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Aramis

A boa palavra musical de Marlene

Das duas cantoras de maior sucesso popular dos programas da rádio Nacional na década de 50, enquanto Emilinha Borba (Emília Savana da Silva Borba, carioca, 54 anos, 35 de carreira) praticamente desapareceu, embora bissextamente faça algumas inexpressivas gravações na CBS, principalmente na época carnavalesca, tentando um difícil retorno, a sua maior rival, Marlene (Vitória Bonauitti, paulista, 53 anos, 35 de carreira) adquiriu uma nova personalidade e hoje está entre as mais respeitáveis show-woman do mundo musical brasileiro. Embora nunca tenha deixado definitivamente o show-bussines musical, verdade é que Marlene passou um período praticamente na obscuridade. Mas teve a felicidade de voltar num espetáculo antológico - "Carnavália", produzido e apresentado pela admirável Eneida de Moraes (1903-1972), gravado em dois lps da extinta Codil, hoje peças disputadas por colecionadores. Em seguida, o admirável Hermínio Bello de Carvalho produziria um espetáculo com Marlene para teatro ("É A Maior!", registrado em lp pela RGE), que confirmava que aos cinqüenta anos, a antiga vedete musical do auditório da Nacional continuava na melhor forma. Há dois anos, convidada por Gianfrancesco Guarnieri/Fernando Peixoto, Marlene mostrava ser também uma boa atriz na interpretação de uma das personagens de "Botequim", musicado pelo bom Toquinho (Antonio Pecci Filho, 27 ano), também registrado em lp (RGE, 303.0018, 1973). No ano passado, Marlene voltou ao teatro, em novo espetáculo escrito e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho: "Te pego Pela Palavra". E enquanto não temos chance de assistir ao vivo o excelente espetáculo - que fez grande sucesso na Guanabara - no auditório Bento Munhoz da Roca Neto, pode-se ter uma boa idéia do nível deste show através da audição do lp (Odeon, SMOFB3855, dezembro/74), lançamento em janeiro/75), reproduzindo em duas faixas únicas, toda a trilha musical do espetáculo. Além da extraordinária presença vocal de Marlene, este espetáculo entusiasma pela seleção musical que Hermínio, com sua sensibilidade e conhecimento, soube montar, verdadeiro painel da MPB ao longo de quatro décadas - 40/70, Marlene demonstra tanta segurança na interpretação de músicas antigas, como, principalmente, de canções de jovens criadores contemporâneos - como João Bosco/Aldir Blanc, e Gonzaga Junior. Aliás, Marlene com este show/lp entra na categoria das boas interpretes das músicas desta notável dupla (Bosco/Blanc), conseguindo igualar - e só não dizemos superar, porque achamos isso quase impossível - as interpretações de Elis Regina, a música como "Dois Prá Lá, Dois Prá Cá" e "Cabaré". O espetáculo abre com dois velhos sucessos carnavalescos de Luiz Antonio "Lata D'Água" e "Zé Marmita", interpretados apenas pelo grupo "Re-Lax", entrando Marlene na terceira faixa ("Pra Quem Quiser Cantar", de Haroldo Barbosa) e mostrando então toda sua versatilidade, em canções de Toquinho/Guarnieri ("Canção do Medo"; de Cabaré"), Vanzolini ("Ronda"), Moreira da Silva ("Na Subida do Morro"), Manezinho Araújo ("Pra Onde Vai, Valente?"), Antonio Almeida ("Serenô"), João de Barro ("Mané Fogueteiro"), Taiguara ("Primeira Bateria"), entre outras, na primeira parte (lado 1, 25: 01 minutos). Na segunda parte, novas músicas de Bosco/Blanc ("Beguine Dodoi", "Resistindo", "O Chefão") uma [seqüência] de músicas em torno do tema trem (O Trem Chegou, de Hervê Cordovil, "Trem de Alagoas", de Waldemar Henrique-Ascenso Ferreira; "O Trem", de Gonzaga Junior) e, entre muitas outras coisas boas, encerrando com um novo samba de Cartola/Hermínio Bello de Carvalho: "Catedral do Inferno".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
05/02/1975

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