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Aramis

Bob Dylan, canção sempre consciente

Aos 49 anos, 30 de estrada, Bob Dylan continua a ser um dos grandes nomes da música americana. A ferocidade do impetuoso líder da "protest song" do início dos anos 60, quando surgia com "Blowing in the Wind" e "Masters of Wars", em defesa dos Direitos Civis e, principalmente, contra o envolvimento dos EUA no Vietnã, deu lugar ao compositor reflexivo, voltado ao espiritual - mas sempre denso em suas canções - precursor da brabeza de um Bruce Springsteen. Agora, enquanto finalmente é lançado nos EUA pela Sand Paramount Home Vídeo o documentário "Don't Look Back", que D. A. Pennebreaker rodou há 19 anos, documentando a primeira excursão de Dylan e sua grande companheira, Joan Baez pela Inglaterra, chega no Brasil um novo disco de Dylan: "Down in the Grove", CBS. O vídeo de Pennebreaker demorou para sair, porque até 1982 esteve interditado por decisão do próprio compositor, que não gostou do filme - embora, em seu lançamento, tenha tido elogios da crítica e grande sucesso. É de se esperar que alguma das distribuidoras traga este vídeo para o Brasil, assim como o longo (3 horas de duração) filme que Bob escreveu, dirigiu e interpretou em 1977, ao lado de Joan Baez - também inédito entre nós (e mesmo nos EUA, teve uma discreta carreira). Em "Down in the Grove", seu novo disco, as formações instrumentais variam: desde um econômico trio, com vocais e teclados de Madelyn Quebec (em "When Did you Leave Heaven?") e Willie Green no segundo vocal (em "Down a Dead End Street") até formações maiores, com 6 a 8 acompanhantes em "Death is not the End" e "Silvio". Em todas as canções, sente-se aquela profundidade e enternecimento de quem, com extrema dignidade, fez do ofício de cantar um apostolado - e que por isto continua a merecer respeito e admiração. xxx Se Bob Dylan é sempre a confirmação de validade intrínseca, vez por outra temos surpresas agradabilíssimas. É o caso de Boris Gardiner, que sem maiores referências chega em seu primeiro elepê ("Everything to Me", Revue Records / Estudio Eldorado). Nada sabemos a seu respeito, mas basta ouvir o disco, com arranjos e produção de Willie Lindo - também autor de 4 das dez faixas para sentirmos a força de um intérprete maior. Boris Gardiner canta suave, diz claramente as palavras, amparado em uma pequena formação: o multi Willie Lindo também na guitarra, Robbie Lynn e Frankley Waul alternando-se nos teclados; Sly Durhan e Michael Richards na bateria e Robbie Lynn nos sintetizadores. Boris é também baixista e o bom gosto de seu repertório pode ser medido pela inclusão ao lado dos temas inéditos da belíssima "Jean", uma das obras primas do poeta, compositor, cantor e músico Rod McKuen, um dos maiores talentos americanos, mais de 30 álbuns gravados - e até hoje imerecidamente esquecido - apesar de já ter fornecido material para um dos melhores elepês de Sinatra ("A Man Alone", 1967, Reprise) e feito uma das 10 mais belas trilhas sonoras da história do cinema ("Joanna", filme dirigido por Michael Sarne, em 1968).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
30/10/1988

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