Boulez, no Brasil só em discos, ao vivo no NYIFA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de julho de 1988
Embora nos Estados Unidos, fazendo concertos em duo com a pianista Glacy Antunes, em várias cidades, o flautista e maestro Norton Morozowicz lamentou não chegar a Nova Iorque no dia 15 de junho. Com isto perdeu um dos pontos mais altos da programação musical do New York Kazz Festival: Pierre Boulez and the Ensemble Intercomporain de Paris. Aos 63 anos, o nome mais conhecido da música contemporânea, Boulez desde os anos 50 assumiu o papel de geômetra do serialismo integral e com a reputação de construtor (de novas formas sonoras) e demolidor (das tradicionais) é um dos criadores mais importantes deste final de século - mas que só agora, quase 30 anos após suas primeiras gravações chega ao menos fonograficamente no Brasil, numa série de oito elepês (só viabilizados devido a associação da cadeia Breno Rossi com a CBS), dos quais os três primeiros trouxeram suas versões de "O Pássaro de Fogo" (Stravinsky), "Pierrot Lunaire" (Schoenberg) e "Octandres", "Density", "Deserts" e outras obras de Edgard Varése. A este, somam-se mais cinco elepês, mostrando a vanguarda da música inaugural de duas composições camerísticas de outro vanguardista francês, Oliver Messiaen, 80 anos. Em concertos no Museum of Modern Art, Boulez dirigiu no dia 15 uma versão com violino de "Pastorale" de Stravinsky, tendo como solista Jeanne-Marie Conquer; na noite seguinte, já no Majestic Theatre at The Brooklyn Academy of Music, apresentou peças de Denisov ("Hommage a Pierre"), Dalbavie ("Diademes"), Werbern ("Symphonie, Opus 21") e Messiaen ("Oiseaux Exotics"). Encerrando suas intervenções - dentro da programação ampla do Festival - mostrou sua última composição, "Derive, Memoriaele" - num programa entremeado a Murail ("Desintegrations") e Schoenberg ("Suite, Opus 29").
Para os que conheceram a importância da música contemporânea, só estes dados já dão uma dimensão do que foi a programação de música - dentro de um setor que não esqueceu os diversos estilos - desde um digestivo espetáculo no dia 20, no Marquis Theatre ("The American Popular Songs: From Broadway To Hollywood"), homenagens a Cole Porter, dezenas de concertos de duos, trios, quartetos e grandes orquestras.
LEGENDA FOTO - Boulez: só agora, em discos, no Brasil.
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