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Aramis

"Cabra" como opção do sexo explícito

Após um verão de vacas magérrimas, em termos de opções culturais, a programação começa a melhorar. No Teatro Guaíra, na próxima semana, a estréia daquela que é, em nossa opinião, a melhor montagem feita no Brasil nos últimos anos: "Feliz Ano Velho", do livro-depoimento de Marcelo Paiva (já em 44ª edição pela Brasiliense). Cinematograficamente, a cidade ganha uma nova sala de exibição: o Ritz (com 300 lugares, ar condicionado), que, no subsolo do edifício do C&A, na Rua das Flores, nº 132, terá programação elaborada pela Fundação Cultural, que ganha essa unidade graças ao convênio formado entre o município e a multinacional organização. xxx Numa época em que 10 cinemas fecham em média, por mês, em todo o País (e os que restam são assolados pelas pornoproduções da pior qualidade), é significativo que Curitiba ganhe um cinema dedicado a uma programação de alto nível. Os bons resultados obtidos pelo Cine Groff, nos 3 anos em que vem funcionando, e a experiência dos 10 anos da Cinemateca do Museu Guido Viaro, dão a Francisco Alves dos Santos, responsável pela programação da área de cinema da FCC, condições de fazer do novo Cine Ritz - e, em breve, do Cine Luz (no edifício-sede do City Bank, na Praça Santos Andrade), salas com boa atuação. Para a inauguração do Ritz, não poderia ser programado um filme mais importante: "Cabra Marcado para Morrer". Emocionando no I Festival Internacional de Cinema, Vídeo e TV, no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, quando conquistou os 4 principais prêmios, esse documentário de Eduardo Coutinho, cuja realização levou 20 anos, é um dos mais emocionantes testemunhos sobre a repressão no Brasil, abordando a questão das Ligas Camponesas do Nordeste. Por coincidência, um jovem professor paraibano (radicado há 20 anos em Londrina), César Benevides, concluiu uma tese de mestrado em História sobre o mesmo tema, que estará defendendo na primeira semana de abril, na Universidade Federal do Paraná. "Cabra Marcado" recebeu mais duas premiações no recente xxxV Festival de Cinema de Berlim, encerrado no último dia 26: o da Crítica Internacional da Federação da Imprensa Cinematográfica (dividido com "Secret Honor", de Robert Altman) e o da Confederação Internacional de Cinemas de Arte e Ensaio (também dividido, desta vez com "Les Favoris de la Lune", de Otar Oseliani, da França). Exibido, até agora, apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, "Cabra Marcado para Morrer" deverá estrear na quarta-feira, com a presença de Eduardo Coutinho e, possivelmente, do produtor Zelito Viana, este, aliás, um dos mais cotados candidatos à presidência da Embrafilme. xxx "Cabra Marcado para Morrer" deve permanecer o mínimo de um mês em cartaz. Além das premiações e da importância do tema político que aborda, abre um novo cinema - o que sempre atrai público. Em seguida, já há dois outros filmes previstos para essa sala: a elogiada comédia "Quarteto Irreverente", de Mário Monicelli, e "Erendira", de Rui Guerra. Hábil negociador, em termos de exibição, o bom Chico Alves está conseguindo, também, outros esplêndidos títulos para o circuito cultural: "O Baile", de Ettore Scola, "Patria Amada", de Tizuka Iamasaki (lançado esta semana em 13 capitais), e até "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco. Pelo visto, a dieta de pornoproduções vai terminar. Ou, ao menos, haverá um cardápio mais agradável, em termos estético-visuais. LEGENDA FOTO - Dona Elisabeth Teixeira, a grande personagem de "Cabra Marcado para Morrer", que inaugura o novo Cine Ritz, dia 13.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
09/03/1985

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