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Aramis

The Best of Brazil, a personalidade recondicionada para consumo externo

Durante anos um dos negócios alternativos lucrativos para quem desejava estabelecer-se numa área paralelamente cultural era a de comercializar discos antigos. Afinal, era só nos "sebos" que se poderia encontrar discos editados há 10, 15 ou 30 anos e que, retirados de catálogos, esgotados, tornavam-se "collector's itens". Disto aproveitavam-se alguns donos de "sebos", cotando em somas elevadíssimas as raridades mais procuradas. Hoje, embora não tenha desaparecido a importância dos sebos - ao contrário, com um crescimento marcante (*), dezenas de discos que, por anos estiveram nas prateleiras destas lojas praticamente perdem seu espaço, pois as mesmas gravações - em reedições masterizadas, bem cuidadas - e a partir de 1989, também em CD, passam a se constituir em opções mais confortáveis e até econômicas. Desde a produção de discos com fonogramas originalmente nunca reunidos em elepês - como faz o admirável Leon Barg, da "Revivendo" - até as mais comerciais remontagens, mesclando diferentes artistas, estilos, fases, etc., estão sendo colocadas mensalmente nas lojas. Felizmente, há trabalhos criteriosos - seja a reedição da íntegra de trabalhos originais - como a excelente coleção que sob supervisão de Tarik de Souza e Cynara (do Quarteto em Cy), a Polygram está fazendo dos tesouros da "Elenco", agora em CD, sejam reedições produzidas pela RGE - para só citar dois exemplos. A Polygram, é, aliás, a gravadora que mais está utilizando o seu acervo, pois tendo abrigado nestes últimos 40 anos - desde os tempos de que era a modesta Sinter / Companhia Industrial de Discos - os maiores nomes da nossa MPB, muitos ali iniciando suas carreiras, pode, tranqüilamente, fazer econômicas produções para o mercado de CD - reeditando-os também em vinil, pois ainda existe uma faixa expressiva nesta forma. Uma das coleções que Mayrton Bahia, diretor artístico, criou para disputar a faixa de CD, inclusive visando o mercado externo, é "Personalidade", "The Best of Brazil". Com a experiência de Roberto Menescal, que por mais de 20 anos foi o grande produtor artístico da casa, trazendo nas contracapas didáticos textos a cargo de valorizados profissionais e convidando artistas da sensibilidade de Mário Bag e Vanessa Stepanenko para a programação visual, esta coleção é uma produção de primeiro nível. Atinge tanto a faixa interna, que não possuía as gravações saídas anteriormente - como se credencia, com todas as condições para um mercado internacional. No último pacote de "Personalidade", supervisionado por Menescal, cinco artistas representativos dos anos 80 - Eduardo Dusek, Ângela Ro Ro, Zizi Possi, Marina e Cazuza - e o hoje já veterano grupo vocal MPB-4. De cada um, entre as várias gravações feitas durante os períodos em que foram contratados da Polygram, Menescal pintou as faixas mais representativas, não apenas num critério de sucesso (embora este conte muito), mas especialmente de representatividade de obra. Assim, por exemplo, temos a beleza de "Amigo É pra Essas Coisas" (Silvio Silva Jr. / Aldir Blanc) e "Ana Luíza" (Tom) com o MPB-4, Zizi Possi com o tema gravado originalmente para o balé "O Grande Circo Místico" (Edu Lobo / Chico Buarque) ou a releitura que Marina deu a "Garota de Ipanema". Uma coleção de primeira grandeza - que em CD, substituirá aos colecionadores mais exigentes em termos de qualidade sonora, as antigas gravações em vinil e que, para os novos compradores, por certo já preferirão na versão laser. Nota (*) Hoje existe em Curitiba meia dúzia de lojas que comercializam discos usados: desde a cinqüentenária "Feira", da família Reis - por sinal dirigida pelo Irajá, apaixonadíssimo pela MPB - a "Raridade" (Rua Visconde do Rio Branco), com a experiência e organização do paulista Clesius. Na Rua Emiliano Perneta, há também uma loja de discos e CDs usados, especializada em música erudita.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
4
03/11/1991

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