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Aramis

Cantoras

Continua a inflação de vozes femininas na MPB. Hoje, duas baianas, entre o humor e o regional, mas ambas bastante interessantes a quem está aberto a ouvir o nosso som. Maria Nazaré, baiana de Salvador, em << Pede Licença >> (RCA, 103.03333) é uma cantora de muita vivência nordestina: começou participando de festivais de compositores amadores no Recife, para onde se mudou ainda jovem e lá chegou a fazer, pela Rozemblite, um disco. Depois, passou a cantar em bares até que veio para São Paulo. Se na capital pernambucana já era um nome conhecido, no << Sul maravilha >> teve que começar modestamente, em programas de calouros, até gravar seu primeiro compacto duplo, que, entretanto, passou despercebido. Agora, com << Pede Licença >>, produção de Osmar Zam, mostra muita informalidade e balanço, gravando músicas do paranaense Pinduca - um dos que mais faturaram em cima do ritmo amazonense - carimbó - como << Garota da Tacacá >>, << Tem Pai que é Cego >>, << Caruê Caruá >>, << A Morte do Urubu >>, << O Vencedor de Mongaba >>, << Mensagem ao Recife >> e << Vai ao Pará, Parou >>. Outras músicas inéditas numa linha descontraída, quase chegando ao humor, estão << Que houve com o sonho >>, << Mundos e Fundos >>, << Raspadinha >>, << De doutor e poeta >>, << Quem não pode com a mandinga não carrega patuá >> E << Cinzas >>. Entre as conhecidas, além das músicas de Pinduca, temos << Cuma é o nome dele? >>, e Manezinho Araújo, << Cintura fina >> (Luiz Gonzaga/-Zé Dantas), << Paraíba >> (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira), << Ovo de Codorna >> (Severino Ramos) e a deliciosa << Perder e Ganhar >> (Paulinho da Viola). Também baiana é Cremilda, que cantando músicas de forró encontrou em Gerson Filho, acordeonista, compositor e produtor do gênero, o seu grande estimulador. Interpretando xotes, toadas e baiões, com letras divertidas, Cremilda se tornou conhecida junto ao público que aprecia o gênero. << Coqueiro da bahia >> (Chantecler, 2-11-405-275), é, no mínimo, um elepê divertido. Cremilda, com parceiros ou sozinha, é autora de faixas como << O velho João Gregório >>, << Boi Ouro Fino >>, << Marca do Sofrer >>, << Parque São João >> e << Festa de Bom Jesus >>. Anastácia, parceira habitual do acordeonista Dominguinhos, é outra das autoras com presença marcante neste elepê: dela são << Cuidado com essa menina >>, << Saudade do Sertão >>, << Forró balançada >>, << Formiga que quer se perder >>, << Cantiga de Cego >>, com parceiros novos - Eliane, Paraná Queiroz. Sem o humor de Nasaré ou Cremilda, mas tendo, em compensação um público fiel, que há muito reclamava sua presença, Núbia Lafayette é outra cantora que tem seu lugar na MPB, dentro de uma faixa especifica. Após um compacto duplo, que, lançado há alguns meses teve excelente repercussão, a CBS a coloca nas lojas, com um elepê bem produzido por Eduardo Lages, responsável por arranjos e regência. Sem abandonar o estilo << dor-de-cotovelo >>, que a consagrou há mais de 15 anos. Núbia deixa de gravar músicas de autores jovens, como o piauense Fausto Nilo (<< -Coração Condenado >>, parceria com Stélio Valle) ou clássico << Conselho >>, de Dennis Brean (Augusto Duarte Ribeiro, 1917-1969) e Osvaldo Guilherme, Núbia fez em << Meu amado, meu companheiro >>, a versão desta canção do argentino Leonardo Favio e, em << Sinfonia a Beira Mar >>, como parceira de Glória Silva. *** Angela Maria (Abelin Maria da Cunha), 52 anos a a serem completados terça-feira, dia 13, e que aos 33 anos de carreira - considerando que em 1974 já freqüentava programas de calouros, chega a um número de gravações atingido por poucas artistas no Brasil: cem elepê. << Apenas Mulher >> (Odeon, março/80), apresentando realmente como << lançamento histórico: 100.º lp de Angela Maria >> é a confirmação da popularidade de uma cantora de origens humildes - foi operária até conseguir se lançar no meio artístico, via Dancing Avenida e, em 51, gravando seu primeiro 78rp (<< Sou Feliz >> e << Quando alguém vai embora >>). Sem preconceitos, ao contrário, sabendo ouvir/entender artistas populares como Angela Maria se verificar certos aspectos curiosos. Há alguns anos, João Bosco/Aldir Blanc, grandes curtidores desta cantora de grande personalidade, souberam utilizar sua participação especial na faixa << Miss Suéter >>. Agora, a surpresa deste lp comemorativo a 100 elepê, é a presença de Chico Buarque, dividindo com Angela a interpretação de << Quase Quebrei o Meu Rádio >> (Nelson Ned/Majó/Frank Gau). Chico, em sua visão político-social-artística, entendeu o sentido de artistas como Angela e do compositor Nelson Ned, e aceitou participar desta gravação. Angela, aliás, interpreta, com muita garra << O Rei de Ramos >>, de Chico-Hime, tema musical da peça de Dias Gomes, << Apenas Mulher >>, de Gonzaguinha, para citar dois chamados << compositores de elite >>. Mas José Messias compôs um << Tributo à Maysa >> que teve em Angela uma interpretação apaixonada. FOTO LEGENDA - Lançamento Histórico: 100 Lp de ANGELA MARIA Apenas Mulher
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
11/05/1980

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