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Aramis

Cazés, um disco de muita emoção

Pai de peixe, peixão é! Inverte-se o adágio popular para explicar a tardia - mas ainda bem-vinda - revelação de Marcel Cazés, que com um lp independente ("E assim eu vou vivendo...", março/1986) surge com uma coleção de músicas deliciosas, em interpretações carinhosas feitas por gente do maior talento. Marcel Raoul Henri Cazés (Rio de Janeiro, 14/4/1920) é, como diz o jornalista - e grande conhecedor de MPB - João Máximo, "um desses cariocas em extinção, apaixonado por sua cidade, seus habitantes, suas coisas e convencido de que a melhor maneira de viver essa paixão é em forma de música". Dois de seus filhos, Henrique e Beto Cazés, são músicos dos mais talentosos e basta dizer que integravam a Camerata Carioca - o melhor grupo instrumental brasileiro surgido a partir de 1979, hoje, infelizmente, desfeito com a saída de Joel Nascimento (bandolin) e Maurício Carrilho (violão). E numa iniciativa de Henrique e Beto Cazés, as músicas que Marcel Cazés compõe há mais de 40 anos - desde "Já Estou de Volta" e "Adeus!...Adeus!..." sambas-batucadas de 1942, foram reunidas num lp produzido com extremos cuidados [no qual] estiveram presentes os melhores instrumentistas, amigos dos irmãos Cazés e, vocalmente, as presenças de belas vozes como Dalmo Medeiros ("Canção do Amor ao Rio"), Teca Calazans ("Corre, Onda!"), Zezé Gonzaga ("Noturno"), Cláudia Savaget ("Última Batalha"), Joyce e Beto ("Vai Haver Pancadaria", "Adeus!...Adeus!...", "Destino Singular", "Já Estou de Volta"), José Tobias ("Chora Bandolim"), Maria Isabel ("Tudo é o Amor!") e até o próprio Marcel e sua esposa, Conceição, na faixa-título do disco. É um elepê emotivo, que em canções românticas e suaves nos remetem para uma épóca feliz do Rio de Janeiro, na qual Marcel Cazés cresceu e desenvolveu seu amor pela música. Filho de um francês da Marselha, que adorava o Carnaval e de uma mãe pianista - que tocava Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Eduardo Souto - Marcel, carioca da Vila Isabel, ouvindo chorões e seresteiros ao luar, dividindo seu tempo e os estudos, mais tarde substituídos pelo trabalho na antiga Caixa de Crédito Cooperativo, pelo qual se aposentou), não fez carreira profissional na música, mas, em compensação sempre cultivou o hábito das boas serestas, do violão harmonioso - e com isto, ao menos dois de seus filhos seguiram os caminhos profissionais da música. "E assim eu vou vivendo..." é um disco raro em nossos dias. Canções felizes, falando de amor, de praias, toadas e especialmente um "Noturno", fox-canção composto em 1945 e que na voz privilegiada de Zezé Gonzaga, bela e vigorosa aos 60 anos - completados no último dia 3 de setembro - continua em plena forma e poderia fazer um Lp extraordinário - tão emotivo quanto foi o disco produzido por Hermínio Bello de Carvalho na qual ela interpretou canções do grande Valzinho (Norival Carlos Teixeira, 1914-1982). Produção independente, realizada graças ao empenho de Henrique e Beto Cazés - mas que, pela qualidade do trabalho tiveram a colaboração nos arranjos de Maurício Carrilho, Aluísio Didier, Moacyr Santos e Maestro Carioca - este Lp pode ser solicitado a Rua Ladislau Neto, 70/101 - Rio de Janeiro, CPE 20.510.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/10/1986

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