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Aramis

Canto Aberto chega com boas intenções

Nos primeiros 7 minutos a sensação é de se estar vendo um áudio-visual: num canto do palco do miniauditório Glauco Flores de Sá Brito a projeção de slides com cenas de violência e miséria urbana, entremeadas de guerra, enquanto, no lado oposto, Vilson Carminati entoa uma repetitiva canção. Depois, as luzes acendem-se e entram em cena os personagens de "Júri do Povo": Orlando (Alcir Bay), teoricamente um idoso funcionário público aposentado; Maria (Dionei Franco), a viúva proprietária de um bar decadente; Duque (Ulisses Yarochinski), um jovem violento e rebelde e Chico (Carlos Delgado), um garoto assustado. A ação fica neste ambiente e num único ato: após o linchamento de um jovem presumivelmente assaltante - mas que na verdade era inocente - provoca reflexos e angústias no velho, mas ante a ameaça dos outros três, concorda em manter a mentira. Carlos Queiroz Telles, autor de "Júri do Povo" - peça escolhida pelo jovem grupo Cante Aberto Produções Artísticas para iniciar sua carreira, é um autor eclético: aos 45 anos, tem uma dezena de textos, desde adaptações de fatos históricos ("Frei Caneca", "A Semana") até análises sociais ("Muro de Arrimo", "Marli Emboaba") que refletem cenas do cotidiano. A idéia deste "Júri do Povo" é interessante: a violência urbana explodindo em linchamentos, como os que se repetiram em várias cidades, inclusive Curitiba, em 1979, dá atualidade à proposta. Infelizmente a impressão que se tem é de que o texto ficou inacabado, mutilado, pela ação da censura - embora tenha sido escrito especialmente para a "Feira Brasileira de Opinião", onde se reuniam sketches de vários dramaturgos. Para uma encenação isolada, tornava-se necessário dar o máximo de força ao espetáculo e, infelizmente, não se pode exigir de jovens que só agora estão dando os primeiros passos uma expressão maior. A juventude de Alcir Bay, no personagem "Orlando", tanto irreal os diálogos e os esforços de Dionei, Carlos e Ulisses merecem estímulos. São amadores que animados pelas encenações do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (cujo setor de teatro resiste graça são bravo José Maria Santos) decidiram criar um grupo, que, como anunciam "não vem cantar o amor, falando de dor e flor, não gasta palavra em vão, não diz coisas de não. Quer no grito de um canto aberto cantar o amor entre os homens. Assim sendo é que num mundo em que não existe tempo pra mais nada. Nem pra dizer bom dia a um amigo, resolvemos continuar criando e vivendo tipos, através da imprescindível liberdade de expressão, compensando deficiências da vida real, desviando de si para os personagens as reações dos espectadores, assumindo atitudes que não ousaríamos comumente". Doce pássaro da juventude: ideais nobres e puros, de jovens bem intencionados. Pelas boas intenções (embora o caminho do inferno delas esteja repleto) o Canto Aberto merece ser saudado. Em termos artísticos há um longo aprendizado que, havendo humildade, o grupo poderá adquirir. Para a direção desta estréia teve ajuda de Luthero Almeida, ator premiado (77/78) e que anteriormente dirigiu duas peças infantis ("Pop, A Garota Legal" e "Pluft, O Fantasminha"). Com um texto frágil e intérpretes verdes, Luthero buscou dar o melhor de si. Utilizou - e abusou, em nossa opinião - dos slides e das músicas de Vilson Carminati (compositor que promete, tendo já feito as trilhas para "O Besouro" e "O Mágico", de Hugo Mengarelli e "Pela Porta Verde", de Palito, todos filmes em super-8). É um espetáculo bem intencionado, mas que não consegue alcançar as pretensões. E o tema é sério demais para ficar no meio caminho. Mas acreditamos no idealismo dos rapazes do Canto Aberto e esperamos seus próximos trabalhos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
8
03/04/1980
É bom saber que meus pais Dionei e Alcir puderam fazer tantas coisas boas para o teatro do paraná, meus sinceros OBRIGADO Ibsen Bay

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