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Bianchi, o melhor de nosso cinema em 1983

O cineasta Sérgio Bianchi deve estar sorrindo bastante deste sábado, quando leu o Caderno de Programas e Leituras do Jornal da Tarde, de São Paulo. É que na lúcida análise sobre o ano cinematográfico, vendo com realismo um ano crítico - cinemas fechando, público em recesso, crise pelas telas do Brasil e do mundo, o estabelecimento de vídeo-cassete entre a classe média, com dezenas de vídeo-clubes nas primeiras cidades brasileiras - ao se referir ao cinema brasileiro, o grande elogio foi para Bianchi. Diz o JT: "Em tempos internos, 83 foi um ano sem maior brilho para o cinema brasileiro, que em geral comportou-se mais ou menos como o próprio País. Com algumas estimulantes e até muito brilhantes exeções e "Tabu" a "Prá Frente Brasil", de "Sargento Getúlio" a "Inocência" ou a "Próxima Vítima". Nenhuma, porém, mais resplandecente, original ou contundente do que o média-metragem Mato Eles? De Sérgio Bianchi". Mais adiante, na colocação dos 10 melhores filmes lançados em 1983 em São Paulo - com "Casanova e a Revolução" de Ettore Scola, "Fanny e Alexandre" de Bergman e "Querelle" de Rainer Werner Fassbinder - nos três primeiros lugares - o crítico do JT incluindo apenas "Mato Eles?" como filme nacional, voltou a repetir elogios: "O melhor momento do cinema brasileiro nos últimos anos. Ao retomar o tema surrado da exploração e extinção dosa índios, Sérgio Bianchi leva para a tela, com brilhante originalidade e indignação feroz, os problemas não resolvidos da dominante civilização branca, católica e ocidental". xxx A página dos melhores do cinema, que pela 18a vez, ininterruptamente, O ESTADO, publicou em sua edição dupla 31/1o), trouxe um pequeno engano de montagem: a lista da jornalista Malu Maranhão, colega de redação, saiu com o nome de Wilmar Kleiner, coordenador editorial da revista "Quem". Para repor as coisas nos lugares, Malu apontou com os 10 melhores entre os filmes exibidos no ano passado em Curitiba, "Danton", "Panagulis Vive", "Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão", "Sete Dias de Agonia" (que Denoy de Oliveira adaptou do conto "O Encalhe dos 300", do londrinense Domingos Pellegrini Jr.), "Alemanha; Mãe Pálida", "Fitzcarraldo", "Começar de Novo", "Lili Marlene", "Bar Esperança" e "O Caçador de Andróides". Já Wilmar Kleiner fez a seguinte lista: "A Escolha de Sophia", "Tootsie", "Gandhi", "Alemanha, Mãe Pálida"; "Vitor/Vitória", "O Retorno de Jedi", "Mephisto", "A Marca da Pantera", "No Fundo do Coração", e "Parahiba, Mulher Macho". xxx Outro engano, aqui devidamente corrigido: chama-se "O Desespero de Verônica Voos", o filme de Werner Fassbinder, lançado no ano passado confundido no título com "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant", também do mesmo diretor, e cujo roteiro foi por ele próprio adaptado ao teatro - sucesso há quase dois anos no Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, com Fernanda Montenegro à frente do elenco. A propósito: a primeira proposta feita pelo empresário da montagem brasileira de "As Lágrimas Amargas ..." para uma temporada em Curitiba foi na exigência de Cr$ 10 milhões por dia. Ou seja: totalmente inviável, mesmo com o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, lotado todas as noites. Mas parece que houve bom-senso e as condições foram renegociadas, para que os curitibanos possam aplaudir este admirável espetáculo teatral. xxx Falando em gente da arte, de sucesso, os elogios do "Jornal da Tarde" não se restrigem apenas a Sérgio Bianchi. No dia 22 de dezembro, analisando "Um Orgasmo Adulto Escapa de Zoológico", do autor italiano Dario Fó, peça que inaugura a sala Assombrado, no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo, o crítico Sábato Magaldi, enaltece o texto, a montagem e, especialmente, a interpretação de Denise Stocklos, paranaense de Irati, que passou pela cidade neste final de ano, para rever sua família. Destacando os méritos de Dario Fó, já conhecido por outros textos (entre os quais "Morte Acidental de um Anarquista", em cartaz há mais de um ano em São Paulo. Diz Sábato Magaldi: "Volta Denise Stoklos às suas raízes, utilizando com vigor a palavra, que já fizera dela revelação em "Bonitinha Mas Ordinária", de Nelson Rodrigues, na montagem de Antunes Filho. Felizmente, ela não apresenta números isolados de mímica, o que seria tentador para uma profissional competente no campo, mas se limita a integrar a sóbria e eficaz expressão corporal à palavra". Denise Stocklos, que iniciou sua carreira em Curitiba, há exatamente 20 anos, escrevendo, montando e interpretando "Círculo na Lua, Lama na Rua", no antigo Teatro de Bolso, é hoje uma das atrizes brasileiras em maior evidência, além da principal (e uma das raras) profissionais 11 num campo dificílimo e que até há pouco só tinha uma estrela. (Ricardo Bandeira). A mímica. Denise é o exemplo da paranaense que deu certo e por isto desde sua estréia, há dias décadas, sempre teve total espaço em nossas colunas. xxx A estrela de Luís Renato Ribas não é a de David, mas brilha com intensidade impressionante: de um amadorístico trabalho quando poucos falavam em vvzo-tape, estruturou a maior locadora do Paraná, hoje com cinco endereços e diversificando cada vez mais as atividades. Idealizou a Apre-vídeo, reunindo os tapes-clubes que atuam com seriedade no mercado, mantém duas colunas especializadas - uma em O ESTADO - e agora criou um sistema nacional para que o associado de um clube de qualquer cidade possa ter benefícios quando se desloque a outra. O "Vídeo Jornal", atinge agora o no 30 e mudou a paginação - trazendo na edição de 2 de janeiro, um dos mais belos textos pacifistas escritos em todos os tempos: "O Último Discurso", que Charles Chaplim (1889-1977) fazia ao final do clássico "O Grande Ditador (1940). Um texto que passados 44 anos, merece mesmo ser reproduzido de todas as formas - posters, mensagens de fim-de-ano, transcrições em jornais, revistas etc. xxx Eis apenas um trecho de "O Último Discurso", para sentir toda a atualidade e humanismo do imortal Carlitos: "O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens..levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e aos morticínios. Criamos a época da ferocidade mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina que produz abundância, tem-nos deixado na penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos da humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura, sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
04/01/1984

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