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Aramis

A beleza das modinhas na voz de Maria Lúcia

Como é bonito ouvir um disco como "Cantares de Minas" ( Philips, setembro/ 85)! Como é bom para um País ter uma cantora como Maria Lúcia Godoy! Um disco como esta produção de Miguel Proença e Mário Willmersdorf Jr., com arranjos e regências de Luiz Roberto, nos remete a toda uma época e geografia de suaves e tranquilos contornos. A modinha brasileira, tão lírica e bela - e que hoje, cada vez mais corre o risco de ser esquecida - tem em Maria Lúcia Godoy, (Mesquita, MG, 2/9/l930) uma intérprete da maior suavidade - pois á perfeição técnica (afinal ela começou a estudar canto em l948) e o requinte de uma das mais valorizadas sopranos brasileiras, soma-se a emoção de uma mineira plenamente identificada a cultura popular de sua terra. E nada mais é tão Minas quanto a Modinha - que tem em várias cidades daquele Estado os intérpretes, grupos, compositores e instrumentistas que a culturam e preservam - independente das limitações hoje de um gênero que raramente obtém divulgação em discos ou em programas de rádio e televisão. Montes Claros, uma das cidades mais pródigas em talento de seus filhos - (dali saíram tantos escritores, compositores e, nos últimos anos, cineastas) - tem há anos o Grupo João Chaves, que já chegou a gravar vários elepês de forma independente ( mas um deles distribuído nacionalmente, anos atrás, através de Marcos Pereira). Luiz Cláudio (de Castro, mineiro de Curvelo, 50 anos, arquiteto, compositor e cantor, apaixonado [pelas] Modinhas, fez 3 anos um belíssimo álbum-livro, ilustrado com reproduções de seus quadros (ele é um excelente pintor), reunindo momentos dos mais felizes da Modinha mineira - infelizmente uma edicão de luxo, tão bela quanto rara, patrocinada por uma empresa mineira e com pequeno número de exemplares colocados a venda pelo editor Leo Cristiano- especialista em livros e discos de arte. Felizmente com este "Cantares de Minas" não deve ocorrer o mesmo. Lançado comercialmente pela Polygram, com bela capa de Guga (Rodrigo Linhares Godoy), trata-se de um disco que merece permanecer em catálogo, independente de vendagem maior ou menor. Em "Cantares de Minas" o repertório é de l0 das mais conhecidas modinhas que transpuseram as fronteiras mineiras e, numa época, chegaram a emocionar romances de bisavós e avós em muitos Estados. Por exemplo, o clássico "Amo-te Muito" de João Chaves, a emocionante "Na casa Branca da Serra" - música de Miguel Emílio Pestana e cuja letra (de Guimarães Passos) foi inspirada por uma jovem curitibana; "Gandoleiro do Amor", música de Fabregás e letra de Castro Alves; a "Elvira Escuta" de João Marcelo de Andrade; Saudades de Ouro Preto" ( música atribuída a R. do Nascimento/letra de Murilo Alvarenga) ou "Serenata em Minas Gerais", "Sereno da Madrugada" e "Zum- Zum/ Peixe Vivo", motivos tradicionais, são outros momentos que enriquecem a "Cantares de Minas", seguramente um dos mais belos discos de MPB lançados este ano. LEGENDA FOTO 1 - "Nada de prima dona, nenhum traço de afetação ou vedetismo que a ópera nos acostumou a atribuir aos cantores líricos. Tem um jeito familiar de "the girl next door" como dizem os americanos - não fosse a voz que mesmo apenas falando sugere aquele denso e profundo mistério da criação : uma voz que a poesia se reflete". (Fernando Sabino)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
38
29/09/1985

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