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Aramis

Boas vendas, estádios cheios. É a música de fé

As relações da fé com a música transcendem simples registros fonográficos e, na verdade, dispensam até uma promoção tradicional. Dos cantos umbandistas às mais sofisticadas missas de grandes autores, há toda uma imensa musicografia - e que ganha, especificamente nas igrejas evangélicas e pentecostais, uma exploração imensa (haja vista os milhares de cópias de discos que as Igrejas de pastores como Mateus Janchen e David Miranda, donos das rádios Marumby e Universo, respectivamente, vendem através de seus tabernáculos). Dentro dessa miscelânea de cantos de fé - desde a maior exploração da massa de crentes até produções de nível artístico elevado - há um programa para longos estudos e pesquisas, por sinal até hoje nunca levantados no Brasil - em qualquer aspecto (econômico, social, artístico etc.). Canto político - Avalisada por Dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Féliz do Araguaia, Mato Grosso - um dos mais admiráveis líderes da chamada "Igreja da Resistência" no Brasil, pelas suas preocupações sociais, temos pela CBS uma edição das mais bem intencionadas: "Cantos da Libertação do Povo de Deus". Da obra de um respeitado e admirado compositor da Nicarágua, Carlos Mejia Godoy, em adaptações de Sérgio Lopes, temos três criações falando em justiça social - "Canto de Entrada", "Salmo 121" e o "Credo", de outro compositor voltado à música religiosa, mas de fundo político - Miguel Manzano, são cinco outros temas; complementam "Oh Pecador" (Sinner Man), em adaptação de Zé Ramalho; "Aleluia, O Senhor Ressuscitou" e "Unidos Venceremos", de Andres Barriales, em adaptações de Wilson Blanco (também responsável pelos arranjos e regência de todas as faixas). Com coral e participações especiais do Golden Boys, Amelinha e Zé Ramalho, esse álbum de luxuosa apresentação - (capa dupla, reproduzindo o mural pintado pelo padre espanhol Máximo Cerezo Barredo, na Igreja de S. Félix do Araguaia) - é uma tentativa da CBS penetrar num mercado tão interessante quanto estimulante: a música de fundo religioso, mas, no caso, com profundas conotações sociais - especialmente na visão de libertação que Mejia Godoy e Barriales colocam em seus hinos. As missas - Há mais de 20 anos, a "Missa Luba", desenvolvida em língua Bantu, representou uma abertura de liturgia musical para a criação de missas desenvolvidas em idiomas e dialetos do Terceiro Mundo, capazes de levar a evangelização a imensas faixas até então resistentes à música Luba", logo teria outros segmentos - e como a "Missa do Vaqueiro", que chegou a ser gravada por Luiz Gonzaga e o Quinteto Violado. Ariel Ramirez, nome maior da música argentina, se propôs nos anos 60 a compor uma missa cantada sobre formas musicais puramente folclóricas e do que resultou uma notável "Missa Criolla", gravada em 1978 com a participação do grupo Los Fronteirizos e o Coro da Basílica de Socorro, sob a direção do padre Segade, regência do próprio Ramirez - e a participação especial de Jaime Torres, excelente intérprete de "Charango". Na Espanha, R. Fernandez de Lattore/J. Torregrosa, dois anos antes (1966) haviam desenvolvido a "Missa Flamenca", composta a partir de temas andaluzes, transcritos para solistas (Raphael Romero, Pericon "Chocolate", Pele "El Cutata" e "Los Serranos"), guitarras (Vitor Monge "Serranito" e Roman de Algecinas), coral (Maitea e Cantores do Coro Easo), mais executantes de instrumentos típicos da Andaluzia, sob regência do próprio autor, José Toregrosa. A Polygram/Philips, reúne agora num disco ("Misa Criolla/Misa Flamenca") essas duas originais propostas de missas cantadas, destinadas a povos diferentes e partindo de seus próprio valores culturais. Um belo lançamento. O Padre Zezinho (José Fernandes de Oliveira, Machado, MG, 1941), levou mais de 15 mil pessoas ao Ginásio Almir de Almeida, no Tarumã, num domingo de 1985. Na noite anterior, a internacional roqueira Nina Hagen, com toda promoção de superstar, foi vista por menos de 5 mil pessoas no Ginásio Couto Pereira. Onde quer que esse sacerdote da ordem do Sagrado Coração de Jesus se apresente, repete-se o sucesso: milhares de pessoas para aplaudir seu cantos religiosos, desenvolvidos de uma forma moderna e comunicativa. Apesar disso, o padre Zezinho mantém a simplicidade de professor de comunicação de uma escola de sua ordem em Taubaté, SP e não gosta de entrevistas em televisão. Já escreveu 72 livros (traduzidos em 5 línguas, quase todos com 10 e 20 edições), já compôs mais de 200 canções em 55 discos gravados e conhecidos em mais de 30 países. Algumas de suas canções são parte do folclore religioso nacional: quem vai às igrejas católicas e evangélicas pode estar cantando uma de suas músicas sem o saber, pois o padre Zezinho é aceito por quase todos os grupos religiosos. É assim o compositor religioso de maior repercussão no Brasil nos últimos 15 anos, e apesar desse imenso público, poucas vezes se vê sua fotografia nos jornais. É um acaso claro da música de fé, de grande penetração. Entre tantos discos do padre Zezinho, a COMEP - Comunicação Edições Paulinas, lançou recentemente "Os Melhores Momentos", primeiro de uma série de discos destinada a fazer sua obra chegar a um público não especificamente religioso, mas capaz de aceitar suas canções suaves e de alto astral.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
27
26/01/1986

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