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Aramis

As belas histórias que Rosirene sabe contar

Se Kamil Gemael fosse daqueles cientistas fanáticos, que só pensam em planetas e vivem com a cabeça na Lua - e ele é mestre em Geodésia e Astronomia da Universidade Federal do Paraná - seus filhos teriam que ser também profissionais na área das Ciências Exatas. Só que para sorte da família, Kamil sempre foi apaixonado por quadrinhos e é um páreo duro para o Kei Imaguire Jr. - arquiteto famoso e quadrinista internacional; o Celio Guimarães, advogado e pesquisador de "comics" e outros que há anos sabem ver nas tiras quadrinizadas mais do que simples entretenimento - e que hoje, aliás, lamentam a decadência desta arte. Pois sendo um quadrinista apaixonado, Kamil sempre foi um grande leitor de livros na biblioteca de sua casa, dois de seus filhos - Rosirene e o "Quico", acabaram se apaixonando pelas letras e caindo na vida, isto é, no jornalismo. Com toda a competência, aliás! xxx Rosirene é uma mulher que conserva sempre aquele ar de menina, melhor dizendo, normalista da vida inteira - "de meia branca três quartos, saia curta e gravata, daquelas que a gente arrancava louca da vida mal virava a esquina do Instituto de Educação". Ela já passou dos 30 anos, mas parece uma adolescente pela suavidade e sensibilidade. Mas isto não significa, em absoluto, que não seja de briga - e em todas as redações pelas quais passou "Folha de Londrina", revista "Quem", Canal 12 - em Curitiba e em Bauru - ela sempre mostrou ser antes de tudo uma jornalista de coragem e independente - o que não é muito comum, infelizmente! Uma repórter, antes de tudo, mas com o gosto pela pesquisa - que o digam os bonitos trabalhos que fez nos anos em que integrava a equipe da Casa Romário Martins, numa época (feliz) em que aquela unidade da Fundação Cultural funcionava a pleno vapor, publicando dezenas de "boletins" com coisas da cidade. Projeto sepultado na administração peemedebista, infelizmente! xxx Rosirene é também uma contadora de estórias. Daquelas estórias simples e gostosas que se traduzem na melhor ficção infantil. O resultado é que em menos de 24 horas reuniu em duas dezenas de laudas os personagens inventados enquanto não chegava o sono para o seu filho, Marcos, e acabou vencendo um concurso de literatura infantil promovido pela Fundação Cultural no ano passado. O prêmio foi a publicação de "O Menino que não gostava de ouvir Histórias", que teve uma edição tão pequena que acabou esgotando durante a Feira Intercolegial do Livro. Como o material era bom, duas editoras - a Comunicação, de Belo Horizonte, e a Criar, de Curitiba, se propuseram a reeditá-lo. Como boa curitibana, Rosirene deu preferência a editora de Roberto Gomes, este catarinense entusiasta que se tornou paranaense há 20 anos e aqui está solidificando uma boa casa publicadora. O resultado é que com ótimo visual - capa e ilustrações de (Luiz Cezar) Bellenda, 51 anos, "O Menino que não gostava de ouvir histórias" está sendo lançado, "numa segunda edição que parece até primeira" como diz a autora - e que deve se esgotar rapidamente. Afinal, qualidade não falta! xxx Rosirene recorre a um pensamento de sua amiga - a também jornalista e escritora infantil, Ana Maria Machado, para falar sobre o assunto: - "A literatura infantil é a literatura a qual a criança também tem acesso, uma poesia em prosa para qualquer idade. Uma mistura sem cerimônia entre o mágico e o real. Assim como a sensível Nara Leão, há 11 anos, gravou um disco ("Meu Primeiro Amor", 1975, Polygram), com as canções que entoava na hora de embalar o sono de seus filhos (hoje adolescentes), Francisco e Isabel; "O Menino que não gostava de ouvir histórias" nasceu simplesmente das estórias que Rosirene inventava para o seu filho, Marcos: - "É assim um pouco do caldo da vivência com o Marco, que passou a "encomendar" histórias sobre seus temas ou personagens prediletos, geralmente com o assunto que instigava a cada momento. Com o passar do tempo virou um jogo: ele propunha, eu começava, ele continuava; ele ou eu, um dos dois acabava. Um jogo que hoje, eu acho, ganha quem descobrir que tudo pode virar uma boa história desde que se esteja atento para ver a poesia que se espalha e disposto a arregaçar as mangas para buscar uma prosa com compromisso literário.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
15/11/1986

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