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Câmara inicia devassa nos desmandos da FCC

Apesar da intervenção do prefeito Jaime Lerner na crise provocada pela inabilidade, incompetência e autoritarismo das sras. Lúcia Camargo e Celise Niero da Fundação Cultural de Curitiba, a demissão dos cinco funcionários da Cinemateca do Museu Guido Viaro e a violência cometida contra a Associação de Pesquisadores da Música Popular Brasileira chegou a Câmara Municipal, que desde a semana passada começou a se preocupar pelos desmandos que vem ocorrendo neste setor da administração municipal. Assim, ao mesmo tempo em que o vereador Mário Celso, vice-presidente da casa e coordenador da bancada do PMDB, encaminhou no dia 3 de maio um pedido de informações sobre a arbitrariedade da assistente social Celise Niero, na noite de 20 de abril no Teatro de Paiol (que resultou em que o cinegrafista Rafael Brenner Silva fosse assaltado há poucos metros do Paiol - e impedindo a gravação do penúltimo show de Luiz Gonzaga Jr em Curitiba) - medidas mais profundas em relação aos desmandos da FCC foram tomadas. O vereador Angelo Vanhoni (PT) propôs a convocação da própria presidente da Fundação Cultural, Lúcia Camargo, para a sessão de ontem à tarde - o que é bastante significativo: foi esta a primeira vez, desde que o prefeito Jaime Lerner, em sua primeira gestão, criou a Fundação Cultural de Curitiba (*), que um dirigente desta instituição comparece na Câmara, intimado a prestar esclarecimentos devido a fatos gravíssimos denunciados pela imprensa e Sindicato dos Servidores Municipais. Assim como o vereador Mário Celso, homem de comunicação dos mais conceituados na cidade sempre se preocupou em fiscalizar e denunciar desmandos na área cultural, o vereador Angelo Vanhoni tem se revelado um dos homens públicos mais atentos com a questão cultural. Em 16 de janeiro de 1991, Vanhoni apresentou um projeto de lei que cria incentivo fiscal para a realização de projetos culturais no município de Curitiba. A exemplo do que acontece em São Paulo, onde a prefeita Luiza Erundina já regulamentou a chamada "Lei Mendonça"- que trouxe incentivos fiscais a quem financiar produções locais - Vanhoni, lucidamente, tomou a dianteira e propôs no início do ano um projeto semelhante. Preocupa-se, entretanto, o vereador Angelo Vanhoni - a exemplo de outros integrantes do Legislativo municipal - como a forma com que os recursos que o prefeito Jaime Lerner tem canalizado para a Fundação Cultural vem sendo queimados em promoções das mais discutíveis. Assim, seu projeto de lei que visa estimular projetos em todas as áreas culturais, terá controle de uma comissão independente e autônoma, formada por pessoas de comprovada idoneidade e de reconhecida notoriedade na área cultural, capazes de garantir a boa utilização dos recursos que venham a serem captados pela lei que entrará em votação em breve. xxx Os episódios ocorridos a partir do dia 20 de abril - a violência cultural contra a Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, demissões injustas de funcionários do Centro Cultural do Portão e especialmente da Cinemateca do Museu Guido Viaro - colocaram a já delicada situação da Fundação em maior evidência. Afinal há muito tempo que tanto o prefeito Jaime Lerner vem recebendo denúncias e reclamações especialmente em relação aos "métodos de trabalho" e "iniciativa" altamente discutíveis tomadas pela assistente social Celise Niero e por Lúcia Camargo - como acusações ainda mais graves tem também chegado à área legislativa. Assim, para esclarecer os fatos e verificar realmente a situação de um setor importante e sensível, o prefeito Jaime Lerner decidiu começar uma nova intervenção branca na Fundação, enquanto os vereadores da oposição em seus legítimos direitos de legislar e fiscalizar em favor do município - se propõe a ir a fundo na questão. A convocação da diretora da Fundação para comparecer na Câmara, ontem à tarde - independente das explicações que ela possa dar - representam apenas o início de uma fase em que promoções caríssimas, distantes da realidade de nosso município e com retornos mínimos para a população - devem cessar. Afinal não há tanto dinheiro sobrando para que o município desperdice quase Cr$ 3 milhões por dia, com uma fundação que é questionadíssima em seu funcionamento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
14/05/1991

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