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Aramis

Beth, a felicidade que está no samba

Beth Carvalho está feliz. Muito feliz. E transmite isto no belo disco que gravou no ano passado, lançado em novembro, mas só agora chegando às paradas de sucesso: "Coração Feliz" (RCA). A grande intérprete do melhor samba, uma carioca (da Gamboa) que tem feito nos melhores discos do gênero – hoje praticamente sozinha no páreo, desde a morte de sua amiga (embora rival em termos musicais) Clara Nunes (1943-1983), Beth tem muitos créditos a seu favor. Canta bonito, afinada, espontaneamente. Foi a grande intérprete das músicas do divino Cartola e Nelson Cavaquinho – que não faltam neste seu novo elepê, com os emocionantes "Corra e Olhe o Céu"( Cartola/Dalmo Castelo) e "Notícia" (Nelson Cavaquinho). Há músicas novas – como "Peso na Balança" de Nelson Moreira ( que formou uma excelente dupla com Ney Lopes), "Doce de Cajá" do baiano Roque Ferreira, mas o clima é, mesmo, de Carnaval. Começa na Segunda faixa do lado A, com um pot-pourri de cinco minutos, nas quais estão dezenove clássicas marchas criadas entre 1899, com "Ô Abre Alas" a 1964 ("Marcha do Remador/ Se A Canoa Não Virar"), num clima entusiasmante, que há muito fazia falta. Há também "Chuva, Suor e Cerveja"(Caetano), dedicada a quatro legendas do Carnaval: Jorge Goulart, Emilinha, Marlene e Blecaute. Almir Guineto, ex-integrante do grupo Fundo do Quintal (conjunto de samba que teve em Beth a grande estimuladora) é autor de dois sambas também de temática carnavalesca: "A Luta Vai-Vai", homenagem à escola de samba paulista e "Eu Não Quero Saber Mais" ( parceria com Sombrinha), que fala da rixa de alguém que sai da Portela e vai para a Mangueira. "Mangueira e suas Tradições" de Monarco da Portela é uma declaração de amor à escola verde e rosa de Cartola. "Coração Feliz" é de três compositores da Cacique de Ramos: Adilson Bispo, Gerson do Vale e Marquinhos PDQ. O disco tem ainda uma experiência meio diferente – "Forró Bonitinho" de Luiz Gonzaga e João Silva, calçado pelos acordeões de quatro especialistas: Severo, Dominguinhos, Sivuca e Nelsinho. Tarik de Souza, com sua autoridade, lembra que não se deve estranhar que a carioca Beth Carvalho cante uma música de raízes nordestinas. Afinal, iniciada profissionalmente que a bossa nova e a toada moderna, jamais deixou de incluir canções mais populares em seus discos – que já lhe valeram nove discos de ouro ( mais de cem mil cópias vendidas) e um de platina (mais de 250 mil). Presenças especiais também no disco – como Martinho da Vila em "São José de Madureira" (Beto Sem Braço/Zeca Pagodinho) e Dona Ivone Lara em "Canto de Rainha" (Arlindo Cruz e Sombrinha). Um disco alegre, bonito e agradável. Bem a cara desta feliz Beth Carvalho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
27/01/1985

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