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Aramis

A bênção de Abril (IV)

Em apenas 55 números, editados entre março de 1963 à primeira semana de abril de 1964, << Brasil, Urgente >> foi um verdadeiro documento de um dos períodos mais agitados da política brasileira. Pelas posições adotadas no semanário editado pelo frei Carlos Josaphat, religioso dominicano, interpretando um pensamento de vanguarda dos católicos, << Brasil, Urgente >>, em sua curta - mas atuante - existência , papel importante na formação da opinião pública - de certa forma, de tanta repercussão como seria o << Pasquim >>, em sua primeira fase, a partir de julho de 1969 - já então no período mais duro da repressão. Portanto, o frei Paulo Cezar Loureiro Botas, também dominicano - embora jamais tenha sido visto em trajes religiosos - decidiu estudar a experiência do << BU >>, em sua tese de doutoramento na Esole des Hautes Etudes em Sciences Sociales, em Paris - há 2 anos. Escrito originalmente em português - e traduzido para o francês por Bia Wouk, quando a pintora (agora, em férias em Curitiba) residia em Paris - a tese de Paulo Cezar sai agora em livro - << Bênção de Abril - Memórias e Engajamento Católico 1963/64 >> (Edições Vozes, Cr$ 4.000,00). Em 16 capítulos - distribuídos em apenas 3 partes (<< In Illo Tempore... >>, << Qui Audie Me >> e << Impletum Est Tempus >>), Paulo Cezar traça uma visão dos partidos, dos políticos e das instituições que entre 63/64 faziam o Brasil fervilhar - sempre tomado por base a forma com que os redatores de << Brasil , Urgente >> tratavam do assunto. Assim, dezenas de nomes que ha 20 anos estavam em evidência - voltam, curiosamente, hoje neste Brasil Aflito - verão 83, participar diretamente da vida pública. Prova de que em duas décadas, apesar da repressão dos exílios, do endividamento do País, os homens poucos mudaram - ou melhor, em alguns casos só mudaram de posições políticos, para continuarem no poder. xxx No capítulo II< Paulo Cesar faz a análise dos partidos políticos e o Congresso Nacional em 1963, lembrando que ao lado dos três grandes - PSD, UDN e PTB - o Partido Democrata Cristão se fortalecia aos poucos mas << Não era tão influente na política como os três primeiros pois ainda estava muito dependente da projeção de figuras importantes, como Plínio de Arruda Sampaio e Paulo de Tarso >>. Nenhum partido político podia contar com a adesão total dos seus próprios chefes e muito menos com a de um sólido núcleo de filiados. A popularidade dos partidos estava intimamente ligada ao carisma pessoal de alguns dos seus líderes. Neste sentido as personalidades reinavam de maneira sobre o aparato do partido. Em sua análise, o frei Paulo Cesar diz: << Os partidos tornaram-se alianças protetoras dos interesses dos estratos dominantes, sem nenhum ideologia específica >>. Após fazer uma análise de cada partido, citando nomes e com julgamentos radicais (portanto discutíveis), Paulo Cezar demorou-se ao falar do PDC, que, segundo ele, oferecia dificuldades de entendimento até para os editores do << Brasil, Urgente >>: Fazia 10 anos que o grupo liderado por Franco Montoro e Queiroz Filho empolgou o partido e acenava para todos com a promessa de um partido verdadeiro, ideológico, capaz de apontar ao povo uma diretriz independente dos extremismos da direita e da esquerda >>. O jornal criticava o PDC, ao afirmar: << Na verdade, até agora, está esperança não vingou. O partido não aprofundou esta terceira posição, que permanecia imprecisa e elementar no plano ideológico e que, no plano político, não lhe permitiu fugir das contingências eleitorais, onde o seu oportunismo nem sempre o colocou ao lado das posições mais populares >>. Restava, contudo, segundo o jornal, a grande idéia de uma força política inspirada na ala mais jovem do partido. Esta postulava uma << abertura para a realidade e para a filosofia social cristã >> - era representada por Plínio de Arruda Sampaio e Paulo e tarso, e pretendia com isto situar a agremiação entre as correntes populares e progressistas. Na sua convenção anual (63), em Águias da Prata, duas correntes se destacaram no PDC. A carioca, liderada por Juarez Távora, que propunha a continuidade da política morna, e a paulista (Tarso/Sampaio), que defendia a << abertura para a esquerda >>, que acabou sendo a aprovada. Assim o PDC passava a apoiar o plano trienal de João Goulart, a política exterior de independência e o respeito à autodeterminação dos povos, às reformas de base, o voto ao analfabeto e a participação dos parlamentares do PDC na Frente Parlamentar Nacionalista. Em 7 de abril de 1963, em seu n.º 4, << Brasil Urgente >> publicava o seguinte: << Era necessário, naquele momento, eleger o presidente nacional do partido em substituição a Queiroz Filho. A indicação de Ney Braga, governador do Paraná, foi ardorosamente defendida pelos paulistas, e para vice-presidente o marechal Juarez Távora, pai da tese derrotada. Muito do trabalho em favor do governador paranaense foi feito por Paulo e Plínio, que acreditavam que Ney Braga estava perfeitamente de acordo com as suas idéias e com o pensamento avançado da ala paulista e, por isso mesmo, era o candidato ideal para presidir o PDC, para mais tarde postular a Presidência da República. Logo após eleito, numa entrevista dada aos jornais, Ney Braga afirmava as suas posições: Era favorável à Aliança para o Progresso, contra a revolução de Cuba, admirador fervoroso de Carlos Lacerda, julgava Julião um bobo e fazia as maiores restrições ao deputado Leonel Brizola que defendia na Câmara Federal as reformas de base >>> xxx Está é a única citação que Paulo Cezar fez em seu livro referente ao ex-governador Ney Braga. Entretanto, acha que é bem clara para mostrar as contradições de Ney Braga há 20 anos passados. Um bom gaúcho, agora, para que Ney - ou os neistas - façam a devida resposta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
14/10/1983

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