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Aramis

A boa página (sem leitores)

Há quarenta anos, num de seus primorosos contos, Bem Hecht (1892-1964) escrevia: "A juventude é um país maravilhoso. Eu sei, porque um dia já morei lá". A juventude de Bem Hecht foi também maravilhosa: viveu os tempos românticos da imprensa norte-americana foi fundador do "Chicago Times" (1923) e a partir de 1927 desenvolveu em Hollywood um trabalho de roteirista que lhe valeu um "Oscar em 1935, (por "The Scoundrel") e do qual só se afastaria sete anos antes de sua morte ("Adeus As Armas/ A Farewell To Arms", 1957, de king Vidor, do romance de Ernest Hemmingway), da imensa e admirável obra de Hecht, grande parte desenvolvida em parceria com Charles MacArthur (1895-1956), "Primeira Página", escrita em 1928, permanece como um dos retratos mais perfeitos de uma fase da imprensa - que ele tão bem conheceu. Grande sucesso na Broadway, "The Fronte Page" teve sua primeira versão em 1931, produzida pelo lendário Howard Hughes e dirigida por Lewis Millestone, com Adolph Menjou no papel do repórter Hildy Johnson. Nove anos depois, Howard Hawks refilmou a peça ("His Girl Friday, 1940), transformando Hildy em mulher, com Rosalind Russel numa notável criação e Cary Grant como editor Walter Brns. 34 anos depois, o teto de Hecht e MacArthur, resiste ao tempo e transformou-se nas mãos do lubtcheano Billy Wilder, num dos mais bem humorados e divertidos filmes sobre a imprensa, tema aliás a qual Wilder já havia dedicado um de seus mais amargos trabalhos ("A Montanha dos Sete Abutres / Ace in the Hole/ The Big Carnival). Ex-repórter, Billy Wilder em "The Big Carnival" discutiu moral de um jornalista (magnífica criação de Kirk Douglas) que explora, de forma sensacionalista, o drama de um mineiro preso aos escombros de um desabamento que a qualquer momento pode ceifar a sua vida. "The Fronte Page", não tem, evidentemente a mesma dureza de "A Montanha dos Sete Arbutres", embora os diálogos ferinos e inteligentes de Heacht-MacArthur, não perdoem os aspectos mais negativos da imprensa. Reduzido aos ambientes teatrais (e uma comparação com a mais recente montagem desta peça no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1971, é indissociável), "A Primeira Página" tem, entretanto, um ritmo notável, fazendo com que os seus 105 minutos transcorram agradáveis, brilhantes, devido principalmente ao excelente elenco - não só Walter Mathau (Burns) e Jack Lennon (Hildy), mas também ao extraordinário elenco de apoio (Vincente Gardenia, Susan Saradon, Carol Burnett, David Wayne, Austin Pendleon, etc). Como uma temática interessantíssima, excelente nível artístico, seria de se esperar que "A Primeira Página" motivasse um interesse do público, ao menos do setor universitário (para não falar nos estudantes de comunicação). Mas os resultados de bilheteria foram fracos, tão fracos, que hoje será o último dia de exibição deste filme, forte candidato a lista dos 10 melhores do ano. O que aliás nem nos surpreende mais, pois "Licença Para Amar Até a Meia Noite" (Cinderella Liberty) de Mark Rydell, lançado terça-feira no Rivoli, embora precedido de excelente referências, sai de cartaz hoje. Amanhã, entre um reprise, pela terceira vez - "Um Siciliano na Dinamarca". O que faz com que se repita mais uma vez: cada público tem o filme que merece. E é por isso que Curitiba vai ganhando fama de capital da pornochanchada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
4
22/08/1975

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