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Aramis

Banquete Jazzístico

Está certo! O jazz evoluiu muito, as fronteiras foram rompidas e assim tanto um trumpetista como Wynton Marsalis pode tocar tanto o melhor jazz como o clássico (como prova nos dois álbuns da CBS, registrados na semana passada), como o jazz fusion, derrubando as fronteiras entre o rock/pop e o jazz também desaparecem frente a qualidade de alguns instrumentistas. Mas, convenhamos, que o bom mesmo - e isto sem falar em nostalgia - é o tempo em que havia o jazz instrumental (e vocal) dos grandes mestres - 80% dos quais já integram hoje a grande orquestra de Saint Peter no Heaven's Hall. Por isso mesmo, o fato de reaparecerem as melhores gravações dos anos 40/50, em edições remixadas, sem os chiados dos antigos registros, é um presente maravilhoso que a Ariola e a Polygram oferecem aos jazzófilos brasileiros neste meio de ano - quando a CBS trouxe justamente cinco novos álbuns de jazz contemporâneo. A Polygram, com o selo da Verve Records, dos tempos áureos de Norman Granz, presenteia o público com dois esplêndidos álbuns duplos: o histórico e inigualável Charlie Parker (1920-1955), o saxofonista que mais diretamente participou do bebop numa seleção das melhores - gravações dos anos que esteve na Verve, incluindo até um arranjo sobre "Tico-Tico no Fubá"( Zequinha de Abreu). Já, da série que a grande Ella Fitzgerald (Newport, 25/4/1918) fez homenageando os maiores compositores americanos, temos outro álbum duplo excepcional: "The Rodgers and Hart Songbook", com mais de 30 preciosidades de Richard Rodgers (1902-1979) e Lorenz Milton Hart (1895-1942) - com acompanhamentos soberbos. Obviamente, dois álbuns que exigem registros demorados - mas aqui tem sua colocação no mercado nacional apenas como uma dica imediata a tantos que amam o jazz e que, obviamente, não podem mais ficar na base das importações de discos a Cr$ 30 mil (ou já seriam Cr$ 40 mil?) a unidade. Se a Polygram oferece dois álbuns duplos, a Ariola é mais corajosa neste seu banquete jazzístico: nada menos que 12 elepês, entre produções originais da Fantasy e Prestige, duas das melhores marcas de jazz. Há, praticamente, discos para todos os gostos - com gravações de 30 anos passados e que somente ficaram enriquecidas neste período. O suave som do The Modern Jazz Quartet reaparece em "Django", homenagem ao maior guitarrista da história do jazz ( Django Reinhardt, 1919/1954), gravado às vésperas do Natal de 1954. Milt Jackson, vibrafonista do MJQ, com o quarteto na formação em que Horace Silver substituía a John Lewis, traz outra seleção de standards inolvidáveis como "My Funny Valentine" e "The Nearness of You". O mesmo e notável Milt Jackson pode ser ouvido no "Miles Davis all Star Sextet", no qual ao lado do histórico pistonista, atuavam Jackie McLean "sax alto", Percy Heath (baixo), Ray Bryant (piano) e Arthur Taylor (bateria). George Shearing, pianista de estilo único, com os irmãos Wes (guitarra) e Buddy Montgomery (vibrafone), faz de outro álbum desta fornada um momento de rara delicadeza, revisitando temas como "Love for Sale"e "Stranger in Paradise". O mesmo Wes Montgomery (1925-1968), ao lado de Melvin Rhyne (órgão) e Paul Parker (bateria), comparece numa gravação de outubro de 1959-das melhores fazes de sua careira. As fãs de Bill Ivans (1929-1979), que ainda recentemente teve colocado no mercado nacional as duas partes de seu "Paris Concert"(edições WEA), além de uma gravação européia de 1969 ( edição Imagem), temos aqui "Explorations", gravado em fevereiro/61, quando de seu trio faziam parte Scott La Faro (baixo) e Paul Motian (bateria). Aos que apreciam os grandes tecladistas, indispensável também é a audição de outro mestre, Thelonious Monk (1920-1982) interpretando 8 clássicos de Duke Wellington (1899-1974), com a participação de Oscar Pettiford (baixo) e Kenny Clarke (bateria). Mas o pacote da Ariola tem mais preciosidades: o quarteto de Dave Brubeck em sua melhor formação (Paul Desmond no sax alto; Lloyd Davis na bateria; Ron Crotty no baixo); o histórico "The brothers", que numa sessão de 8 de abril de 1949 reuniu Stangetz a quatro outros mestres do saxofone: Zoot Sims, Al Cohn, Aleen Eager e Brew Moore. Outra gravação histórica, o registro ao vivi em San Francisco, a 18/10/1959, de Cannonball Adderley ( 1928-1975), no sax-alto, ao lado de seu irmão Nat Adderley (pistão), pianista Bobby Timons, baixista Sam Jones e baterista Louis Hayes. O magnífico som de outro histórico saxofonista, Phil Woods, pode ser apreciado em " Woodlore", no qual atua com um quarteto formado por John Willians (piano), Teddy Kotick (baixo) e Nick Stabulas (bateria). E, encerrando, o inigualável John Coutrane 91926-1976), em seis faixas históricas, registradas com diferentes formações instrumentais. Obviamente, cada disco ,merece todo um registro especial - pelo que significam dentro da história do jazz. Entretanto, hoje apenas registramos o fato de serem colocados em nosso mercado - proporcionando que se conheça um pouco mais do que de melhor já se fez em música instrumental.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
05/08/1984

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