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Aramis

A batalha de Assis

O experto José Domingos Raffaelli, colaborador regular de O ESTADO, está há anos empenhado num levantamento fonográfico das edições de elepês jazzísticos feitas no Brasil. Um trabalho difícil pela falta de informações e não pelo número de discos. Isso porque além de existirem poucos jazzmen no Brasil são ainda reduzidíssimas as chances deles gravarem. Mesmo instrumentistas mais conhecidos junto ao grande público, como o pianista Dick Farney (também um bom cantor)) sempre teve grandes dificuldades em perpetuar em gravações as jam-sessions das quais tem participado. Por isso, há seis anos, o estudioso Roberto Celerier, na contracapa de "Trajeto" (Equipe, EJC/6004), segundo elepê do saxofonista Vitor Assis Brasil escrevia: "É difícil fazer Jazz no Brasil! Até bem pouco tempo, preconceitos xenófobos impediam que o Jazz fosse considerado como realmente é: uma música que deixou, há décadas, de ser música popular norte-americana, para se tornar uma forma artística internacional, cultivada e reconhecida nos países mais afastados da influência americana. Para Vitor Assis-Brasil, Arte significa Música e a música que ele tocar, a música "dele" é o Jazz". Mas para isso Vitor Assis Brasil tem sofrido muito. De uma família carioca tradicional, excelente base instrumental, Vitor tem estudado e encontrado no Exterior o apoio que lhe negam no Brasil. Com exceção de uma tournée patrocinada pela USIS, há 9 anos, quando o Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos Estados Unidos desenvolvia, realmente, um trabalho de difusão da cultura americana. Vitor nunca teve outra chance de sair do Rio de Janeiro e mostrar o seu trabalho em outras Capitais brasileiras. Em compensação, nos Estados Unidos, tem sido constantemente aplaudido - o que fêz, várias vezes, queixar-se, amargamente, contra a desatenção em relação ao seu esforço desenvolvido em nosso país. Há menos de um ano, quando aceitou fazer um concerto e Teatro da Galeria (Rua Senador Vergueiro, Flamengo), numa noite de segunda-feira (2 de setembro de 1974) mais uma vez Vitor foi ignorado pelos veículos de divulgação e assim, só um pequeno (e interessado) público compareceu para prestigiar o seu extraordinário concerto. Falta infelizmente, ainda sensibilidade, e, sobretudo, informação dos homens de comunicação, aos diretores de entidades culturais e mesmo, principalmente, ao público para incentivarem trabalhos sérios como o de Vitor Assis Brasil. Só isso explica o fato de até hoje ele não ter vindo a Curitiba fazer um concerto. Felizmente, o novo diretor artístico da Fundação Teatro Guaíra, o ator João Dionir Baggio, 25 anos, é um jovem apaixonado pelo bom jazz e música seus planos está a realização de concertos experimentais, na base de um por mês, com músicos do nível de Paulo Moura, Victor Assis Brasil e Dick Farney. Mas, o concerto que Vitor fez no teatro da Galeria, felizmente foi registrado num documental elepê da Companhia Industrial do Disco (série Magic Music, MM 3010), que incluiu quatro dos principais temas ali desenvolvidos: "Pro Zeca", "Puzzle" e "Vaving", todos de Vitor, mais "Somewhere", de Leonard Bernstein e Stephen Sounhein, da trilha sonora de "West Side Story" (Amor Sublime Amor). O disco, produzido por Harry Zuckermann com bons recursos técnicos, permite apreciar o extraordinário feeling de Vitor Brasil, um saxofonista (alto e soprano) de muitas idéias e que amparado num grupo harmonioso - o baterista Lula, o baixista Paulinho Russo, o pianista Alberto Farah, o trumpetista Marcio Montaroys, criou momentos do mais sensível jazz - num trabalho que justifica, inclusive uma análise mais demorada e exaustiva de nosso crítico especializado Raffaelli. Infelizmente, o preconceito contra o jazz é tão grande, que em nenhuma loja de discos da cidade encontramos este bom lp, lançado há menos de um ano e que ocorre o risco de ser retirado de catálogo sem que o público interessado tenha sequer tomado conhecimento de sua edição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música Popular
44
27/04/1975

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