catapultados] em shows no Circo Voador-RJ, Uns e Outros tem liderança de Marcelo Susseking e agora traz nove inéditas, mais "Anjo Negro" do primeiro disco. Na edição em fita-cassete, uma faixa bônus, que é a mais interessante: "James Dean Eyes", versão em inglês de "Os Olhos de James Dean" que, em português, abre o lado B. James Dean (1939-55), para a garotada que não sabe, foi o grande ator-revelação dos anos 50, mito fazendo apenas três filmes como astro principal: "Vidas Amargas" (de Elia Kazan, 54); "Juventude Transviada" (Rebel Without a Cause, 54, de Nicholas Ray) e "Assim Caminha a Humanidade" (Giant, 55, de George Steens). Etiqueta Social, um novo grupo de rock formado por Carlin Areias, Paulino, Zé Luiz, Edvaldo e Nery, foram buscar no mais famoso best-seller do holandês Daniken o título para o seu primeiro lp - mudando um pouco a ordem das palavras. "Os deuses não eram astronautas?" (distribuição Estúdio Eldorado). Amparados em mais de 30 instrumentistas, com arranjos de Cid Ornellas (um dos quatro músicos de cordas convocados para algumas faixas), este grupo traz músicas próprias, com letras desenvolvidas em conjunto e com algumas estrofes que refletem a própria efemeridade deste tipo de trabalho, como o refrão de "Anos 90": "Só que agora tudo passa, como passaram os anos, os anos 90/E agora tudo passa, como já passou nos anos 80". Outra estrofe (sic), de "Descamisados", mostra a ideologia(?) desta geração: "Não falo nada em política/Não sou analista "pra" falar do país/Tem tanta gente com fama/E eu aqui tão sem grana, sem proteção/Eu só queria ser cantor de "rock and roll". Loui é outro lançamento via Estúdio Eldorado ("Senhores de Virtude"), com participações ilustres - como os vocais de Rita Lee em "Sem Limites" e "Palavra Oculta" (Alexandre Fontanetti/Luiz Tjurs), sax soprano Brandford Marsalis em "Há qualquer coisa em ti" (André Christovan), Roberto de Carvalho e André Christovan em "Palhaço de Gesso" (do próprio blues-man André). Produção bem cuidada, nem por isto o Loui conseguiu ainda obter maior destaque dentro da briga-de-foice que é encontrar espaço entre tantos lançamentos de rock nacional. Roupa Nova não pode ser jogado na vala comum do rock. Afinal, com quase 10 anos de estrada, este grupo que estreou em 1981 tem buscado caminhos que ultrapassem os ruídos do pop e encostando na música popular de outras tendências. É bem verdade que em seus primeiros tempos, o grupo se preocupava em dar uma roupagem pop à MPB mas depois passou a investir mais num repertório próprio. Uma música, livre de rótulos, que o novo lp do grupo ("Frente & Versos", BMG/Ariola) vem confirmar. É o que se ouve no primeiro sucesso do disco, "Coração Pirata", da trilha de "Rainha da Sucata". Em baladas como "Mudança", "Mistérios", "Cartas", "Fica Comigo" e "Asas do Prazer". Mas é claro que o vírus do rock permanece e pulsa em "Correndo Perigo", Betty & Lou" e "Romance Mutante". Mas a faixa mais interessante é a participação do grupo americano Commodores em "Esse tal de repi enroll", adaptação do Roupa Nova para o hit "Esse tel de roque enrou" (Rita Lee). Duas regravações, emotivas: a capela, de "Yesterday" (Lennon/McCartney) e a versão (Paulo Sérgio Valle) de "Amo em Silêncio" (Silence is golden). LEGENDA FOTO 1 - Nenhum de Nós: rock gauchesco com acordeon LEGENDA FOTO 2 - Uns & Outros
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
07/10/1990
gostaria que vcs colocassem as letras da banda loui neste site por favor,eu adorava esta banda.obrigado por enquanto

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